sexta-feira, 12 de agosto de 2016

SUGESTÕES PARA REDAÇÃO - REDAÇÃO 5

Coletânea de textos

   Os textos foram tirados de fontes diversas e apresentam fatos, opiniões e argumentos relacionados com o tema. Eles não representam a opinião da banca examinadora: são textos como aqueles aos quais você está exposto na sua vida diária de leitor de jornais revistas ou livros, e que você deve ler e comentar.
   Consulte a coletânea e utilize-a segundo as instruções específicas dadas para o tema. Não a copie.
  Ao elaborar sua redação, você poderá utilizar-se também de outras informações que julgar relevantes para o desenvolvimento do tema.

ATENÇÃO: Se você não seguir as instruções relativas ao tema que escolheu, sua reda-
ção será ANULADA.

   A ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, conhecida também como Campanha contra a Fome, tem provocado numerosas manifestações contraditórias: reavivando uma discussão antiga sobre a validade da ajuda aos desfavorecidos.
   Levando em conta a coletânea abaixo, que contém fatos e opiniões diversas sobre aque- Ia campanha, redija uma dissertação sobre o tema: "Dar o peixe ou ensinar a pescar?".
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1) Já são quase 32 milhões de brasileiros famintos, num país que desperdiça somente em alimentos o equivalente a US$ 4 bilhões. Apenas 20% desse desperdício saciaria a fome de todos esses brasileiros miseráveis.
        ("0 avesso da fome", Jornal do Brasil, 12/9/1993.)

2) A cada ano que passa, mil crianças mor-rem por dia debaixo do céu brasileiro. Mor-rem de doenças para as quais a medicina criou uma infinidade de nomes, todos sinônimos de um só mal: fome, subnutrição.
       (Eric Nepomuceno, Caderno FOME, Jornal do Brasil, 12/9/1993

3) Há uma miséria maior do que morrer de fome no deserto: é não ter o que comer na Terra de Canaã.
              (ALMEIDA, José Américo de. A Bagaceira.

4) Querido Cony, (. .. ) venho te dar os parabéns pela crônica "Não é por aí". Também e não quero bagunçar a campanha contra a fome (. .. ), mas já era tempo de alguém dizer que, para acabar com a fome, precisa-se de reforma agrária, justiça social, melhor distribuição de renda. A caridade é uma das virtudes teologais, mas para acabar com: fome no Brasil não basta ...
             (Jorge Amado, Painel cio Leitor, Folha de S.Paulo, 24/6/199

5) Betinho - ... há uma relação estreita entre conjuntura e estrutura. Se eu não sou capaz
de mudar alguma coisa aqui e agora, seguramente não serei capaz de mudar no futuro. Toda vitória que eu consiga hoje, por menor que seja, está criando condições para a reforma estrutural.
Folha - O movimento tem um caráter filantrópico, assistencialista. A filantropia sempre foi considerada inócua e muitas vezes associada à picaretagem.
Betinho - Pilantropia (ri). Esse movimento está nos obrigando a diferenciar solidariedade de assistencialismo e filantropia de pilantropia. Para mim, solidariedade é um gesto ético, de alguém que quer acabar com uma situação, e não perpetuá-la. Já o assistencialismo é exatamente o contrário.
                               (De uma entrevista de Betinho ao jornal Folha de S.Paulo, 5/9/1993.)

6) Mas eis que Chico Buarque, justificando sua participação no show do Memorial, veio com um argumento curioso. Você pode dizer que distribuir alimentos não resolve nada, lembrava ele, "mas não distribuir resolve alguma coisa?" Já que nada vale nada, um pouco de caridade é melhor do que nenhuma.
                              (Marcelo Coelho, Folha de S.Paulo, 8/9/1993.)

7) Na piscina do Clube Harmonia ouvi uma senhora gordinha dizendo que a campanha contra a fome era comandada pelo PT e que tinha por objetivo arrasar com o nosso país. Outras senhoras gordinhas concordam, repetindo a velha história de que era melhor ensinar a pescar do que dar o peixe ...
                             (Geraldo Anhaia Meio, Painel do Leitor, Folha de S.Paulo, 9/9/1993.)

8) Pessoas que moram nas ruas de São Paulo não têm uma ideia exata do que seja a Campanha da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. Elas se dizem cansadas de movimentos que distribuem alimentos, mas não conseguem resolver o pro- blema da miséria. Essas pessoas - que seriam as principais beneficiadas pela campanha -pedem a criação de mais empregos, pois querem conseguir uma moradia e poder escolher a comida.
                            (Folha de S.Paulo, 21/9/1993.)

9) Na esperança da revolução redentora, a palavra de ordem era ensinar a pescar. Dar o peixe era o pecado assistencialista, que retardava o processo revolucionário. (... ) Hoje sabe-se: o capitalismo não acaba com a miséria. O socialismo também não. Não há mais sonho nem utopia. Resta apenas a concretude tenebrosa da miséria. L .. ) não se está sugerindo que a sociedade assuma o papel do Estado. Mas é importante compreender: é a sociedade que muda o Estado, não o contrário. L .. ) (o cidadão) morrerá, como têm morrido mulheres, se alguém não lhe der comida:
                         (Alcione Araújo, Caderno FOME, Jornal do Brasil, 12/9/1993.)

10) Eu nunca senti fome na vida, mas acho que deve ser muito triste.
                         (Adriana, 12 anos, revista Veja, 15/9/1993.)

Comentário:

   A proposta apresenta claramente o tema a ser desenvolvido: "Dar o peixe ou ensinar a pescar?". Vale lembrar que tema não é o mesmo que título. Este, portanto, deveria ter sido elaborado pelo candidato, de modo a sintetizar as ideias contidas no texto.
   O texto do jornal do Brasil aponta para a má distribuição de renda e para o desperdício de alimentos, contribuindo para o aumento da miséria no Brasil. Eric Nepomuceno lembra do grande número de doenças causadas pela fome, que atingem as crianças de todo o país. José Américo de Almeida dá tratamento literário ao tema, indiretamente transmitindo a ideia de que há recursos, porém estes não são aproveitados e compartilhados por todos.
   Jorge Amado chama atenção para a necessidade de transformações sociais, tais como a reforma agrária e a melhor distribuição de renda. Apenas ajudar na Campanha contra a Fome não resolve, pois não ataca a raiz do problema, apenas as causas.
   Betinho, em entrevista à Folha de S.Paulo, defende a campanha como um passo para que mudanças maiores possam ocorrer no futuro, na estrutura social. Chico Buarque endossa a campanha, defendendo a ideia de que fazer alguma coisa é melhor que não fazer nada.
   Geraldo Anhaia Meio critica de modo sutil e irônico a atitude das "senhoras gordinhas" de
acharem que essa campanha era partidária e prejudicava a imagem do país. Tal descompromisso com a situação de tantos brasileiros vem ao encontro do depoimento de
Adriana à revista Veja, revelando um certo distanciamento da realidade em questão.
   Os trechos da Folha de S.Paulo, de 21/9/93, e do jornal do Brasil, de 12/9/93, apresentam duas ideias opostas: a primeira delas de que as pessoas beneficiadas querem tão-somente mudanças estruturais na sociedade e condições de buscarem o que desejam; já a segunda mostra a necessidade de uma atitude mais imediata, "de dar o peixe", a fim de que "o cidadão não morra", e a longo prazo "ensinar-lhe a pescar" ou dar-lhe condições para tanto.
   O candidato poderia optar por um dos dois caminhos sugeridos pela proposta ou por um ponto de equilíbrio, seguindo a linha adotada por Alcione Araújo.




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