sexta-feira, 26 de maio de 2017

CAPÍTULO 7 - CAPACIDADE DE COMPREENDER UM TEXTO


 Os avaliadores examinarão se você é capaz de compreender o tema que foi proposto e, a partir dele, escrever um texto no estilo dissertativo-argumentativo.

Você já viu as características do texto dissertativo-argumentativo n postagem anterior. Elas estão resumidas neste esquema:

Introdução - Apresentação inicial do texto, Falando da problemática envolvida e a sua relevância para a tese que você vai defender.



Desenvolvimento - Exposição de argumentos para defender sua tese. estratégias argu-mentativas para Fortalecer sua defesa e convencer o leitor (exemplos, dados estatísticos, citações de especialistas, rfierências a fatos históricos, comparações com outros países etc.).

Conclusão - Arremate final do texto com a tese que você defende, ou seja, sua proposta de intervenção social para a solução total ou parcial do problema em questão. seu texto deve ser mais do que uma exposição de ideias. Você precisa defender uma posição, uma tese sobre um aspecto relacionado ao tema.

Se você domina a técnica da dissertação argumentativa, basta apenas que fique bem aten-to ao tema proposto. Se você escrever bem, mas fora do tema, sua redação será anulada!
Não comece a escrever antes de ter certeza sobre a compreensão do tema indicado. Os textos motivadores, sempre presentes na proposta da redação do Enem e de vários outros vestibulares, ajudam a refletir sobre os diversos lados  da questão e podem inspirar a sua abordagem - além de esclarecer o enfoque que precisa ser dado.
No tema do Enem 20I4, "Publicidade infantil em questão", se apenas essa frase fosse co-locada, o candidato poderia ter seguido diversos caminhos, como, por exemplo falar dos anúncios que usam crianças como atores, ou qualquer outro ponto relacionado.

Os textos motivadores ajudavam, porém, a fazer o "recorte" dentro do tema:

. Texto 1: Mostrava que a aprovação de uma resolução que considera abusiva a publi-cidade infantil, emitida pelo Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), deu início a um conflito: de um lado, as ONGs de defesa dos direitos da criança; do outro, os fabricantes e os próprios anunciantes de produtos dirigidos a esse público.

Texto 2 (infográfico): Mostrava como outros países do mundo lidam com a questão.

Texto 3: Apresentava outro lado da questão, defendendo que não adianta proibir propa-gandas para o público infantil; é preciso, ao contrário, preparar as crianças para serem, no futuro, consumidoras críticas e conscientes.

 Note que, com os textos motivadores, o próprio Enem deu o "caminho das pedras"! For-rneceu até alguns subsídios para as estratégias argumentativas, com dados de outros paí-ses e opiniões de especialistas.
Cabia ao candidato simplesmente:
Ø  Tomar uma posição: a publicidade infantil deve ou não ser regulada? Deve ser total-mente liberada, ficando a educação por conta dos pais, ou ao contrário, deve até ser proibida?

Ø   Explicar o porquê, defendendo essa tese de forma consistente e com argumentos lógicos.

Mas atenção! Há coisas que você não pode fazer:

Ficar preso nos textos motivadores.
É preciso ir além. Você pode até usar um ou outro dado que aparece nos textos, mas suas estratégias argumentativas precisam conter também outros dados, pesquisas, exemplos, citações.

Copiar trechos dos textos motivadores.
Você pode, no máximo, usar uma pequena citação dos textos para ilustrar a sua argumen-tação. Mas nunca copie trechos inteiros: além de isso pesar de forma negativa na avalia-ção, as linhas que forem copiadas não serão computadas como parte da redação.

EXERCÍCIOS

PROPOSTA I - Veja a proposta de redação do Enem 2011, "Viver em rede no século XXI: Os limites entre o público e o privado", e os textos motivadores que seguem (retirados da prova do Enem daquele ano).

TEXTO1
A   ONU acaba de declarar o acesso à rede um direito fundamental do ser humano - assim como saúde, moradia e educação. No mundo todo, pessoas começam a abrir seus sinais privados de  dewi-fí, organizações e governos se mobilizam para expandir a rede para pú-blicos e regiões onde ela ainda não chega, com acesso livre e gratuito.
                                                       ROSA SANTOS, P. Galileu. Nº 240, jul. 20II (fragmento).
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TEXTO 2
Uma  pesquisa da consultoria Forrester Research revela que, nos Estados Unidos, a popu-lação já passou mais tempo conectada à internet do que em frente à  televisão. Os hábitos estão mudando. No Brasil, as pessoas já gastam cerca de 20% de seu tempo on-llne em redes sociais. A grande maioria dos internautas (70% de acordo com o Ibope Mídia) pre-tende criar, acessar e manter um perfil em rede. "Faz parte da própria socialização do indi-víduo do século XXI estar numa rede social. Não estar equivale a não ter uma identidade ou um número de telefone no passado", acredita Alessandro Barbosa Lima, CEO da e.Life, empresa de monitoração e análise de mídias.
As redes sociais são ótimas para disseminar ideias, tornar alguém popular e também arrui-nar reputações. Um dos maiores desafios dos usuários de internet é saber ponderar o que se publica nela. Especialistas recomendam que não se deve publicar car o que não se fala em público, pois a internet é um ambiente social e, ao contrário do que se pensa, a rede não acoberta anonimato, uma vez que mesmo quem se esconde atrás de um pseudônimo pode ser rastreado e identificado. Aqueles que, por impulso, se exaltam e cometem gafes podem pagar caro. Disponível em: http://www.terra.com.br. Acesso em: 30 jun. 20II (adap-tado).

TEXTO 3

DAHMER, A. Disponível em http://malvados.wordpress.com. Acesso em 5/512oI5
(Fonte: MEClInep - http://portal.inep.gov.br/web/enem/)

Faça o que se pede:

A. Indique a tese que você defenderia.

B.Cite pelo menos duas abordagens desse assunto que poderiam caracterizar exemplos de redações fora do tema proposto.

C. Escreva um texto para essa proposta.

PROPOSTA 2 - Você vai trabalhar agora com a proposta de redação do Enem 2015

A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema "A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira", apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

TEXTO 1

Nos 30 anos decorridos entre 1980 e 2010 foram assassinadas no país acima de 92 mil mulheres, 43,7 mil só na última década. O número de mortes nesse período passou de 1.353 para 4.465, que representa um aumento de 230%, mais que triplicando o quantitativo de mulheres vítimas de assassinato no país.
(WALSELFISZ. J. J. Mapa da Violência 2012. Atualização: Homicídio de mulheres no Brasil. Disponível em: www.mapadaviolencia.org.br. Acesso em: 8 jun. 2015.)

TEXTO 2



TEXTO 3
 TEXTO 4
COMENTÁRIOS

Proposta I

A) Dado que a participação em redes sociais tem o ponto positivo de conectar o cidadão com o mundo, mas a vida pessoal fica muito mais exposta e devassada, o que torna o privado cada vez mais público e traz riscos, é necessário ...
Possíveis teses a defender:
> Incluir a educação para os meios no currículo escolar.
> Criar um programa de conscientização social para o uso adequado dos Meios.
> Estabelecer uma regulação dos níveis de monitoramento dos usuários, por exemplo, permitir ao usuário indicar se permite que seus dados sejam armazenados, avisar que as mensagens serão lidas por outros internautas etc.).

B) Embora o assunto mais amplo envolva a tecnologia, o tema proposto estava focado na discussão sobre as consequências que uma exposição excessiva nas redes sociais pode trazer, ao apagar os limites entre o público e o privado.
Assim, seriam abordagens fora do tema, por exemplo, as seguintes (que ram encontradas em diversas redações de candidatos daquele momento):
> Falar da importância da inclusão digital para que todos tenham acesso à informação e propor formas de democratizar a internet.
> Falar da necessidade de preservar os limites da vida pessoal, por questões de seguran-ça e de valorização da intimidade, mas sem relacionar tudo isso à internet e às redes so-ciais.
> Propor programas governamentais de inclusão digital das populações com mais neces-sidades, ou acesso gratuito à internet (o candidato estaria confundindo a discussão entre privado e público com o particular e o governamental).
> Ampliar a discussão sobre internet ao contexto mais amplo, falando de educação, saúde e meio ambiente.

C) Conheça agora a redação de Marina Rocha Rubini, que inclusive passou a manter um blog dedicado a ajudar os alunos que vão fazer Enem, com materiais e dicas. Vale a pena visitar: www.comofazerumaboaredacao.com.br.
                                    
                                       Sob o olhar do "Twitter"
Para a Constituição Brasileira, Carta Magna do país, a liberdade de consciência, de culto e de pensamento são direitos invioláveis. Hoje, no século XXI, os cidadãos enxergam a Internet como aliada social e política, já que através dela a interação com amigos e conhecidos é facilitada, e, ao mesmo tempo, ocorre com mais rapidez e simplicidade a disseminação de projetos e ideais. A questão, porém, é a dificuldade que tantos encontram em separar o público do privado, isto é, o que deve ou não ser colocado em rede.
Fotos demasiadamente expositivas, críticas desrespeitosas a pessoas quaisquer e comentários relacionados ao ambiente íntimo de trabalho devem ser evitados. Se utilizadas com limites e bom senso, as redes sociais e a Internet como um todo só têm a engrandecer as relações entre as pessoas, rompendo barreiras entre tempo e espaço. Exemplos desse quadro são as revoltas nos países árabes que o mundo recentemente testemunhou. Adultos e jovens clamaram por democracia. Muito foi conquistado, e o uso da rede foi decisivo para a articulação de passeatas e protestos. Vive-se sob os efeitos do capitalismo, em que os modos de pensar, agir e sentir estão sendo a todo tempo modificados. No Brasil, muitos já têm acesso à Internet, entretanto, é preciso incluir digitalmente mais pessoas, afinal o mercado de trabalho mudou junto com as relações interpessoais, tendo hoje o uso independente de um computador como pré-requisiio.
Ao Estado cabe o dever de expandir e baratear os custos das redes, como forma de permitir que todos vivenciem essa liberdade. Aos pais cabe o papel de instruir e fiscalizar o acesso de seus filhos à Internet, de maneira que tenhamconhecimento sobre possíveis casos de bullyinq ou pedofilia, por exemplo. Os meios de comunicação também exercem função importante, fornecendo informações com seriedade.
A liberdade de consciência, de culto e de pensamento deve ser respeitada. Com educação de qualidade, crianças e jovens serão capazes de ter discernimento sobre os prejuízos e benefícios da Internet. Além disso, é fundamental a existência de um ensino moral, intelectual e cívico, pois é essa parcela jovem que comporá o Brasil de amanhã com mais justiça e igualdade.

7. Proposta 2
Aqui você encontra duas redações realizadas a partir do tema proposto. A primeira é da autora deste livro. A outra, na sequência, é de Raphael de Souza, que com esse texto foi um dos 104 candidatos que tiraram nota mil no Enem 2015.
                                           
                                 Quem vai olhar por elas?
Embora constitua um crime grave, a violência contra a mulher persiste no Brasil. As notíci-as de agressões a mulheres são constantes, tanto no que se refere à violência física, como psicológica e sexual. Na última década, o índice de assassinatos de mulheres brasileiras aumentou. Como reverter esse quadro?
A violência contra a mulher tem raízes profundas, ligadas a relações de classe, etnia, gênero e poder. A sociedade ocidental configurou-se de forma que aos homens coubes-sem as atividades consideradas nobres, enquanto as mulheres ficariam restritas ao âmbito doméstico. Ainda que se tenha avançado bastante, com a emancipação progressiva do gênero feminino, não foram superados os paradigmas de um modelo patriarcal, no qual é naturalizado o direito dos homens de controlar as mulheres, podendo chegar, até mesmo, à violência.
A Lei Maria da Penha, sancionada em 2006, no Brasil, foi um marco significativo no combate à prática infame da violência doméstica. Até então, o crime era tido como algo de "menor potencial ofensivo" e julgado junto com brigas comuns, como disputas entre vizinhos. Essa lei alterou o Código Penal, permitindo que os agressores passem a ser presos e aumentando as penas. Entretanto, ela não é suficiente, em si mesma, para desconstruir uma realidade cristalizada. Para alcançar avanços significativos, ao menos duas ações devem ser empreendidas.
Em primeiro lugar, há que trazer o tema para o processo educativo, tanto na escola como na família. Crianças que vivenciam relações de igualdade de direitos entre os gêneros ficam menos suscetíveis aos preconceitos baseados em relações obsoletas de poder. Há que educar as jovens para não ver as agressões como normais e orientá-las sobre como se proteger. Os jovens, por sua vez, precisam ser formados para ver as mulheres como semelhantes, e não como inferiores.

Ao mesmo tempo, faz-se necessário zelar pela aplicação severa das leis de proteção da mulher, garantindo segurança às vítimas que procuram as delegacias especializadas. As redes sociais e a mídia podem ser boas aliadas nessa causa, com campanhas de conscientização e denúncia, para que o Brasil supere o quanto antes esse cenário aviltante e desonroso.
Agora veja a redação de Raphael de Souza - Nota mil no Enem 2015
                                           
                                        Equilíbrio Aristotélico
 Ao longo do processo de formação do Estado brasileiro, do século XVI ao XXI, o pensamento machista consolidou-se e permaneceu forte. A mulher era vista, de maneira mais intensa na transição entre a Idade Moderna e a Contemporânea, como inferior ao homem, tendo seu direito ao voto conquistado apenas na década de 1930, com a chegada da Era Vargas. Com isso, surge a problemática da violência de gênero dessa lógica excludente que persiste intrinsecamente ligada à realidade do país, seja pela insuficiência de leis, seja pela lenta mudança de mentalidade social.
É indubitável que a questão constitucional e sua aplicação estejam entre as causas do problema. De acordo com Aristóteles, a política deve ser utilizada de modo que, por meio da justiça, o equilíbrio seja alcançado na sociedade. De maneira análoga, é possível perceber que, no Brasil, a agressão contra a mulher rompe essa harmonia, haja vista que, embora aLei Maria da Penha tenha sido um grande progresso em relação à proteção feminina, há brechas que permitem a ocorrência dos crimes, como as muitas vítimas que deixam de efetivar a denúncia por serem intimidadas. Desse modo, evidencia-se a importância do reforço da prática da regulamentação como forma de combate à problemática.
Outrossim, destaca-se o machismo como impulsionador da violência contra a mulher. Segundo Durkheim, o fato social é uma maneira coletiva de agir e de pensar, dotada de exterioridade, generalidade e coercitividade. Seguindo essa linha de pensamento, observa-se que o preconceito de gênero pode ser encaixado na teoria do sociólogo, uma vez que, se uma criança vive em uma família com esse comportamento, tende a adotá-la também por conta da vivência em grupo. Assim, o fortalecimento do pensamento da exclusão feminina, transmitido de geração a geração, funciona como forte base dessa forma de agressão, agravando o problema no Brasil.

Entende-se, portanto, que a continuidade da violência contra a mulher na contempora-neidade é fruto da ainda fraca eficácia das leis e da permanência do machismo como intenso fato social. A fim de atenuar o problema, o Governo Federal deve elaborar um plano de implementação de novas delegacias especializadas nessa forma de agressão, aliado à esfera estadual e municipal do poder, principalmente nas áreas que mais neces-sitem, além de aplicar campanhas de abrangência nacional junto às emissoras abertas de televisão como forma de estímulo à denúncia desses crimes. Dessa forma, com base no equilíbrio proposto por Aristóteles, esse fato social será gradativamente minimi-zado no país.

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