Tipos de narrador
Conforme definimos no capítulo anterior,
narrar é contar um ou mais fatos que ocorre-
ram
com determinados personagens, em local e tempo definidos. Em outras palavras, écontar
uma história, que pode ser real ou imaginária.
Quando você vai redigir uma história, a
primeira decisão que deve tomar é se você
Vai
ou não fazer parte da narrativa. Tanto é possível contar uma história que
ocorreu
com
outras pessoas quanto narrar fatos acontecidos com você. Essa decisão
determina-
rá
o tipo de narrador a ser utilizado em sua composição. Este pode ser,
basicamente,
de dois tipos:
1)Narrador em 1ª
pessoa:
é aquele que participa da ação, ou seja, que se inclui na
narrativa.
Trata-se do narrador-personagem.
Exemplo:
Estava andando pela rua quando de repente
tropecei em um pacote embrulhado em
jornais. Peguei-o vagarosamente, abri-o e vi, surpreso, que lá havia uma grande quantia em dinheiro.
2)Narrador em 3ª
pessoa:
é aquele que não participa da ação, ou seja, não se inclui na narrativa. Temos
então o narrador-observador.
Exemplo:
Jo
estava andando pela rua quando de repente tropeçou em um pacote
embrulhado
em jornais. Pegou-o vagarosamente, abriu-o e viu, surpreso, que lá havia uma
grande quantia em dinheiro.
Em
textos que apresentam o narrador em 1ª pessoa, ele não precisa ser necessaria- mente
o personagem principal; pode ser somente alguém que, estando no local dos acon-
Tecimentos,
presenciou-os.
Exemplo:
Estava
parado no ponto de ônibus, quando vi, a meu lado, um rapaz que caminhava
lentamente pela rua. Ele tropeçou em um pacote embrulhado embrulhado em jornais
Observei que ele o pegou com todo o cuidado, abriu-o e viu_ que lá havia uma
grande quantia em dinheiro.
Elementos da narração
Depois de escolher o tipo de narrador que
você vai utilizar, é necessário ainda conhe-
cer
os elementos básicos de qualquer narração.
Todo texto narrativo conta um FATO que se passa
em determinado TEMPO e LUGAR. A narração só existe na medida em que há ação; esta
ação é praticada pelos PERSONAGENS.
Um fato, em geral, acontece por uma
determinada CAUSA e desenrola-se envolvendo
certas
circunstâncias que o caracterizam. É necessário, portanto, mencionar o MODO como tudo aconteceu detalhadamente, isto é, de
que maneira o fato ocorreu. Um aconteci-
mento
pode provocar CONSEQUÊNCIAS, as quais devem ser observadas.
Assim, os elementos básicos do texto
narrativo são:
1) FATO (o que se vai narrar);
2) TEMPO (quando o fato ocorreu);
3) LUGAR (onde o fato
se deu);
4) PERSONAGENS (quem participou do ocorrido ou o observou);
5) CAUSA (motivo que determinou a ocorrência);
6) MODO (como se deu o fato);
7) CONSEQUÊNCIAS.
Uma vez conhecidos esses elementos,
resta saber como organizá-los para elaborar
Uma
narração. Dependendo do fato a ser narrado, há inúmeras formas de dispô-los. Todavia,
apresentaremos um esquema de narração que pode ser utilizado para contar qualquer
fato. Ele propõe-se a situar os elementos da narração em diferentes parágrafo,
de modo a orientá-lo sobre como organizar adequadamente sua composição.
Esquema
de narração
Título
1º
parágrafo
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Explicar que fato
será narrado.
Determinar o
tempo e o lugar.
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Introdução
|
2º
parágrafo
|
Causa
do fato e apresentação dos personagens.
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Desenvolvimento
|
3º
parágrafo
|
Modo
como tudo aconteceu (detalhadamente)
|
Desenvolvimento
|
4º
parágrafo
|
Consequências do fato.
|
Conclusão
|
OBSERVAÇÕES:
1. É bom lembrar que, embora o elemento Personagens tenha sido citado somente no 2º parágrafo (onde são
apresentados com mais detalhes), eles aparecem no decorrer de toda a narração,
uma vez que são os desencadeadores da sequência narrativa.
2. O elemento Causa pode ou não existir em sua
narração. Há fatos que decorrem de causa específica (por exemplo, um atropelamento pode
ter como causa o descuido de um pedestre ao atravessar a rua sem olhar).
Existe, em contrapartida, um número ilimitado de fatos dos quais não precisamos
explicar as causas, por serem evidentes (por exemplo. uma viagem de férias, um
assalto a banco, etc.).
3. Os três elementos mencionados na Introdução, ou seja, fato,
tempo e lugar, não pre-
necessariamente aparecer nesta ordem. Podemos
especificar, no início, o tempo e o local, para depois enunciar o fato que será
narrado.
Utilizando esse recurso, você pode
narrar qualquer fato, desde os incidentes que são
Noticiados
nos jornais com o título de ocorrências policiais (assaltos, atropelamentos,
se-
questros, incêndios, colisões e outros) até fatos
corriqueiros, como viagens de férias,pas-
seatas
grevistas, festas de torcidas de futebol, comemorações de aniversário, brigas, tom-
bos
e acontecimentos inesperados ou incomuns, bem como quaisquer outros.
É
importante ressaltar que o esquema apresentado é apenas uma sugestão de
como
se
pode organizar uma narração. Você tem inteira liberdade para basear-se nele ou não.
Mostramos
apenas uma das várias possibilidades existentes de se estruturarem textos. Caso
deseje, poderá inverter a ordem de todos os elementos e fazer qualquer outra modi--ficação
que ache conveniente, sem prejuízo de entendimento do que você quer transmitir.
O fundamental é conseguir contar uma história
de modo satisfatório.
A narração objetiva
Observe agora um exemplo de narração sobre um
incêndio, criado com o auxílio do esquema estudado. Lembre-se de que, antes de
começar a escrever, é preciso escolher o tipo de narrador. Optamos pelo
narrador em 3ª pessoa.
O incêndio
Ocorreu um
pequeno incêndio na noite de ontem, em um apartamento de propriedade do sr.
Marcos da Fonseca.
No local
habitavam o proprietário, sua esposa e seus dois filhos. Todos eles, na hora
em que o fogo começou, tinham saído de casa e estavam jantando em um
restaurante situado em frente ao edifício. A causa do incêndio foi um curto-circuito
ocorrido no precário sistema elétrico do velho apartamento.
O fogo
despontou em um dos quartos que, por sorte, ficava na frente do prédio. O
porteiro do restaurante, conhecido da família, avistou-o e imediatamente foi
chamar o sr. Marcos. Ele, mais que depressa, ligou para o Corpo de Bombeiros.
Embora não tivessem
demorado a chegar, os bombeiros não conseguiram impedir que o quarto e a sala
ao lado fossem inteiramente destruídos pelas chamas. Não obstante o prejuízo,
a família consolou-se com o fato de aquele incidente não ter tomado maiores
proporções, atingindo os apartamentos vizinhos.
|
Vamos observar as características dessa narração. O
narrador está em 3ª pessoa, pois não toma parte na história; não é nem membro
da família, nem o porteiro do restaurante, nem um dos bombeiros e muito menos
alguém que passava pela rua na qual se situava o prédio. Outra característica
que deve ser destacada é o fato de a história ter sido narrada com
objetividade: o narrador limitou-se a contar os fatos sem deixar que seus
sentimentos, suas emoções transparecessem no decorrer da narrativa.
Este tipo de
composição denomina-se narração objetiva. É o que costuma aparecer nas
"ocorrências policiais" dos jornais, nas quais os redatores apenas
informam os fatos sem se deixar envolver emocionalmente com o que estão
noticiando. Este tipo de narração apresenta um cunho impessoal e direto.
EXERCÍCIO
Agora vamos
treinar. Pegue o seu caderno e imagine que você é redator em um jor- nal e
precisa redigir uma narração, informando sobre um assalto ocorrido. Consulte, se
julgar necessário, o esquema estudado na página 20 para sua melhor orientação. Faça
uma narração objetiva, com narrador em 3ª pessoa.
A narração subjetiva
Existe
também um outro tipo de composição chamado narração subjetiva. Nela os fatos
são apresentados levando-se em conta as emoções, os sentimentos envolvidos na história.
Nota-se claramente a posição sensível e emocional do narrador ao relatar os acontecimentos.
O fato não é narrado de modo frio e impessoal; ao contrário, são res- saltados
os efeitos psicológicos que os acontecimentos desencadeiam nos personagens. É.
portanto. o oposto da narração objetiva.
Daremos
agora um exemplo de narração subjetiva, elaborada também com o auxílio do
esquema da página 20. Escolhemos o narrador em 1ª pessoa. Esta escolha é
perfei- tamente justificável, visto que, participando da ação, ele envolve-se
emocionalmente com maior facilidade na história. Isso não significa, porém, que
uma narração subjetiva re- queira sempre um narrador em 1ª pessoa e vice-versa.
Com a fúria de um vendaval
Em uma certa
manhã acordei entediada. Estava em minhas férias escolares do mês de julho.
Não pudera viajar. Fui ao portão e avistei, três quarteirões ao longe, a
movimentação de uma feira livre.
Não tinha
nada para fazer, e isso estava me matando de aborrecimento. Embora soubesse
que uma feira livre não constitui exatamente o melhor divertimento do qual um
ser humano pode dispor, fui andando, a passos lentos, em direção àquelas
barracas. Não esperava ver nada de original. Ou mesmo interessante. Como é triste o tédio! Logo que me aproximei,
vi uma senhora alta, extremamente
gorda, discutindo com um feirante.
O homem,
dono da barraca de tomates, tentava em vão acalmar a nervosa senhora. Não sei
por que brigavam, mas sei o que vi: a mulher, imensamente gorda, mais do que
gorda (monstruosa), erguia seus enormes braços e, com os punhos cerrados,
gritava contra o feirante. Comecei a me assustar, com medo de que ela destruísse
a barraca (etalvez o próprio homem) devido à sua fúria incontrolável. Ela ia
gritando e se empolgando com sua raiva crescente e ficando cada vez mais
vermelha, assim como os tomates, ou até mais.
De repente,
no auge de sua ira, avançou contra o homem já atemorizado e, tropeçando em alguns tomates podres que estavam
no chão, caiu, tombou, mergulhou, esborrachou-se no asfalto, para o divertimento
do pequeno público que, assim como eu, assistiu àquela cena incomum.
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SUGESTÃO:
Releia esta narração, transcrevendo em seu
caderno palavras ou expressões que revelam emoção, sentimento, de modo a
localizar os pontos que fazem dela uma narração
subjetiva.
OBSERVAÇÃO:
Sua narração pode ter a extensão que lhe
convier. Você pode aumentá-la ou diminuí-la,
suprimindo
detalhes menos importantes. Lembre-se: quando um determinado parágrafo fi- car
muito extenso, você pode dividi-lo em dois. Destacamos, mais uma vez, que o esquema
dado é uma orientação geral e não precisa ser necessariamente seguido; pode
sofrer variações referentes ao número de parágrafos ou à ordem de disposição dos
elementos narrativos.
EXERCÍCIO
Faça agora um treino. Elabore uma narração
subjetiva, com narrador em 1ª pessoa, utilizando os elementos básicos do texto
narrativo (todos ou alguns). Conte um fato inteiramente inesperado que
aconteceu com você dentro de um ônibus. Não se esqueça de criar um título
interessante.
O discurso do
narrador
Comparando os dois modelos de narração
apresentados neste capítulo, você poderá perceber a diferença entre narrador em
1ª e 3ª pessoas, a maneira como se elabora uma narração utilizando o esquema
estudado, a existência da narração objetiva em oposição à narração subjetiva e alguns outros aspectos.
É importante também que você observe um
outro fato sobre o qual ainda não fize- mos qualquer comentário. Lendo as
narrações O incêndio e Com a fúria de um vendaval, você notará
com facilidade que o narrador contou cada uma das histórias com suas próprias
palavras. Ele não introduziu diálogos na redação registrando a fala dos personagens.
Essas duas narrações foram elaboradas sem que o narrador introduzisse o
discurso direto, isto é, o diálogo entre os personagens.
No próximo capítulo, mostraremos como
você pode fazer suas narrações utilizando ou não o discurso direto. Por
enquanto, nos exercícios deste capítulo, redija as composições que vamos
sugerir sem utilizar diálogos entre os personagens. Em breve você terá
elementos para saber como fazê-lo corretamente. Oriente-se, portanto, pelos
modelos de redação dados aqui.
Não se esqueça também de que o esquema de
narração estudado na página não precisa ser seguido à risca. Se julgar
importante fazer qualquer alteração, nada o impede de fazê-lo , desde que sua
composição não perca as características de organização e clareza indispensáveis
a todas as narrações.
EXERCÍCIOS
Apresentaremos agora algumas sugestões.
Escolha os temas que lhe parecerem mais
atraentes
e faça narrações para aprimorar sua capacidade de redigir esta modalidade de
composição.
1.Faça
uma narração objetiva, com narrador
em 3ª pessoa. contando:
a)
um sequestro;
b)
uma colisão;
c)
um atropelamento;
d)
um atentado terrorista.
2)
Elabore uma narração subjetiva, com
narrador em 3ª pessoa, sobre:
a)
uma briga entre torcidas de futebol;
b)
uma passeata de protesto;
c)
um piquete de operários metalúrgicos;
d)
uma festa do aniversário de um clube.
3.Redija
uma narração objetiva, com narrador
em 1ª pessoa, contando:
a)
um viagem ao exterior;
b)
uma confusão ocorrida em um supermercado:
c)
uma festa de aniversário;
d)
um enorme engarrafamento;
e)
um fato de importância nacional;
f)
uma aula de um curso profissionalizante.
4.Construa
uma narração subjetiva, com narrador
em 1ª pessoa, sobre:
a)
um susto terrível;
b)
uma discussão com um motorista de táxi;
c)
uma inundação;
d)
uma festa de comemoração de uma vitória eleitoral;
e)
uma consulta médica:
f)a
mudança para um outro bairro.
5.Elabore
uma ou mais narrações baseando-se nos títulos propostos (você agora pode escolher
o tipo de narrador e optar por uma narração objetiva ou por uma narração
subjetiva; note, entretanto, que alguns títulos sugerem uma narração subjetiva,
e outros, uma narração objetiva):
a)
Um incidente no colégio
b)
O dia mais feliz de toda a minha vida
c)
A maior lição que aprendi de minha mãe
d)
Eu, um negro na África do Sul
e)
Quando eu fui professor por um dia
f)
O grande sonho da minha vida
g)
O incrível caso do desaparecimento de meu vizinho
h)
A escola de natação: uma aventura perigosa
i)
O fato mais emocionante que presenciei
j)
A minha conversa com o Presidente da República
k)
) Uma lição de fraternidade
l)
De como os dias de minhas férias foram realmente maravilhosos ou completa-
mente
desinteressantes
m)
Um acidente em pleno voo
n)
Meus colegas de classe: santos ou silvícolas?
n)
Sim, saí correndo de medo
o)
A tragédia que se abateu sobre o planeta
p)
A maior travessura que já vi
q)
Uma briga na tinturaria
r)
A inesquecível manhã em que fui chamado para a diretoria de minha escola
s)
Futebol de rua: nunca mais!
t)
O dia em que a cidade parou
u)
A primeira visita de um índio à cidade de São Paulo
v)
O fato mais engraçado que já presenciei