TIPOS DE DISCURSO
Discurso direto e
discurso indireto
Agora -você aprenderá como introduzir o
discurso direto (registro da fala dos personagens) em meio a uma narração, bem
como transformá-lo em discurso indireto.
O primeiro passo é conseguir diferenciar
o discurso indireto do discurso direto.
Veja estes exemplos:
Discurso indireto
O rapaz, depois de estacionar seu automóvel em um
pequeno posto de gasolina daquela, perguntou a um funcionário onde ficava a
cidade mais. Ele respondeu que havia um vilarejo a dez quilômetros dali.
Discurso direto
O rapaz, depois de estacionar seu automóvel
em um pequeno posto de gasolina daquela rodovia, perguntou:
-
Onde fica a cidade mais próxima?
-
Há vilarejo a dez quilómetros daqui - respondeu o funcionário.
Observe o exemplo de discurso direto.
Antes do registro da fala do personagem existe um travessão (-) que inicia um novo parágrafo. No último período desse
texto você notou que há também um outro travessão, colocado antes da palavra respondeu; ele serve
para
separar a fala do personagem da explicação do narrador ("respondeu o
funcionário”).
Quando o narrador quer informar qual o personagem que
fala, o texto pode ser organizado de duas maneiras:
1)
Primeiro explica-se quem vai falar. A frase termina por dois-pontos (:).
Abre-se então um novo parágrafo para nele colocar o travessão, seguido da fala
do personagem.
Exemplo:
O funcionário respondeu:
-
Há um vilarejo a dez quilômetros daqui.
2)
Em primeiro lugar, registra-se, depois de posto o travessão, a fala do
personagem . Na mesma linha coloca-se um outro travessão e, em seguida, a frase
pela qual o narrador explica quem está dizendo aquilo (iniciada por letra
minúscula).
Exemplo:
-
Há um vilarejo a dez quilômetros daqui – respondeu o funcionário
OBERVAÇÃO:
Há verbos que se caracterizam por
introduzir a fala do personagem, ou mesmo explicar quem eStá fazendo a
afirmação registrada depois do travessão. Denominam-se verbos de elocução e alguns exemplos deles são: falar, perguntar, responder, indagar, replicar. argumentar, pedir,
implorar, comentar, afirmar e muitos outros.
Vejamos agora um exemplo de como podemos
introduzir o discurso direto em uma nar- raçâo.
Leia o texto abaixo, onde não aparece a
fala dos personagens. É o narrador que con-
ta
os acontecimentos.
O primeiro dia no cursinho
Maria Helena acabava de matricular-se
em um famoso cursinho, desses que preparam o alunos para os exames
vestibulares.
Logo no primeiro dia de aula, depois
de subir os seis lances de escadas que a conduziam a sua classe de duzentos e
quarenta alunos, entrou na sala espantada com a quantidade de colegas.
Assistiu às três primeiras aulas (ou conferências) que os professores deram
com o auxílio de microfones.
Quando bateu o sinal do Intervalo,
tentou encontrar a lanchonete que ficava no térreo, Maria Helena então
começou a descer os seis lances de escadas, acompanhada por uma quantidade
incontável de pessoas, ou seja, os colegas das outras quinze salas de aula
existentes em cada andar. Sentia-se como uma torcedora saindo do Morumbi
depois de um clássico.
Após algum empo, chegou ao térreo e
lá avistou uma aglomeração comparável ao público que comparecia aos comícios
das “Diretas”. Olhou para todos os lados e não viu lanchonete alguma.
Pouco tempo depois, descobriu que a
lanchonete era lá mesmo, mas não dava para ver a caixa registradora, situada
a alguns metros dela, de tanta gente que havia. Ela já estava na fila da
caixa e não sabia.
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Leia agora a mesma redação, depois de
introduzidos alguns trechos de discurso direto.
O primeiro dia no cursinho
Maria Helena acabava de matricular-se
em um famoso cursinho, desses que preparam o alunos para os exames
vestibulares.
Logo no primeiro dia de aula, depois de
subir os seis lances de escadas que a conduziam a sua classe de duzentos e
quarenta alunos, entrou na sala espantada com a quantidade de colegas.
Assistiu às três primeiras aulas (ou conferências) que os professores deram
com o auxílio de microfones.
Quando bateu o sinal do intervalo, Maria
Helena perguntou a um colega de
classe:
- Você, por acaso, sabe onde fica a
lanchonete?
- Fica no térreo - respondeu-lhe o
colega gentilmente.
Maria Helena então começou a descer os seis
lances de escadas, acompanhada por uma quantidade incontável de pessoas, ou
seja, os colegas das outras quinze salas de aula existentes em cada andar.
Sentia-se como uma torcedora saindo do Morumbi depois de um clássico.
Após algum empo, chegou ao térreo e lá
avistou uma aglomeração comparável ao público que comparecia aos comícios das
“Diretas”. Olhou para todos os lados e não viu lanchonete alguma.
- Por favor, você sabe onde fica a
lanchonete? Disseram que ficava no térreo - perguntou Maria Helena para uma
moça que estava a seu lado.
- Mas você já está na lanchonete!
Descobriu então que estava no lugar
procurado, mas não dava para ver a caixa registradora, situada a alguns
metros dela, de tanta gente que havia. Ela já estava na fila da caixa e não
sabia.
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A transformação do
discurso direto em indireto e vice-versa
Você já aprendeu a identificar os dois
tipos de discurso; notou que eles não são re- gistrados do mesmo modo. Vamos
agora sistematizar as diferenças que pudemos perce- ber entre eles.
Discurso direto
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Discurso indireto
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. verbos no presente do indicativo (fica,há)
. pontuação característica (travessão,
dois pontos)
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.verbos no pretérito imperfeito do indicativo (ficava,
havia)
.ausência de pontuação característica
|
Portanto, o primeiro passo para se
transformar um tipo de discurso em outro consiste em efetuar as modificações
mencionadas, ou seja, alterar o tempo dos verbos e utilizar a pontuação
adequada; Entretanto, restam ainda alguns detalhes. Vamos a eles.
Tempos verbais
No exemplo apresentado de discurso direto,
os personagens utilizavam o verbo no presente do indicativo. E se eles
estivessem se expressando no pretérito ou em outro tempo verbal? Siga, na
tabela da página seguinte, as correlações entre alguns tempos verbais e os
tipos de discurso.
Discurso direto
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Discurso indireto
|
. presente do indicativo:
-
Tenho pressa - disse o rapaz.
. pretérito perfeito do indicativo:
-
Presenciei toda a cena – declarou o
jovem.
. imperativo:
-
Cala-te – ordenou o senhor a seu
vassalo.
. futuro do presente do indicativo:
-
Farei o possível - disse o moço.
|
. pretérito imperfeito do indicativo:
O
rapaz disse que tinha pressa.
. pretérito mais-que-perfeito simples ou composto:
O
jovem declarou que presenciara (tinha
presenciado) toda a cena.
. pretérito imperfeito do subjuntivo:
O
senhor ordenou a seu vassal que ele se calasse.
. futuro do pretérito do indicativo:
O
moço disse que faria o possível.
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Não vamos relacionar todos os tempos de
verbos e suas modificações. Acreditamos que basta uma observação de caráter
geral: ao transformar o discurso direto em indireto, você estará transcrevendo
algo que alguém já disse; portanto, no discurso indireto, o tempo será sempre
passado em relação ao discurso direto. O mecanismo é basicamente o mesmo para
todos os casos. Preste atenção neste último exemplo:
Discurso direto
- Quero
que você me siga - disse Pedro.
(presente do indicativo, presente do subjuntivo)
-
Se eu estiver disposta, eu o farei - replicou Paula. (futuro do
subjuntivo, futuro do presente do indicativo)
Discurso indireto
Pedro disse a Paula que queria que ela o seguisse. (pretérito imperfeito do indicativo, pretérito imperfeito
do subjuntivo) Paula replicou que, se estivesse
disposta, ela o faria. (pretérito
imperfeito do subjuntivo, futuro do pretérito do indicativo)
Pronomes e advérbios
Outras classes de palavras, como os
pronomes e alguns advérbios, podem igualmen-te requerer alterações. Observe o
exemplo abaixo:
Discurso direto
- Venha
cá, minha filha - disse a mãe, impaciente.
- Estarei
aí daqui a cinco minutos.
Discurso indireto
A mãe, impaciente, pediu a sua filha que fosse até lá. Ela respondeu que estaria lá dali
a cinco minutos.
Discurso direto
-
Onde estão os meus ingressos
para o espetáculo de patinação? – perguntou Pedro.
- Estavam aqui
ainda neste instante! - replicou
Maria.
Discurso indireto
Pedro perguntou a Maria onde estavam os seus ingressos para o espetáculo de
patinação. Ela replicou que eles estavam ali
ainda naquele instante.
EXERCÍCIOS
1. Agora é a sua vez.
Com base nas informações fornecidas, transforme o discurso direto em indireto e
vice-versa, conforme o caso apresentado:
a
- Hoje pretendo viajar - afirmou a vendedora de cosméticos.
- Nesta cidade - afirmou sua irmã - as
vendas estão cada vez mais difíceis.
b
- O médico explicou à senhora que ela precisaria ter paciência. Ela respondeu
ao doutor que sabia que o caso era grave, pois haviam lhe contado tudo sobre o estado
clínico de seu marido.
c
- Neste momento estou me arrumando para ir até aí. Quero jogar basquete - disse
o professor de Educação Física, pelo telefone.
- Quando você chegar, procure-me - pediu seu
amigo.
d
- O poeta, visivelmente emocionado, falou que havia três anos ele estivera
naquela mesma casa e tinha encontrado aquelas pessoas pela última vez.
2. Transcreva em seu
caderno todas as frases do texto que registrarem a fala dos personagens:
Depois de percorrerem mais de vinte e cinco
lojas de sapatos, Sandra pergunta a uma de suas primas:
- Heloísa, será que você não consegue
mesmo encontrar um par de sapatos que lhe agrade?
- Tenho a impressão de que vou achá-Ia
naquela loja da esquina - respondeu a moça.
- Os meus pés já estão em carne viva -
reclamou Márcia. Sandra, bastante contrariada, ameaçou:
- Ou você compra qualquer um mesmo na
loja da esquina, ou eu vou para casa. Já descemos a rua inteira. Estamos
exaustas!
- Acho que as vinte lojas a que fomos não
conseguem ter em seus estoques um sapato à altura do gosto requintado de nossa
prima – ironizou Márcia.
- É melhor mesmo desistir. Vocês não têm
paciência. Para fazer compras é preciso ter disposição - comentou Heloísa.
Márcia, incomodada por ter andado
inutilmente por mais de três horas, falou:
- Querida priminha, nas suas próximas
compras, em vez de nos convidar, peça a companhia de uma equipe de atletismo.
- Sim, praticantes de ginástica olímpica
ou mesmo especialistas em salto triplo -
emendou Sandra.
Neste exato momento, Heloísa arregalou
seus olhos e soltou um grito de surpresa:
- Achei! Era aquele mesmo que eu queria!
Ele estava ali o tempo todo – gritava ela, dando pulinhos de alegria e correndo
em direção a uma loja que ficava do outro lado da rua.
3.Copie todo o texto
do exercício anterior de tal modo que não apareça, em nenhum momento, o
discurso direto. Em outras palavras, copie essa redação transformando todos os trechos
de discurso direto em discurso indireto.
4. Reescreva a
narração abaixo, incluindo alguns trechos de discurso direto:
Um ato involuntário .
Após assistir às aulas do cursinho, em seu primeiro
dia de aula, Maria Helena dirigiu-se ao ponto de ônibus.
Em volta do ponto havia dezenas de
pessoas, alunos com seu material escolar na mão, à espera dos transportes
coletivos que passavam por aquela imensa avenida. Aproximava-se o seu ônibus.
Ao avistá-lo, notou que vinha superlotado e decidiu esperar por um outro
veículo da mesma linha. Ele certamente passaria cinco minutos depois.
Ela estava no ponto, cercada por
inúmeras pessoas, e não sabia que a maioria delas iria entrar nesse ônibus
abarrotado. De repente, quando o veículo parou, todos correram em direção à
porta, carregando junto Maria Helena. Ela, sem querer, impulsionada pelos
outros que a circundavam, subiu a escadinha do ônibus, contra a sua vontade,
tal o número de pessoas que a comprimiam.
Já dentro do veículo, ouviu a inútil
solicitação do cobrador para que as pessoas dessem um passo à frente. Não
havia para onde ir, nem mesmo como se mexer, devido à superlotação.
|
OBSERVAÇÃO:
Sugerimos a introdução, após o primeiro
parágrafo, de uma conversa entre Maria Helena e uma outra pessoa que também
estivesse no ponto de ônibus. Também é possí- vel criar um diálogo entre um dos
passageiros e o cobrador. Além dessas sugestões, você pode imaginar qualquer
outro diálogo relacionado com a história narrada. Empenhe-se para fazer o
exercício solicitado da melhor forma possível.
NÍVEIS DE LINGUAGEM
Vamos falar agora sobre os tipos de
linguagem que você pode utilizar em suas narrações.
Como você já deve ter ouvido falar, existem
basicamente dois níveis de linguagem: linguagem
formal e a linguagem coloquial.
Entendemos por linguagem formal a língua culta, que se caracteriza pela correção gramatical,
ausência de gírias ou termos regionais, riqueza de vocabulário e frases bem e- laboradas.
A linguagem coloquial, por sua vez, é
aquela que as pessoas utilizam no dia-a-dia, conversando informalmente com
amigos, parentes e colegas. É a linguagem descontraí- da. que dispensa
formalidades e aceita gírias, diminutivos afetivos e palavras de cunho regional.
A narração, a nosso ver, pode comportar os
dois níveis de linguagem. Recomendamos-
lhe
que utilize a linguagem formal nas frases do narrador e a linguagem coloquial
no registro da fala de alguns personagens. Expliquemos melhor: se você for
registrar, no dis- curso direto, a fala de um sertanejo, poderá utilizar
palavras ou expressões típicas do linguajar de sua região, para dar um cunho de
veracidade à composição; se a conversa estiver sendo travada entre dois
adolescentes, cabe a introdução de algumas gírias. Dessa forma, a redação
torna-se mais convincente, na medida em que cada personagem é apresentado com o
registro de fala que normalmente o caracteriza. Pareceria um tanto estranho
dois personagens semianalfabetos se expressando em uma linguagem semelhante à
de Rui Barbosa.
Isso não significa, porém, que o discurso
direto deva sempre estar relacionado com a linguagem coloquial. Pelo contrário,
em se tratando de personagens cultos (ou mesmo razoavelmente instruídos), você
deve utilizar a linguagem formal no registro de suas falas.
OBSERVAÇÃO:
Fique atento às solicitações que possam
ser feitas nas provas de redação que vier a realizar. Caso se peça para elaborar
uma narração utilizando a linguagem formal, este tipo de linguagem deverá
aparecer em toda a composição, independentemente de quem sejam os personagens
envolvidos nos trechos do discurso direto.
Veja, nestes pequenos trechos a seguir,
como os dois tipos de linguagem podem apa- recer no discurso direto. Lembre-se
de que o narrador sempre se utiliza da linguagem formal.
Linguagem coloquial
Os dois amigos se encontraram no pátio do
colégio, na hora do intervalo, e Marcos perguntou:
- Como é que é, Zé? Tá a fim de dar uns
giros por aí depois da aUL a?
- Normal! A gente pode chamar o Nandinho
e ir pra uma lanchonete - respondeu José bastante animado.
- É isso aí. Deixa eu ir me mandando, que
o sinal já tocou – falou Marcos apertando o passo.
Linguagem formal
No corredor de uma universidade, um
eminente professor de Direito Penal encontratra um ex-aluno, agora seu colega.
O professor diz-lhe:
_ Que prazer encontrá-lo depois de tanto tempo!
- Como está, professor? É bom revê-lo - sorriu
o ex-aluno emocionado. O senhor nem nem
pode imaginar o quanto me foram úteis os conhecimentos que adquiri em suas
aulas.
-
Você sempre foi um bom aluno. Tinha a certeza de que se tornaria um advogado
notável.
EXERCÍCIOS
1.Elabore
uma narração subjetiva, com narrador em 1ª pessoa, contando um fato ocorrido em
São Paulo, em um dia de paralisação do transporte coletivo. Utilize discurso
direto e crie um título interessante.
2.Faça uma narração objetiva, com narrador em 3ª pessoa, contando um incidente ocorrido
no pronto-socorro de um imenso hospital. Utilize discurso direto. Crie um título
adequado. Nesta redação, procure usar unicamente a linguagem formal.
OBSERVAÇÃO:
Caso você queira treinar mais um pouco,
consulte a lista de sugestões que consta da postagem anterior e escolha alguns
assuntos. Baseando-se neles, redija narrações em que
apareçam
os dois tipos de discurso mencionados.
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