Você já viu as características do texto
dissertativo-argumentativo n postagem anterior. Elas estão resumidas neste
esquema:
Introdução
-
Apresentação inicial do texto, Falando da problemática envolvida e a sua
relevância para a tese que você vai defender.
Desenvolvimento
-
Exposição de argumentos para defender sua tese. estratégias argu-mentativas
para Fortalecer sua defesa e convencer o leitor (exemplos, dados estatísticos, citações
de especialistas, rfierências a fatos históricos, comparações com outros países
etc.).
Conclusão -
Arremate final do texto com a tese que você defende, ou seja, sua proposta de
intervenção social para a solução total ou parcial do problema em questão. seu
texto deve ser mais do que uma exposição de ideias. Você precisa defender uma
posição, uma tese sobre um aspecto relacionado ao tema.
Se você domina a técnica da dissertação argumentativa,
basta apenas que fique bem aten-to ao tema proposto. Se você escrever bem, mas
fora do tema, sua redação será anulada!
Não comece a escrever antes de ter certeza sobre a
compreensão do tema indicado. Os textos motivadores, sempre presentes na
proposta da redação do Enem e de vários outros vestibulares, ajudam a refletir
sobre os diversos lados da questão e
podem inspirar a sua abordagem - além de esclarecer o enfoque que precisa ser
dado.
No tema do Enem 20I4, "Publicidade infantil em
questão", se apenas essa frase fosse co-locada, o candidato poderia ter
seguido diversos caminhos, como, por exemplo falar dos anúncios que usam
crianças como atores, ou qualquer outro ponto relacionado.
Os textos motivadores ajudavam, porém, a fazer o
"recorte" dentro do tema:
.
Texto 1: Mostrava que a aprovação de uma resolução que considera
abusiva a publi-cidade infantil, emitida pelo Conselho Nacional de Direitos da
Criança e do Adolescente (Conanda), deu início a um conflito: de um lado, as
ONGs de defesa dos direitos da criança; do outro, os fabricantes e os próprios
anunciantes de produtos dirigidos a esse público.
Texto
2 (infográfico): Mostrava como outros países do mundo lidam
com a questão.
Texto
3:
Apresentava outro lado da questão, defendendo que não adianta proibir propa-gandas
para o público infantil; é preciso, ao contrário, preparar as crianças para
serem, no futuro, consumidoras críticas e conscientes.
Note que, com os textos motivadores, o próprio
Enem deu o "caminho das pedras"! For-rneceu até alguns subsídios para
as estratégias argumentativas, com dados de outros paí-ses e opiniões de
especialistas.
Cabia ao candidato
simplesmente:
Ø Tomar
uma posição: a publicidade infantil deve ou não ser regulada? Deve ser total-mente
liberada, ficando a educação por conta dos pais, ou ao contrário, deve até ser
proibida?
Ø Explicar o porquê, defendendo essa tese de
forma consistente e com argumentos lógicos.
Mas
atenção! Há coisas que você não pode fazer:
Ficar
preso nos textos motivadores.
É preciso ir além. Você pode
até usar um ou outro dado que aparece nos textos, mas suas estratégias
argumentativas precisam conter também outros dados, pesquisas, exemplos,
citações.
Copiar
trechos dos textos motivadores.
Você pode, no máximo, usar
uma pequena citação dos textos para ilustrar a sua argumen-tação. Mas nunca
copie trechos inteiros: além de isso pesar de forma negativa na avalia-ção, as
linhas que forem copiadas não serão computadas como parte da redação.
EXERCÍCIOS
PROPOSTA
I
- Veja a proposta de redação do Enem 2011,
"Viver em rede no século XXI: Os limites entre o público e o privado",
e os textos motivadores que seguem (retirados da prova do Enem daquele ano).
TEXTO1
A ONU acaba de declarar o acesso à rede um
direito fundamental do ser humano - assim como saúde, moradia e educação. No
mundo todo, pessoas começam a abrir seus sinais privados de dewi-fí, organizações e governos se mobilizam
para expandir a rede para pú-blicos e regiões onde ela ainda não chega, com
acesso livre e gratuito.
ROSA SANTOS, P. Galileu. Nº 240, jul. 20II (fragmento).
_
TEXTO
2
Uma pesquisa da
consultoria Forrester Research revela que, nos Estados Unidos, a popu-lação já
passou mais tempo conectada à internet do que em frente à televisão. Os hábitos estão mudando. No
Brasil, as pessoas já gastam cerca de 20% de seu tempo on-llne em redes
sociais. A grande maioria dos internautas (70% de acordo com o Ibope Mídia) pre-tende
criar, acessar e manter um perfil em rede. "Faz parte da própria socialização
do indi-víduo do século XXI estar numa rede social. Não estar equivale a não
ter uma identidade ou um número de telefone no passado", acredita Alessandro
Barbosa Lima, CEO da e.Life, empresa de monitoração e análise de mídias.
As redes sociais são ótimas para disseminar ideias,
tornar alguém popular e também arrui-nar reputações. Um dos maiores desafios
dos usuários de internet é saber ponderar o que se publica nela. Especialistas
recomendam que não se deve publicar car o que não se fala em público, pois a
internet é um ambiente social e, ao contrário do que se pensa, a rede não
acoberta anonimato, uma vez que mesmo quem se esconde atrás de um pseudônimo
pode ser rastreado e identificado. Aqueles que, por impulso, se exaltam e
cometem gafes podem pagar caro. Disponível em: http://www.terra.com.br. Acesso
em: 30 jun. 20II (adap-tado).
TEXTO
3
DAHMER,
A. Disponível em http://malvados.wordpress.com. Acesso em 5/512oI5
(Fonte:
MEClInep - http://portal.inep.gov.br/web/enem/)
Faça
o que se pede:
A. Indique a tese que você defenderia.
B.Cite pelo menos duas abordagens desse assunto
que poderiam caracterizar exemplos de redações fora do tema proposto.
C. Escreva um texto para essa proposta.
PROPOSTA 2 - Você vai trabalhar agora com a
proposta de redação do Enem 2015
A
partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos
construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em
modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema "A
persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira",
apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos.
Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos
para defesa de seu ponto de vista.
TEXTO 1
Nos
30 anos decorridos entre 1980 e 2010 foram assassinadas no país acima de 92 mil
mulheres, 43,7 mil só na última década. O número de mortes nesse período passou
de 1.353 para 4.465, que representa um aumento de 230%, mais que triplicando o
quantitativo de mulheres vítimas de assassinato no país.
(WALSELFISZ.
J. J. Mapa da Violência 2012. Atualização: Homicídio de mulheres no Brasil.
Disponível em: www.mapadaviolencia.org.br. Acesso em: 8 jun. 2015.)
TEXTO
2
TEXTO 3
TEXTO
4
COMENTÁRIOS
Proposta
I
A) Dado
que a participação em redes sociais tem o ponto positivo de conectar o cidadão
com o mundo, mas a vida pessoal fica muito mais exposta e devassada, o que
torna o privado cada vez mais público e traz riscos, é necessário ...
Possíveis teses a defender:
>
Incluir a educação para os meios no currículo escolar.
>
Criar um programa de conscientização social para o uso adequado dos Meios.
>
Estabelecer uma regulação dos níveis de monitoramento dos usuários, por
exemplo, permitir ao usuário indicar se permite que seus dados sejam armazenados,
avisar que as mensagens serão lidas por outros internautas etc.).
B)
Embora o assunto mais amplo envolva a tecnologia, o tema proposto estava focado
na discussão sobre as consequências que uma exposição excessiva nas redes
sociais pode trazer, ao apagar os limites entre o público e o privado.
Assim, seriam abordagens fora do tema, por exemplo, as
seguintes (que ram encontradas em diversas redações de candidatos daquele
momento):
> Falar
da importância da inclusão digital para que todos tenham acesso à informação e
propor formas de democratizar a internet.
> Falar
da necessidade de preservar os limites da vida pessoal, por questões de seguran-ça
e de valorização da intimidade, mas sem relacionar tudo isso à internet e às
redes so-ciais.
> Propor
programas governamentais de inclusão digital das populações com mais neces-sidades,
ou acesso gratuito à internet (o candidato estaria confundindo a discussão
entre privado e público com o particular e o governamental).
> Ampliar
a discussão sobre internet ao contexto mais amplo, falando de educação, saúde e
meio ambiente.
C) Conheça
agora a redação de Marina Rocha Rubini, que inclusive passou a manter um blog
dedicado a ajudar os alunos que vão fazer Enem, com materiais e dicas. Vale a
pena visitar: www.comofazerumaboaredacao.com.br.
Sob o olhar do "Twitter"
Para
a Constituição Brasileira, Carta Magna do país, a liberdade de consciência, de
culto e de pensamento são direitos invioláveis. Hoje, no século XXI, os
cidadãos enxergam a Internet como aliada social e política, já que através dela
a interação com amigos e conhecidos é facilitada, e, ao mesmo tempo, ocorre com
mais rapidez e simplicidade a disseminação de projetos e ideais. A questão,
porém, é a dificuldade que tantos encontram em separar o público do privado,
isto é, o que deve ou não ser colocado em rede.
Fotos
demasiadamente expositivas, críticas desrespeitosas a pessoas quaisquer e
comentários relacionados ao ambiente íntimo de trabalho devem ser evitados. Se
utilizadas com limites e bom senso, as redes sociais e a Internet como um todo
só têm a engrandecer as relações entre as pessoas, rompendo barreiras entre
tempo e espaço. Exemplos desse quadro são as revoltas nos países árabes que o
mundo recentemente testemunhou. Adultos e jovens clamaram por democracia. Muito
foi conquistado, e o uso da rede foi decisivo para a articulação de passeatas e
protestos. Vive-se sob os efeitos do capitalismo, em que os modos de pensar,
agir e sentir estão sendo a todo tempo modificados. No Brasil, muitos já têm
acesso à Internet, entretanto, é preciso incluir digitalmente mais pessoas,
afinal o mercado de trabalho mudou junto com as relações interpessoais, tendo
hoje o uso independente de um computador como pré-requisiio.
Ao
Estado cabe o dever de expandir e baratear os custos das redes, como forma de
permitir que todos vivenciem essa liberdade. Aos pais cabe o papel de instruir
e fiscalizar o acesso de seus filhos à Internet, de maneira que
tenhamconhecimento sobre possíveis casos de bullyinq ou pedofilia, por exemplo.
Os meios de comunicação também exercem função importante, fornecendo
informações com seriedade.
A
liberdade de consciência, de culto e de pensamento deve ser respeitada. Com
educação de qualidade, crianças e jovens serão capazes de ter discernimento
sobre os prejuízos e benefícios da Internet. Além disso, é fundamental a
existência de um ensino moral, intelectual e cívico, pois é essa parcela jovem
que comporá o Brasil de amanhã com mais justiça e igualdade.
7.
Proposta 2
Aqui você encontra duas redações realizadas a partir do
tema proposto. A primeira é da autora deste livro. A outra, na sequência, é de
Raphael de Souza, que com esse texto foi um dos 104 candidatos que tiraram nota
mil no Enem 2015.
Quem vai olhar por elas?
Embora
constitua um crime grave, a violência contra a mulher persiste no Brasil. As notíci-as
de agressões a mulheres são constantes, tanto no que se refere à violência
física, como psicológica e sexual. Na última década, o índice de assassinatos
de mulheres brasileiras aumentou. Como reverter esse quadro?
A
violência contra a mulher tem raízes profundas, ligadas a relações de classe,
etnia, gênero e poder. A sociedade ocidental configurou-se de forma que aos
homens coubes-sem as atividades consideradas nobres, enquanto as mulheres
ficariam restritas ao âmbito doméstico. Ainda que se tenha avançado bastante,
com a emancipação progressiva do gênero feminino, não foram superados os
paradigmas de um modelo patriarcal, no qual é naturalizado o direito dos homens
de controlar as mulheres, podendo chegar, até mesmo, à violência.
A
Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, no Brasil, foi um marco significativo
no combate à prática infame da violência doméstica. Até então, o crime era tido
como algo de "menor potencial ofensivo" e julgado junto com brigas
comuns, como disputas entre vizinhos. Essa lei alterou o Código Penal,
permitindo que os agressores passem a ser presos e aumentando as penas.
Entretanto, ela não é suficiente, em si mesma, para desconstruir uma realidade
cristalizada. Para alcançar avanços significativos, ao menos duas ações devem
ser empreendidas.
Em
primeiro lugar, há que trazer o tema para o processo educativo, tanto na escola
como na família. Crianças que vivenciam relações de igualdade de direitos entre
os gêneros ficam menos suscetíveis aos preconceitos baseados em relações
obsoletas de poder. Há que educar as jovens para não ver as agressões como
normais e orientá-las sobre como se proteger. Os jovens, por sua vez, precisam
ser formados para ver as mulheres como semelhantes, e não como inferiores.
Ao
mesmo tempo, faz-se necessário zelar pela aplicação severa das leis de proteção
da mulher, garantindo segurança às vítimas que procuram as delegacias
especializadas. As redes sociais e a mídia podem ser boas aliadas nessa causa,
com campanhas de conscientização e denúncia, para que o Brasil supere o quanto
antes esse cenário aviltante e desonroso.
Agora veja a redação de Raphael de Souza - Nota mil no
Enem 2015
Equilíbrio
Aristotélico
Ao longo do processo de formação do Estado
brasileiro, do século XVI ao XXI, o pensamento machista consolidou-se e
permaneceu forte. A mulher era vista, de maneira mais intensa na transição
entre a Idade Moderna e a Contemporânea, como inferior ao homem, tendo seu
direito ao voto conquistado apenas na década de 1930, com a chegada da Era
Vargas. Com isso, surge a problemática da violência de gênero dessa lógica
excludente que persiste intrinsecamente ligada à realidade do país, seja pela
insuficiência de leis, seja pela lenta mudança de mentalidade social.
É
indubitável que a questão constitucional e sua aplicação estejam entre as
causas do problema. De acordo com Aristóteles, a política deve ser utilizada de
modo que, por meio da justiça, o equilíbrio seja alcançado na sociedade. De
maneira análoga, é possível perceber que, no Brasil, a agressão contra a mulher
rompe essa harmonia, haja vista que, embora aLei Maria da Penha tenha sido um
grande progresso em relação à proteção feminina, há brechas que permitem a
ocorrência dos crimes, como as muitas vítimas que deixam de efetivar a denúncia
por serem intimidadas. Desse modo, evidencia-se a importância do reforço da
prática da regulamentação como forma de combate à problemática.
Outrossim,
destaca-se o machismo como impulsionador da violência contra a mulher. Segundo
Durkheim, o fato social é uma maneira coletiva de agir e de pensar, dotada de
exterioridade, generalidade e coercitividade. Seguindo essa linha de
pensamento, observa-se que o preconceito de gênero pode ser encaixado na teoria
do sociólogo, uma vez que, se uma criança vive em uma família com esse
comportamento, tende a adotá-la também por conta da vivência em grupo. Assim, o
fortalecimento do pensamento da exclusão feminina, transmitido de geração a
geração, funciona como forte base dessa forma de agressão, agravando o problema
no Brasil.
Entende-se,
portanto, que a continuidade da violência contra a mulher na contempora-neidade
é fruto da ainda fraca eficácia das leis e da permanência do machismo como
intenso fato social. A fim de atenuar o problema, o Governo Federal deve
elaborar um plano de implementação de novas delegacias especializadas nessa
forma de agressão, aliado à esfera estadual e municipal do poder, principalmente
nas áreas que mais neces-sitem, além de aplicar campanhas de abrangência
nacional junto às emissoras abertas de televisão como forma de estímulo à
denúncia desses crimes. Dessa forma, com base no equilíbrio proposto por
Aristóteles, esse fato social será gradativamente minimi-zado no país.
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