Descrever
uma pessoa não p tão simples quanto parece. Vários fatores precisam ser levados
em conta quando nos dispomos a fazê-lo. Entretanto, todo o conjunto de
elementos que compõem o perfil de um ser humano pode ser dividido basicamente
em dois grupos: o das características
físicas e o das características psicológicas.
Entendemos por características físicas a aparência
externa, isto é, tudo o pode ser
observado externamente quando analisamos alguém: a altura, o peso, a cor da
pele, a idade. os cabelos, traços do rosto, a voz e o modo de se vestir(que,
evidentemente, não é componente físico de alguém, mas é um aspecto exterior).
Por outro lado, entendemos por características psicológicas tudo o que
se associa ao comportamento da pessoa, ou seja, a personalidade, o
temperamento, o caráter, as preferências (referentes a certas atividades
esportivas ou artísticas), as inclinações (aptidões para determinadas tarefas),
a postura em relação a si mesma e aos outros e os objetivos (metas profissionais
ou pessoais a serem alcançadas no futuro). É, enfim, aquilo que caracteriza seu
modo de agir ou ser.
Uma boa descrição deve levar em conta se
não todos, pelo menos a maioria dos as- pectos físicos e também dos
psicológicos. Devemos optar por aqueles que mais nos im- pressionam e mais
fielmente podem fornecer um retrato da pessoa, de modo que o leitor do nosso
texto possa visualizá-la ou reconhecê-la.
A esta altura, você pode estar pensando em
como organizar uma composição dispon- do adequadamente esse número bastante
grande de elementos. Vamos no deter agora no esquema a ser utilizado para a
descrição de pessoas, que tem por objetivo auxiliá-lo a organizar suas ideias –
assim, ele é um ponto de partida para a sua redação.
Esse
esquema comporta duas variações no que se refere à ordem de apresentação das características
físicas e psicológicas do retratado. A seguir, passaremos a detalhar essas
possibilidades.
Esquema de descrição de pessoas - variação
1
Título
1º parágrafo
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Primeira impressão ou abordagem de qualquer aspecto de
caráter geral.
|
Introdução
|
2º parágrafo
|
Características físicas: altura, peso, cor
da pele, idade, cabelos,
traços do rosto (olhos, nariz, boca), voz, vestimenta,
|
Desenvolvimento
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3º parágrafo
|
Características psicológicas: personalidade, temperamento, caráter, preferências, inclinações,
postura, objetivos.
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Desenvolvimento
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4º parágrafo
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Retomada de outro aspecto de caráter geral.
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Conclusão
|
Vamos detalhar
esse esquema. No primeiro parágrafo, ou seja, na Introdução, você deve fornecer uma ideia geral da pessoa a ser
descrita. Assim, evite, nesse momento, a referência a pormenores pouco
significativos. Não seria conveniente você começar sua descrição com uma frase
do tipo: "Ele tem uma pinta na face esquerda". Isso tornaria sua
redação bastante inadequada. Por isso, procure começar por um aspecto capaz de
apresentar o ser descrito como um todo. Por exemplo: "Ele parece ser uma
pessoa simpática, que sempre faz amigos com facilidade". Esta ou outra
afirmação da mesma natureza é o que denominamos aspecto de caráter geral. Um
outro exemplo, deste procedimento seria começar a redação dizendo qual foi a
primeira impressão que lhe causou essa pessoa, quando você a conheceu ..
No início do
segundo parágrafo, começando, portanto, o Desenvolvimento,
você apon-
tará detalhadamente as características físicas do indivíduo.
Essas características devem ser mencionadas segundo uma determinada ordem.
Parece-nos adequado que o sentido da descrição seja de cima para baixo, uma vez que, em geral, observamos inicialmente
o que está à altura de nossos olhos, ou seja, o rosto de alguém. Não teria cabimento
começar o segundo parágrafo com uma frase como esta:” Seu pé era um
tanto grande".
Abordando as características físicas, falaríamos inicialmente da altura e do
peso. Como não se trata de uma descrição técnica, não há necessidade de
especificar dimen- sões em metros, centímetros ou gramas. Bastam referências
vagas, como "grande esta- tura" ... nem gordo nem magro" e
outras expressões semelhantes.
É bom observarmos também que, em
se tratando de certos elementos como cabelos e olhos, seria bom que houvesse
uma certa riqueza de detalhes. Dizer que alguém tem cabelos castanhos é muito
vago, pois grande parte da população se enquadra nesta afir- mativa. Convém
relatar outros aspectos além da cor. Podemos falar de seu comprimento, se são
ondulados, lisos ou crespos, de sua cor e brilho, da maneira como estão
cortados e penteados, se há franja, se o corte é arredondado, se estão
repartidos. Na descrição dos olhos, seria interessante mencionar, além da cor,
seu formato (arredondados, oblíquos, amendoados, etc.) e, dependendo do caso,
outros detalhes complementares, como os cílios e as sobrancelhas, os quais
contribuem para a expressividade do rosto.
Os outros elementos que compõem
os traços do rosto não precisam ser descritos com tanto detalhes. São
suficientes algumas poucas referências.
Em seguida fala-se da voz. Em
geral, o que se comenta neste item (profundamente relacionado com o aspecto
psicológico, assim como alguns outros) diz respeito ao tom, entoação e volume.
Explicando melhor, se a pessoa fala rapidamente ou de modo mais pausado, em um
tom alto ou mais baixo e se demonstra um sotaque característico de qualquer
região.
Segue-se então a análise das
roupas, ou seja, do modo como a pessoa se veste. Pode-
mos comentar se costuma usar roupas esportivas ou sociais, fazendo
referências a deta- lhes mais significativos dos trajes. É bom lembrar que o
modo como alguém se veste costuma estar intimamente ligado a certos elementos
das características psicológicas. Às
vezes, através das roupas, podemos fazer uma vaga ideia do que a pessoa pensa
ou de como se comporta.
Abordemos agora as características psicológicas. Por vezes
torna-se difícil distin- guir alguns itens mencionados no esquema; tentemos
diferenciá-las.
Analisando a personalidade de alguém, você fará comentários sobre a maneira como
defende suas ideias: com firmeza ou deixando-se levar facilmente pelas opiniões
dos outros. Dirá o quanto tem ideias formadas no que se refere a certos
assuntos ou não. Convém mencionar também se demonstra vocação para exercer a
liderança do grupo ou revela um tipo de comportamento mais passivo, que prefere
acompanhar sugestões ou obedecer a ordens.
Quanto ao temperamento, observamos se o indivíduo é extrovertido (expande
suas emoções, demonstra seus sentimentos, expõe claramente suas ideias) ou
introvertido (calado, dificilmente deixa transparecer suas reações ou
sentimentos diante dos fatos e não tem por hábito emitir suas ideias,
principalmente se não for solicitado). Ainda neste item analisamos se a pessoa
parece ser alegre ou triste, entusiasmada ou derrotista, tranquila ou
facilmente irritável, otimista ou pessimista, etc. Podemos tentar avaliar também
o grau de sensibilidade que apresenta: se parece excessivamente sentimental ou
se demonstra certa frieza.
O caráter trata, por sua vez, das qualidades ou defeitos que uma
pessoa possa apre- sentar. Aspectos como estes devem ser levados em conta:
honestidade, sinceridade, leal-
dade e preocupação com seus semelhantes, por exemplo.
É interessante também que se
fale das preferências da pessoa
descrita em vário campos: música ou artes em geral, esportes, formas de lazer,
leituras. etc.
Sobre suas
inclinações, falaríamos a respeito de algumas aptidões facilmente obser- váveis.
Certas pessoas demonstram grande interesse e vocação para atividades artísticas;
outras gostam de executar trabalhos manuais; há as que apresentam extrema
facilidade de comunicação. e assim por diante. É. dessa forma. um pequeno
relato sobre a vocação que cada um tem para exercer determinada atividade.
Ao próximo
item damos o nome de postura.
Explicamos anteriormente que é o posi- cionamento do indivíduo em relação a si
mesmo e aos outros. Isso tem direta relação com o que se poderia chamar de visão de mundo ou ideologia. Na abordagem deste item, podemos captar alguns aspectos
básicos que compõem o conjunto de suas ideias sobre a vida. Então, tentaremos
perceber como ele se vê. enquanto ser que faz parte de uma comunidade. e como
entende que deva ser sua atuação junto à sociedade a que pertence. É importante
notar como encara os problemas econômicos, sociais e políticos que o envolvem e
o que pensa das questões mais importantes que preocupam o seu meio.
O último item
mencionado, dentre as características psicológicas, é objetivos. Aqui diremos o que a pessoa espera alcançar na vida: exercer
algum cargo em especial, ter uma profissão específica, viajar para determinado
lugar ou qualquer outro sonho que possa ter.
Por fim. a Conclusão.
Neste último parágrafo não convém terminar a descrição com um detalhe
insignificante, mas com uma afirmação de caráter geral, como foi feito na Introdução. Podemos sugerir que termine a redação falando sobre a maneira como a pessoa descrita costuma
relacionar-se com os outros; você pode também afirmar algo sobre sua simpatia e
comunicabilidade. Enfim, faça qualquer observação final, pro- curando
referir-se à pessoa como um todo.
OBSERVAÇÕES:
1. Depois dessa
longa explicação. você até poderá pensar que sua redação será imensa. Não é bem
assim. Na explicação levantamos uma série de possibilidades, mas você irá
selecionar apenas os aspectos mais significativos para a caracterização da pessoa
que estiver sendo descrita. Isso quer dizer que você poderá deixar de analisar
certos itens (em especial das características
psicológicas) sobre os quais não houver dados ao seu alcance. Assim sendo, cabe
a você determinar a extensão de sua descrição, com base nas possibilidades de
análise que levantamos.
2.Na apreensão das características do ser descrito, você
pode se utilizar. em certos momentos, de outros sentidos além da visão. como a
audição, tato, paladar e olfato, Assim, teria uma análise mais completa do que
a simples observação do que se pode ver, enriquecendo seu texto. Embora a visão
seja o sentido através do qual captamos praticamente todas as características
físicas. podemos também nos valer às vezes dos outros quatro sentidos. Veja
alguns exemplos: audição: "voz melodiosa"; tato: "pele
macia"; olfato: "perfume agradável de seus cabelos".
3.O número de parágrafos do Desenvolvimento pode sei
aumentado de dois para três ou quatro, dependendo do quanto se tenha a dizer.
4.A ordem dos elementos pode sofrer alterações durante a
elaboração do que você está redigindo. Não é necessário seguir à risca a sequência
indicada no esquema.
Veja agora como
podemos, com o auxílio do esquema de descrição de pessoas - variação 1, elaborar uma composição.
Tancredo: o político da esperança
Qualquer pessoa que o visse, quer pessoalmente ou através dos meios de
comunicação, era logo levada a sentir que dele emanava uma serenidade e
autoconfiança próprias daqueles que vivem com sabedoria e dignidade.
De
baixa estatura, magro, calvo, tinha a idade de um pai que cada pessoa
gostaria de ter e de quem a nação tanto precisava naquele momento de
desamparo. Seus olhos oblíquos e castanhos transmitiam confiança. O nariz
levemente arrebitado e os lábios finos, em meio ao rosto arredondado,
traçavam o perfil de alguém que
sentíamos ter conhecido durante a vida inteira. Sua voz era doce e ao mesmo
tempo dura. Falava e vestia-se como um estadista. Era um estadista.
Sua
característica mais marcante foi, sem dúvida, a ponderação na análise dos
problemas políticos e socioeconômicos. Respeitado em todo o mundo pela
condição de líder preocupado com o destino das futuras gerações, de
conhecedor profundo das questões deste país, colocava sempre o espírito
comunitário acima dos interesses individuais. Seu grande sonho foi
provavelmente o de pôr toda a sua capacidade a serviço da nação brasileira,
tão ameaçada pelas adversidades econômicas e tão abandonada, como sempre
fora, por aqueles que se diziam seus representantes.
Verdadeiro
exemplo de homem público, ficará para sempre na memória dos seus
contemporâneos e no registro histórico dos grandes vultos nacionais.
|
OBSERVAÇÃO:
Note que, embora
o esquema utilizado nesta descrição separe os aspectos físicos e psicológicos
em parágrafos diferentes, nada impede que você faça algumas poucas refe-rências
psicológicas no segundo parágrafo. que trata das características físicas. No entanto,
pela leitura dessa redação, verificamos que no segundo parágrafo predominam os
elementos referentes às características físicas. enquanto o terceiro parágrafo
trata das características psicológicas da pessoa descrita, conforme nos sugere
o esquema de descrição.
Existe,
entretanto, uma outra forma de organizarmos' nossas ideias quando queremos
descrever uma pessoa. Podemos apresentar as características físicas e as
psicológicas ao mesmo tempo. Este procedimento parece-nos bastante adequado,
uma vez que vários dos elementos pertencentes às características físicas podem
ser facilmente relacionados a certas características psicológicas. Veja alguns
exemplos de como podemos fazer esta associação: os olhos tendem a refletir
emoções; a fisionomia. como um todo, é facilmente associada a um traço de
personalidade; e as roupas em muito e relacionam com as condições
socioeconômicas e até com a própria ideologia do ser descrito.
Esse procedimento
cria, certamente, uma integração entre o que se percebe externa- mente e o que
o interior da pessoa descrita reflete, produzindo um efeito harmonioso na
descrição.
Para compor uma redação desse tipo,
precisaremos orientar-nos por um outro esquema:
Esquema de descrição de pessoas - variação
2
Título
1º parágrafo
|
Primeira impressão ou abordagem de .qualquer aspecto de caráter geral.
|
Introdução
|
2º parágrafo
|
Análise
das características físicas,
associadas às características psicológicas (1ª parte).
|
Desenvolvimento
|
3º parágrafo
|
Análise
das características físicas, associadas
às parágrafo características
psicológicas (2ª parte).
|
Desenvolvimento
|
4º parágrafo
|
Retomada de qualquer
outro aspecto de caráter geral.
|
Conclusão
|
OBSERVAÇÃO:
Lembramos novamente que o Desenvolvimento,
apresentado no esquema em dois parágrafos, pode ser ampliado para três ou
quatro, dependendo de sua conveniência.
Leia agora um exemplo de redação elaborada
com o auxílio do esquema de descrição de pessoas - variação 2.
Maria,
Maria
. .
Quando a vi pela primeira vez
praticamente nem a vi. As pessoas, em sua maioria, não costumam prestar muita
atenção às varredoras de rua. Mas Maria parece não se importar com isso,
porque também não presta muita atenção às pessoas que passam por ela, uma vez
que está sempre olhando para baixo, à procura do que varrer.
É baixa e magra, como convém a alguém
que sempre comeu muito pouco, e sua pele tem a coloração típica dos que tomam
sol, chuva, mormaço, ou qualquer coisa que não se possa escolher ou evitar.
Seus cabelos crespos e negros parecem encolher-se ainda mais, para não
sofrerem a ação do vento impregnado de poeira e poluição. Olhos amendoados,
também negros, sem brilho: inexpressivos. Com certeza refletem a sensação de
que é inútil expressar-se, seja para reclamar de qualquer coisa. Mas são
olhos duros, de quem protesta, pelo silêncio, contra a dor ou simplesmente
contra o peso da rotina fatigante, cumprida à risca, para ninguém achar
defeito. O nariz levemente achatado e os lábios grossos são a confirmação dos
traços da raça. Boca fechada apesar do muito que teria a dizer. Fechada, como
se recomenda aos que desejam manter o emprego, ainda que tão árduo.
Maria tem habilidades manuais. Quando
criança, queria ser costureira de lindos vestidos. Agora quer sobreviver de
maneira honrada. Seu uniforme de funcionária da limpeza pública em nada se
parece com os vestidos do seu sonho de menina. Ela deixa agora os sonhos para
seus dois filhos, porque é a única coisa que pode deixar como herança. Isso é
o exemplo da sua luta, da esperança
que tira do nada.
Exilada em sua própria cidade, pelo
tempo que lhe toma o trabalho, quase não vê a família, mas persiste e acima
de tudo acredita, pois "quem traz na pele essa marca possui a estranha
mania de ter fé na vida".
|
Encerrando as considerações sobre como se
elabora uma descrição, temos dois co-
mentários
a fazer.
Perceba que a pessoa que faz uma descrição
pode ou não incluir-se em alguns mo- . mentos. No primeiro modelo de descrição
(sobre Tancredo Neves), em nenhum momento houve essa inclusão. Entretanto, na
segunda descrição, vemos que a pessoa que redige aparece no texto, na seguinte
frase: "Quando a vi pela primeira vez ... " Conclui-se, assim, que,
ao fazer sua descrição, você pode ou não colocar-se em cena, em alguns
momentos, dependendo de sua vontade ou da oportunidade de fazê-lo.
Para finalizar. saiba que nada o impede de
acrescentar outros elementos referentes a características físicas ou
psicológicas, afora os citados no esquema , bem como fugir das orientações
fornecidas. Elas apenas visam a ajudá-lo na ordenação de pensamento e. consequentemente.
de seu trabalho. Você, por exemplo. pode iniciar sua descrição por um elemento
que provoque impacto, mas deve ser criativo o suficiente para manter o
interesse no decorrer da composição. Enfim, o que importa é o resultado final:
uma redação coerente, criativa e interessante.
EXERCÍCIOS
1.Escolha
um dos colegas de sua classe (de preferência que você conheça bem) e des- creva-o
sem mencionar seu nome. Utilize, se desejar, um dos esquemas de descrição que
lhe parecer mais adequado. Leia a composição para a classe e veja se os colegas
conseguem descobrir quem foi descrito por você.
2.Descreva
a si próprio. Sugerimos que utilize o esquema de descrição de pessoas –
variação 1. Veja uma ideia interessante para o início: comece explicando qual a
impressão que você pensa causar nas pessoas que não o conhecem quando elas o veem
pela pri- meira vez.
3.Descreva
uma personalidade do mundo artístico, esportivo, político. Baseie-se, se desejar, no esquema
de descrição de pessoas - variação 2. Crie um título interessante.
SUGESTÕES:
Escolha
alguns dos itens abaixo e faça uma composição. Descreva:
1) um amigo; 6) o presidente da República;
2) seu pai; 7) um professor;
3) o governador; 8) seu irmão;
4) seu cantor predileto; 9) uma pessoa que você admira
muito;
5) alguém criado por sua imaginação;
10) um grande cientista.