quinta-feira, 29 de junho de 2017

PROPOSTA DE REDAÇÃO COMENTADA




A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em norma padrão da língua portuguesa sobre o tema "A liberdade de expressão deve ter limites ?", apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.





TEXTO I - Declaração Universal dos Direitos Humanos

Artigo XIX

Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; esse direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

Artigo XXIX

2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às li-mitações determinadas pela lei, exclusivamente como fim de assegurar o devido reconhe-cimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.

3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas. (Disponível em: httpc//www.dudh.org.br/, acessado em 1/3/2015.)

TEXTO II - Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos

Artigo 19

1. Ninguém poderá ser molestado por suas opiniões.

2. Toda pessoa terá direito à liberdade de expressão; esse direito incluirá a liberdade de procurar, receber e difundir informações e ideias de qualquer natureza, independentemente de considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, em forma impressa ou artística, ou por qualquer outro meio de sua escolha.

3. O exercício do direito previsto no parágrafo 2 do presente artigo implicará deveres e responsabilidades especiais. Consequentemente, poderá estar sujeito a certas restrições, que devem, entretanto, ser expressamente previstas em lei e que se façam necessárias para:

a) assegurar o respeito dos direitos e da reputação das demais pessoas;

b) proteger a segurança nacional, a ordem, a saúde ou a moral públicas.

Artigo 20

1. Será proibida por lei qualquer propaganda em favor da guerra.

2. Será proibida por lei qualquer apologia do ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitamento à discriminação, à hostilidade ou à violência.
(Disponível  http://www.planalto.gov.br/ccivil- 03/ decreto//1990-1994/D0592.htm, acessadoem i/3/2015)
TEXTO III - Para o Papa Francisco, há limites na liberdade de expressão

Em Manila, durante sua visita a países da Ásia, o Papa Francisco condenou duramente o ataque ao Charlie Hebdo, em Paris. Porém, fez a ressalva de que o deboche e o insulto não deveriam ser vistos como naturais. Para ele, existem limites à liberdade de expressão, quando as crenças dos demais estão envolvidas.
- Matar em nome de Deus é uma aberração, mas a liberdade de expressão não dá direito de insultar a fé do próximo - disse. - Acredito que tanto a liberdade religiosa quanto a de expressão são direitos humanos fundamentais. Todos têm não apenas o direito, mas a obrigação de dizerem o que pensam pelo bem comum. Podemos fazer isso sem ofender. Se um amigo xingar minha mãe, pode esperar que levará um soco. É compreensível. Mas você não pode zombar, insultar a fé dos outros.

TEXTO IV

  Fred, em http://noticias.uol.com.br/albuml20 15/0 1 /07 /cartunistas- fazem-charges-em-homenagem-aos-mortos-no-ataque-da-charlie-hebdo.htm#fotoNav=46 - Acessado em 1/3/2015.

EXERCÍCIO  16
1. Considerando o conteúdo do texto de apoio I, todas as alternativas estão de acordo, EXCETO:

A)Toda pessoa tem direito de difundir suas ideias através de qualquer meio de expressão ou  comunicação.

B)Não é permitido interferir na manifestação de opiniões de outras pessoas.

C) Embora todos possam expressar suas opiniões, podemtambém ser processados se ferirem o respeito pelos demais conforme a lei em vigor.

D)A livre expressão é legítima  e deve ser preservada, seja qual for o conteúdo que veicula.

2. Com relação ao texto de apoio lI, todas as afirmativas são verdadeiras, EXCETO:

A)O direito à liberdade de expressão inclui tanto buscar como divulgar informações, inde-pendentemente de fronteiras.

B)É proibido atacar alguém com base em suas opiniões.

C)A liberdade de expressão significa abolir as restrições, como normas ou leis, que se co-loquem como impedimento à manifestação de opiniões.

D)Todos são livres para se expressar, mas cabe às leis proibir determinados conteúdos, como por exemplo os que difundem preconceito ,

3. A partir da reportagem do texto de apoio IIl, analise as alternativas que seguem:
I - A opinião do Papa Francisco corrobora os textos 1e 2.
II - A opinião do Papa Francisco contradiz os textos I e 2.
III - Para o Papa Francisco, não há como condenar o ataque ao Charlie Hebdo.
IV - Segundo o Papa Francisco, a liberdade de expressão é um direito humano mas não se deveria ofender os outros com deboches.

Podemos afirmar que:
A) Apenas I é verdadeira.
B) As alternativas II e III são verdadeiras.
C) As alternativas I e IV são verdadeiras.
D) Apenas a alternativa II é verdadeira.

4. Leia os enunciados que seguem, sobre o texto IV, da autoria de Fred:
I - A charge faz referência ao ataque contra a redação do jornal Charlie  Hebdo.
II -  A charge sugere que há riscos de censura prévia imposta pelo terror.
III - Embora atuando no controle, o próprio terrorista se interessa pelo humor.
I V - Fica claro que o cartunista cederá à pressão imposta pelas armas.

Podemos afirmar que:
A) Apenas I é verdadeira.
B) As alternativas I e III são verdadeiras.
C) As alternativas I e II são verdadeiras.
D) As alternativas I e IV são verdadeiras.

RESPOSTAS:  1.D     2.C     3.C        4.C

2.2. Entendendo a proposta de redação
A proposta da redação coloca em questão um conflito bastante atual, que veio à tona mais fortemente a partir do ataque terrorista ao jornal satírico francês Charlie Hebdo, ocorrido em 7 de janeiro de 20IS. A ação, que matou 12 pessoas, foi um suposto protesto contra o jornal porque este insultava os muçulmanos com suas charges.

Os textos de apoio I e II são documentos internacionais que defendem a livre expressão de toda e qualquer pessoa.

Ao afirmar, porém, que todo ser humano tem direito a buscar e difundir toda e qualquer informação, aparecem bem claras duas ressalvas: a primeira, de que no exercício desse direito a pessoa estará sujeita às limitações determinadas pela lei - o que é essencial para assegurar o respeito pelos outros e pela ordem pública; a segunda, de que não se podem
difundir conteúdos que façam apologia da guerra, do ódio religioso ou que incitem a vio-lência.

No texto III, o Papa Francisco diz o mesmo com outras palavras. Condenando, por um lado, qualquer agressão praticada em nome de Deus, por outro, afirma que não se deve, em nome da liberdade de expressão, debochar e ofender. É claro que se subentende que, para o Pontífice, o ato terrorista foi muito mais grave do que qualquer charge.

No texto IV, o cartunista Fred se vale de imagens para fazer uma crítica à violência exage-rada que foi dirigi da contra os redatores do jornal Charlie Hebdo. De um lado, munido apenas de papel e lápis, o desenhista se prepara para criar a sua mensagem artística. Do outro, o terrorista anônimo, com a face oculta e fortemente armado, pergunta de forma ameaçadora qual é a charge do dia seguinte, para supostamente decidir se deixa ou não o artista vivo. A mensagem é clara: por meio da força bruta, tenta-se fazer a censura
prévia das ideias.

Diante dos textos motivadores, o candidato deveria encaminhar a sua redação partindo
dessa dicotomia: por um lado, a liberdade de expressão é um direito fundamental do ser humano; por outro, como estabelecer – e se há ou não que estabelecer - algum limite para preservar o .bem comum e o respeito pelos demais? Caberia também ao candidato posi-cionar-se quanto, a isso e fazer uma proposta de intervenção para dar conta do desafio.

Vamos agora ver uma possível solução para essa proposta.

2.3. Exemplo de texto dissertativo-argumentativo
Leia o texto com atenção e procure detectar nele os elementos mais marcantes no que se refere às competências que o Enem avalia: que são as que aparecem no diagrama a se-guir. Depois de fazer a sua análise, passe para o ponto seguinte, no qual comentamos os pontos fortes desse texto.


 É  proibido  proibir

O atentado contra o jornal satírico francês Charlie Hebdo, ocorrido em janeiro de 2015, trouxe à tona o debate sobre a liberdade de expressão. A execução sumária de doze profissionais motivou sentimentos de comoção e solidariedade no mundo inteiro, na maioria das vezes a favor das vítima , Mas uma pergunta ficou no ar: afinal, na liberdade de expressão vale tudo ?

A liberdade de expressão é fundamental em qualquer sistema democrático. Garantida pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento proclamado pela Assembleia Ge-ral das Nações Unidas em 1948, é uma conquista da própria civilização. Quando colocada em risco, as vítimas somos todos nós.

Qualquer tipo de censura ou cerceamento da informação, seja por interesses políticos, co-merciais, religiosos ou de qualquer outra ordem, constitui, mais do que uma represália a determinada mensagem, um ataque contra os valores que estão na base dessa liberdade. Estabelecer limites por meio de violência, matando os autores das ideias, é recurso de in-tolerantes e fanáticos para restringir o direito dos cidadãos, ação própria de regimes tota-litários. Como já diziam os jovens franceses no marcante movimento de 1968, "é proibido proibir".

Posto isso, não podemos deixar de notar que os próprios documentos da ONU - como é o caso do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos - mencionam que a liberdade de expressão não dá direito a incitar a guerra, o preconceito ou o ódio por motivos religi-osos, e que aqueles que o fizerem estarão sujeitos às penas da lei. Ora, se não pode haver censura prévia, por outro lado há sempre responsabilidades posteriores pelo que se diz. Essa fronteira que separa o direito de dizer o que se pensa das injúrias e insultos é fundamental para garantir o respeito pelos outros e proteger as reputações individuais.
Assim, fica claro que a liberdade de expressão tem seus limites: os legais, que serão estabelecidos pelas instâncias competentes; e os morais, que cada um deve avaliar.
A maneira mais objetiva de resolver esses dilemas é estimular a criação de mecanismos de autorregulação dos próprios profissionais e dos meios de comunicação, não por motivos comerciais ou políticos, mas sim éticos.

2.4. Análise  da  redação

É proibido proibir  >  À primeira vista, o título pode parecer um “chavão”, mas é salvo  
                                    parágrafos adiante na referência aos jovens franceses.


Na Introdução, o autor usa  um «gancho" para começar o texto: a referência ao ata-que terrorista que ameaçou gravemente a liberdade de expressão. Assim ele liga o texto á realidade concreta.
O atentado contra o jornal satírico francês , Charlie Hebdo, ocorrido em janeiro de 2015, trouxe   à tona o debate sobre a liberdade de expressão. A execução sumária de doze profissionais motivou sentimentos de comoção e solidariedade no mundo inteiro, na mai-oria das vezes a  favor das vítimas. Mas uma pergunta ficou no ar: afina, na liberdade de expressão vale tudo?



Nos dois primeiros parágrafos do Desenvolvimento, o autor defende a liberdade de expres-são com os argumentos que aparecem em negrito.
A liberdade de expressão é fundamental em qualquer sistema democrático. Garantida pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento proclamado pela As-sembleia Geral das Nações Unidas, em 1948, é uma conquista da própria civilização. Quando colocada em risco, as vítimas somos todos nós.

Qualquer tipo de censura ou cerceamento da informação, seja por interesses políticos, co-merciais, religiosos ou de qualquer outra ordem, constitui, mais do que uma represália a
determinada mensagem, um ataque contra os valores que estão na base dessa liberdade. Estabelecer limites por meio de violência, matando os autores das ideias, é recurso de intolerantes e fanáticos para restringir o direito dos cidadãos, ação própria de regimes totalitários. Como já diziam os jovens franceses no marcante movimento de 1968, "é proibido proibir".

Ao citar uma bandeira dos jovens franceses no Final da década de 1960, o autor de-monstra conhecimento de história, capacidade de articular o conteúdo com outras disciplinas, e dá sentido ao título escolhido. O mesmo refrão foi usado por Caetano Veloso, na mesma década, na música “É proibido proibir", que também aqui marcou época, com o protesto contra o regime militar que cerceava duramente a livre ex-pressão.

No terceiro e último parágrafo do Desenvolvimento, o autor faz um contraponto, mostrando outro lado da questão, com argumentos que o justificam (destacados em negrito). Veja os diversos conectivos utilizados reste e no próximo parágrafo - eles aparecem em azul e sublinhados
Posto isso, não podemos deixar de notar que os próprios documentos da ONU - como é o caso do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos - mencionam que a liberdade de expressão não dá direito a incitar a guerra, o preconceito ou o ódio por motivos religiosos, e que aqueles que o fizerem estarão sujeitos às penas da lei. Ora, se não pode haver censura prévia, por outro lado, há sempre responsabilidades posteriores pelo que se diz. Essa fronteira que separa o direito de dizer o que se pensa das injúrias e insultos é fundamental para garantir o respeito pelos outros e proteger as reputações individuais.

Na Conclusão, dividida em dois parágrafos, o autor lança a proposta de intervenção social que construiu a partir da própria reflexão encadeada: estimular a criação de mecanismos de autorregulação dos próprios profissionais e dos meios de comuni-cação. Ao mesmo tempo, sugere que o Estado não permita o monopólio desses meios.
Assim, fica claro que a liberdade de expressão tem seus limites: os legais, que serão esta-belecidos pelas instâncias competentes; e os morais, que cada um deve avaliar. A maneira mais objetiva de resolver esses dilemas é estimular a criação de mecanismos de autorre-gulação dos próprios profissionais e dos meios de comunicação, não por motivos comerci-ais ou políticos, mas sim éticos.

Dessa forma, os meios poderão estabelecer e divulgar seus códigos com os princípios e
compromissos assumidos. Além disso, de modo complementar, o Estado deveria ainda
garantir que não houvesse monopólios dos meios de informação, medida essencial para
promover o acesso à pluralidade de ideias.

Essa redação tem algum defeito? Tem sim, é muito comprida! Que tal você tentar dizer a mesma coisa em menos linhas?

EXERCÍCIO 17

Veja um texto possível, que retira alguns apostos explicativos da redação inicial dando-lhe mais leveza e enquadrando-a num tamanho mais próximo dos textos do Enem e da maioria dos vestibulares.

                                               É proibido proibir

O atentado contra o jornal satírico francês Charlie Hebdo, ocorrido em janeiro de 2015, trouxe à tona o debate sobre a liberdade de expressão e provocou a solidariedade do mundo inteiro. Mas uma pergunta ficou no ar: afinal, na liberdade de expressão vale tudo?

A liberdade de expressão é fundamental em qualquer sistema democrático. Garantida pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, é uma conquista da própria civilização.Quando colocada em risco, as vitimas somos todos nós.

Qualquer tipo de censura ou cerceamento da informação constitui, mais do que uma repre-sália a determinada mensagem, um ataque contra os valores que estão na base dessa li-berdade. Estabelecer limites por meio de violência é recurso de intolerantes e fanáticos para restringir o direito dos cidadãos. Como já diziam os jovens franceses no marcante movimento de 1968, "é proibido proibir':

Posto isso, não podemos deixar de notar que os próprios documentos da ONU mencionam que a liberdade de expressão não dá direito a incitar a guerra, o preconceito ou o ódio por motivos religiosos, e que aqueles que o fizerem estarão sujeitos às penas da lei. Ora, se não pode haver censura prévia, por outro lado há sempre responsabilidades posteriores pelo que se diz. Essa fronteira é fundamental para garantir o respeito pelos outros.


Assim, fica claro que a liberdade de expressão tem seus limites, legais e morais. A maneira mais objetiva de resolver esses dilemas é estimular a criação de mecanismos de autorregulação dos próprios profissionais e dos meios de comunicação. Além disso, de forma complementar, o Estado deveria ainda garantir que não houvesse monopólios dos meios de informação, medida essencial para promover o acesso à pluralidade de ideias. 

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