O parágrafo é marcado por um
ligeiro afastamento com relação à margem esquerda da folha e possui extensão
variada: há parágrafos longos e parágrafos curtos. O que determi-na a extensão
do parágrafo é a unidade temática, já que cada ideia exposta na redação deve
corresponder a um parágrafo; por isso você poderá encontrar parágrafos longos e
pará-grafos de uma linha apenas.
As dissertações, normalmente, costumam ser
estruturadas em quatro ou cinco parágrafos (um parágrafo para a introdução,
dois ou três para o desenvolvimento e um para a conclusão).
É claro que esta divisão não é absoluta..
Dependendo do tema proposto, da abordagem que se dê a ele , ela poderá sofrer variações.
Mas é fundamental que você perceba o seguinte:
a divisão da dissertação em parágrafos (cada um correspondendo a a uma
determinada ideia que nele se desenvolve) tem as funções de facilitar, a quem
escreve, estruturar o texto coerentemente, e possibilitar, a quem lê, uma
melhor compreensão do texto em sua totalidade.
Mas o que é propriamente um parágrafo?
Veja o que diz Othon M. Garcia:
“O parágrafo
é uma unidade de composição, constituída por um ou mais um período, em que se
desenvolve determinada ide ia central,
ou nuclear, a que agregam outras, secundárias, intimamente relacionadas pelo
sentido e logicamente decorrentes dela.”
(GARCIA,
Othon M. Comunicação em prosa mods”:
7.
ed. Rio de Janeiro. FGV, 1978. p. 273
Essa definição, evidentemente, não se
aplica a todo tipo de parágrafo: tratase de um modelo de parágrafo, denominado
parágrafo-padrão, que, por ser cultivado por bons escritores modernos, o aluno
poderá (e até deverá) imitar. O parágrafo-padrão apresenta a seguinte
estrutura:
tópico
frasal:
período que contém a ideia central do parágrafo;
desenvolvimento: explanação do tópico
frasal,
e
conclusão.
Nem todos os parágrafos apresentam essa
estrutura (tópico frasal, desenvolvimento, conclusão). Em parágrafos curtos e
naqueles cuja ideia central não apresenta complexidade, a conclusão costuma não
aparecer. O importante é que você treine bastante a construção de parágrafos, procurando
redigir o tópico frasal de forma clara, pois, como vimos, é nele que está
contida a ideia que será desenvolvida.
Poduzindo Texto
A proposta de redação que apresentamos a
seguir foi solicitada em exame vestibular da FUVEST-SP:
O menino é pai do homem
Cresci: e nisso é que a família não
interveio; cresci naturalmente, como crescem as magnólias e os gatos. Talvez os
gatos são menos matreiros, e com certeza, as magnólias são menos inquietas do
que eu era na minha infância.Um poeta dizia que o menino é pai do homem. Se
isto é verdade, vejamos alguns lineamentos do menino.
Desde os cinco anos merecera eu a alcunha
de “menino diabo”; e verdadeiramente não era outra cousa; fui dos mais malignos
do meu tempo,"arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo,
um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negara uma colher do doce de
coco que estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um punhado de
cinza go tacho, e, não satisfeito da travessura, fui dizer a minha mãe que a es-crava
é que estragara o doce “por pirraça”; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio,
um moleque de casa, era meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão,
recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com
uma varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele
obedecia, — algumas vezes gemendo, — mas obedecia, sem dizer palavra, ou,
quando muito, um — “ai, nhonhô!” — ao que eu
retorquia:
— “Cala a boca, besta!” — Esconder os chapéus das visitas, deitar rabos de
papel a pessoas graves, puxar pelo rabicho das cabeleiras, dar beliscões nos
braços das matronas, e outras muitas façanhas deste jaez, eram mostras de um
gênio indócil, mas devo crer que eram também expressões de um espírito robusto,
porque meu pai tinha-me em grande admiração; e se ás vezes me repreendia, à
vista de gente, fazia-o por simples formalidade: em particular dava-me beijos.
Não se conclua daqui que eu levasse todo
o resto da minha vida a quebrar a cabeça
dos outros nem a esconder-lhes os chapéus; mas opiniático, egoísta e algo
contemptor dos homens, isso fui; se não passei O tempo a esconder-lhes os
chapéus, alguma vez lhes puxei pelo rabicho das cabeleiras.
(Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas)
Faça
uma dissertação em que você analise o significado da frase: “O menino
é
pai do homem”.
É
claro que essa divisão não é absoluta. Dependendo do tema proposto, da
Texto
para as questões de 1 a 4.
“No
meio da década de 20, quando o automóvel tinha feito sua aparição com
força
total, caminhar pelas grandes avenidas europeias era sair para ser expulso
da
rua pelo tráfego. 'Foi como se o mundo tivesse subitamente enlouquecido,
dizem
as pessoas quando fazem referência a essa época. O homem sentia-se
diretamente
ameaçado e vulnerável. 'Deixar nossa casa significava que, uma vez
cruzada
a soleira da porta, nós estávamos em perigo e podíamos ser mortos
pelos
carros que passavam." Chocadas e desorientadas, as pessoas comparavam
a
rua de então com a de sua juventude: 'A rua nos pertencia: cantávamos nela,
discutíamos
nela, enquanto os cavalos e veículos passavam suavemente: A rua
era,
portanto, pouco tempo antes, o espaço que acolhia os homens, que lhes
permitia
se moverem à vontade, em um ritmo que podia acolher tanto as discus-
sões
quanto a música; homens, animais e veículos coexistiam pacificamente em
uma
espécie de paraíso urbano. Acontece que esse idílio terminou, as ruas pas-
saram
a pertencer ao tráfego, e o homem sobreviveu a esse tipo de mudança.
Depois
de esquivar-se e lutar contra o tráfego, acabou identificando-se por intei-
ro
com as forças que o estavam pressionando. O homem da rua incorporou-se ao
novo
poder, tornando-se o homem no carro.
A
perspectiva desse novo homem no carro gerou uma nova concepção de rua,
que
passou a orientar os planejamentos urbanos daí por diante. 'Numa rua ver-
dadeiramente
moderna" — diziam, então, os especialistas — 'nada de pessoas,
exceto
as que operam as máquinas; nada de pedestres desprotegidos e
desmotorizados
para retardar o refluxo'.”
1.
(PUCC-SP) Assinale a alternativa correspondente ao tema em torno do qual se organiza
o
discurso acima:
a)
o paraíso urbano e a máquina d) o homem antigo e o moderno
b)
o homem e o espaço urbano e) a modernidade e o poder da máquina
c)
o tráfego no mundo moderno
2.
(PUCC-SP) O texto defende a tese de que:
a)
o homem, quando pressionado, alia-se às forças adversas e incorpora-se a seu
poder
b)
o homem, no passado, conheceu uma espécie de paraíso urbano, mas corrompeu-o
e
dele foi expulso
c)
o mundo moderno só admite pessoas que sabem operar as máquinas com perícia
d)
a utilização do espaço pelo homem depende de sua relação com o mundo
e)
o homem, no mundo moderno, cedeu seu espaço à máquina; por esse motivo, dá
mais
importância a ela do que a si próprio
3.
(PUCC-SP) “O homem da rua incorporou-se ao novo poder. tornando-se o homem no carro.”
Essa
afirmação foi utilizada, no texto, para demonstrar que:
a)
o homem tornou-se moderno quando trocou o andar a pé, na rua, pelo andar de
automóvel
nas grandes avenidas
b)
o homem, aliando-se à máquina, descobriu um novo poder e deu novo ritmo a todos
os
seus atos
c)
a integração perfeita do homem à rua antiga foi abandonada quando ele se
identifi-
cou
por inteiro com a máquina
d)
o carro deu ao homem novas perspectivas de vida, gerando, inclusive, um tipo de
urbanização
que proteje o pedestre
e)
o homem mudou e, em decorrência disso, surgiu uma nova concepção de rua
4.
(PUCC-SP) Observando-se o tipo de composição do texto, conclui-se que ele é:
a)
dissertativo, com elementos narrativos e descritivos
b)
narrativo, com elementos descritivos e dissertativos
c)
descritivo, com exclusão de argumentos
d)
narrativo, com exclusão de descrições
e)
dissertativo, com exclusão de argumentos
5.
(FAZLES-SP) “A vizinhança limpou com benzina suas roupas domingueiras”
(Alcântara
Machado) Indique o termo que denota ambiguidade:
a)
suas c) benzina e) limpou
b)
vizinhança d) com
6.
(UNICAMP-SP) Qual a frase com erro de concordância?
a)
Para o grego antigo a origem de tudo se deu com o Caos.
b)
Do Caos, massa informe, nasceu a Terra, ordenadora e mãe de todos os seres.
c)
Com a Terra tem-se assim o chão, a firmeza de que o homem precisava para seu
equilíbrio.
d)
Ela mesma cria um ser semelhante que a protege: o Céu.
e)
Do Céu Estrelado, em amplexo com a Terra, é que nascerá todos os seres
viventes.
7.
4ITA-SP) Assinale a alternativa em que a pontuação esteja correta.
a)
Ele não virá hoje; não contem, portanto, com ele.
b)
O reitor daquela famosa universidade italiana, chegará aqui amanhã.
c)
São José dos Campos 15 de março, de 1985.
d)
Quero que, assine o contrato.
e)
Qualquer bebida que, contenha álcool, não deve ser tomada por você.
“Nas
questões seguintes, escolha a que mais diretamente se relacione, pelo sentido,
com o vocábulo proposto.
8.
(F.C. Chagas-SP) ataraxia
a)
atrocidade, frieza c) indolência, preguiça e) tranquilidade, apatia
b)
imobilização d) perda de peso
9.
(F.C. Chagas-SP) epitalâmio
a)
canto nupcial c) hino religioso e) sátira
b)
enigma d) inscrição tumular
10.
(F.C. Chagas-SP) erradio
a)
cheio de erros c) errante e) pecaminoso
b)
dogmático d) falível
“1,
(UNICAMP-SP) Substitua a palavra destacada no trecho transcrito abaixo por
outra que garanta o mesmo sentido ao texto (você poderá ainda fazer outras
modificações, se as julgar indispensáveis).
“Se
não chegam a configurar um processo de radicalização verbal e de
alarmismo
deliberado, ainda assim são preocupantes e lamentáveis as declara-
ções
do ministro da Indústria e Comércio, Roberto Cardoso Alves, de que parti-
dos
como o PT eos PCs não deveriam ter existência legal, por não possuírem, na
A
estruturação de um período já foi, com muita propriedade, comparada à
articulação
de um esqueleto com seus vários ossos. Da mesma forma que de uma
articulação
de ossoopinião do ministro, compromisso com a democracia.”
A
estruturação de um período já foi, com muita propriedade, comparada à
articulação
de um esqueleto com seus vários ossos. Da mesma forma que de uma
articulação
de osso
resulta
uma articulação de pensamentos, lembra-nos o prof. Mattoso Câmara.
Como
vimos no capítulo 10, a redação de um período envolve o conhecimen-
to
das relações existentes entre as orações que o formam: a coordenação e a su-
bordinação.
A seguir, aprofundaremos nosso conhecimento desses dois proces-
sos
básicos.
A
COORDENAÇÃO DE IDEIAS
Observe esse período tirado do texto de
Dante Moreira Leite:
“Ele não se veste como nós, a sua fisionomia
pode ser diferente da nossa e não adora nossos deuses.”
Nele, o autor, ao referir-se ao estrangeiro,
expressa três pensamentos: ele (o estrangeiro) não se veste como nós; a
fisionomia do estrangeiro pode ser diferente da nossa; (o estrangeiro) não
adora os nosso deuses.
Nesses três pensamentos expressos através de
orações, não se percebe queo autor tenha dado maior importância a um que a
outro. Eles aparecem encadeados sem que um deles predomine sobre o outro.
Esse efeito é resultante do processo
sintático que o autor utilizou para relacionar as orações: a coordenação.
Na
coordenação, não há dependência sintática: as orações se relacionam pelo sentido
sem que haja entre elas uma hierarquia.
Quando você faz uma descrição, a coordenação
é muito útil para apresentar os detalhes daquilo que você descreve, permitindo
ao leitor uma visão do todo sem que haja predominância de um detalhe sobre
outro. Veja:
Era
alta, tinha cabelos loiros, os olhos eram azuis e costumava usar roupas
brancas.
Na narração, a coordenação nos permite
apresentar a sequência de ações da personagem. É importante que você perceba
que, na coordenação, embora não haja dependência sintática, as orações se
dispõem em uma certa ordem, como no
exemplo
abaixo:
Acordou
bem cedo, vestiu-se rapidamente e saiu para o trabalho.
Veja que, embora independentes, a ordem em
que essas orações coordenadas aparecem no período não pode ser alterada, pois
prejudicaria o sentido da
frase.
A coordenação é muito útil quando queremos
enumerar fatos, ações ou ideias.
Na coordenação, as orações podem vir
relacionadas por conectivos (as conjunções coordenativas), que estabelecem
entre elas dependência semântica.
As orações coordenadas podem indicar as
seguintes idéias:
adição
ou concatenação: Jorge acordou cedo e saiu apressado.
oposição
ou contraste: Saiu apressado, mas não estava preocupado.
alternância:
ora estava preocupado, ora estava distraído.
conclusão:
estava doente, portanto não pôde comparecer.
explicação:
Vá correndo, que já é tarde.
Na dissertação, a coordenação assume
importante valor expressivo principalmente quando argumentamos, pois com
frequência enumeramos, explicamos ou damos ênfase a um contraste. No texto de
abertura encontramos um bom exemplo de concatenação de ideias:
“...na reação ao grupo estranho: uma de
admiração e aceitação, outra de desprezo e recusa.”
Outro tipo de relação muito comum na
argumentação é a de explicação, como nos exemplos abaixo:
“A participação em nosso grupo provoca
sentimentos de segurança e bem-estar, pois supomos entender...”
“E nisso talvez a linguagem desempenhe um
papel fundamental, pois os homens geralmente são incapazes...”
Já na conclusão, como o próprio nome
indica, estabelece-se uma relação conclusiva, via de regra introduzida pela
conjunção portanto.
A
SUBORDINAÇÃO DE IDEIAS
Na
subordinação a relação entre as orações é mais íntima, já que há entre elas uma
relação não só de dependência de sentido, mas também de dependência sintática:
uma oração não sobreviveria sem a outra, o que torna o período composto por
subordinação mais coeso.
Veja o exemplo tirado do texto de abertura:
“Sentimos que aqueles que mais nos
conhecem são também capazes de ignorar o que de melhor trazemos conosco. ”
A relação entre as orações é tão estreita
que cada uma delas não tem sentido algum quando isolada: só fazem sentido
quando tomadas em relação ao todo.
As orações subordinadas são utilizadas
para:
1)
complementar a significação de outra oração (chamada principal):
Era necessário que todos comparecessem à
reunião.
2)
ampliar o sentido de um nome:
Não
encontramos as pessoas que deveriam nos indicar o caminho.
3)
indicar alguma circunstância:
Não
visitamos aquela praia quando lá estivemos.
As orações subordinadas que indicam
circunstâncias são muito úteis para
caracterizar
um fato que está sendo narrado, já que podem indicar diversas circunstâncias de
um mesmo fato. Veja:
enquanto os outros saíam.
(tempo)
onde deveria ficar. (lugar)
Luciana
ficou porque não
quis sair. (causa)
a
fim de não prejudicar os demais. (finalidade)
Em geral, a construção de períodos
pressupõe a ocorrência simultânea dos processos sintáticos de coordenação e de
subordinação; pode-se, por exemplo, utilizar a coordenação para ligar orações
subordinadas, como no exemplo tirado do texto de Dante Moreira Leite:
“Além disso, o local em que nascemos e
crescemos, a paisagem que conhecemos, tudo isso parece constituir um universo
próximo E = go, cujo reencontro é sempre uma alegria e uma consolação”.
Observe que as orações subordinadas que
ampliam a significação do nome estão coordenadas entre si: em que nascemos e crescemos.