A PREDOMINÂNCIA CRÍTICA
Pode acontecer de o candidato deparar-se, numa prova, com um tema que se
adeque a uma crítica a determinada situação ou problema. Por isso, vamos
abordar este aspecto agora.
Esta técnica deve ser aplicada a temas que contêm uma crítica profunda.
Pode referir-se a algum aspecto da natureza humana, qualquer circunstancia da
nossa realidade nacional ou mundial. Evidentemente pode tratar-se de uma
questão política, um grave problema social, uma inadequação econômica, um
conflito entre nações, ou qualquer assunto que permita uma análise crítica ao
longo de toda a dissertação.
Observe
alguns temas que, a nosso ver, seriam desenvolvidos de maneira bastante
satisfatória, pela utilização desta técnica:
Torna-se cada vez mais difícil compreender como nosso país, com tantas
riquezas naturais e com essa imensidão de terras cultiváveis, consegue manter
grande parte de sua população em estado de miséria absoluta.
O ser humano, no decorrer de milênios de sua História, tem provado
possuir uma natureza profundamente destrutiva, que persiste independentemente
do desenvolvimento científico e cultural
da humanidade.
A defesa de seus interesses pessoais
e político-partidários faz com que a maioria dos políticos coloque em segundo
plano os interesses do país e, principalmente, do povo que vive em situação
econômica grave.
A
técnica da dissertação
com predominância crítica
apresenta o esquema abaixo:
Esquema de dissertação
nº 4
Título
1º parágrafo
|
Estabelecimento do tema (perplexidade diante
da situação).
|
Introdução
|
2º parágrafo
3º
parágrafo
|
Referência a fatos
do conhecimento público que confirmem a perplexidade.
Comentários críticos
(crítica dos fatos,
ideias ou circunstâncias).
|
Desenvolvimento
|
4º parágrafo
|
Considerações finais
(observação crítica, seguida
de uma expectativa).
|
Conclusão
|
Procuremos entender este esquema.
De início, o assunto é
estabelecido e pode-se demonstrar
perplexidade frente a uma situação que, por algum motivo, revolta-nos. Quando
se critica algo, tanto as ideias quanto a reação emocional aparecem. Porém a emoção deve ser dosada para não formularmos uma crítica grosseira. Sugerimos que, para
se conseguir uma certa sutileza, o uso do eufemismo (recurso estilístico
no qual dizemos algo trágico ou desagradável utilizando palavras amenas,
delicadas). Este recurso garante um mínimo de qualidade à dissertação crítica.
No desenvolvimento, o esquema
sugere que se façam referências a fatos
de conhecimento público
(notícias dadas pelos meios de comunicação, fatos históricos testemunhos de
fontes fidedignas, citações, etc.) que estejam associados ao assunto proposto
pelo tema. A mídia é abundante nesses
fatos, mas não se deve exagerar na linguagem, o que poderá prejudicar a
dissertação.
No segundo parágrafo do
desenvolvimento é a
vez dos comentários
críticos apresentados em
sequência associativa, ou seja, um comentário leva a outro, na
continuidade natural do raciocínio. Boa parte dos comentários refere-se
diretamente às ideias do parágrafo
anterior. Os demais são decorrência da abordagem do assunto. Convém que alguns recursos sejam usados para
enriquecer os comentários críticos. A comparação é um excelente recurso.
Comparar duas situações, regiões ou dois fatos similares, ou mesmo
duas pessoas com características afins é bastante recomendável,
inclusive para esclarecer certas afirmações ou tornar mais claro o que se quer
retratar.
A conclusão
é um comentário final, seguido de uma expectativa .Nela, tanto você pode
reafirmar sua perplexidade diante de situação tão adversa, quanto lamentar
este estado de coisas. Da mesma forma
poderá expressar o desejo de transformações, a resignação diante dos fatos, ou mesmo sua total
descrença, indignação ou qualquer outra
expectativa que tiver, depois de expostas todas as
circunstâncias que envolvem
o assunto.
Vejamos
um exemplo:
A IDADE
DA HUMILHAÇÃO
É claro que a corda
sempre se rompe do lado mais fraco, mas para tudo existe um limite que, quando
ultrapassado, causa-nos espanto, revolta e vergonha Até quando, neste país, o
aposentado será visto pelas autoridades como um cidadão de quinta categoria,
sobre o qual podem recair todos os tipos de infâmia?
Não é
segredo para ninguém que o salário do aposentado sempre esteve muito aquém de
suas necessidades básicas. Ao longo dos anos temos visto os indicadores financeiros apontando para uma
vertiginosa queda do valor real recebido
por esta categoria.
Muito embora a Constituição de 1988 tenha
garantido o recebimento do mesmo número de salários mínimos daquele da data de
cada aposentadoria, é de causar vergonha o que fez o primeiro governo eleito
pelo povo, após o período de exceção: a medida provisória que desvinculou o
rendimento dos idosos do salário mínimo pago aos trabalhadores em atividade,
isso sem falar do confisco dos ativos
financeiros daqueles que
economizaram durante toda
uma vida e
dificilmente esquecerão as enormes filas
de idosos, que se comprimiam a duras
penas nas agências
bancárias quando o governo, atendendo a inúmeros pedidos, resolveu
liberar o dinheiro de seus pais. Avós
e bisavós até então esquecidos no emaranhado de
cálculos e fórmulas da tecnocracia.
Exatamente como uma peteca, envolvido por uma
sequência interminável de
informações contraditórias, o aposentado
brasileiro tem vivido muito mais de
promessas do que de pão. Levando em conta os valores da
ética cristã e a civilidade própria das sociedades que alcançaram
um mínimo de desenvolvimento, questionamos nossos
valores, ao compararmos a situação
desses idosos com a dos velhos em algumas aldeias indígenas do
passado que não conseguiam mais prover seu sustento e eram levados a um
lugar distante da tribo, para encontrarem a morte.
Resta saber por quanto tempo mais o
aposentado e o indigente estarão no
mesmo patamar, depois das árduas décadas de empenho e sacrifício dos que
acreditaram no trabalho e na honestidade e, até o momento, receberam em
retribuição somente humilhações.
Como você deve ter percebido, desdobramos o primeiro parágrafo do desenvolvimento nas referências aos fatos
históricos. No quarto parágrafo do
texto (terceiro do desenvolvimento), concentramos os comentários críticos. Na conclusão, verifique que a expectativa
é estabelecida pelo tom amargo e desesperançoso. Este recurso é perfeitamente
aceitável na medida em que a expectativa desfavorável a qualquer mudança já
está sugerida pelas afirmações feitas.
EXERCÍCIO
Tente você agora. Escolha um dos temas do início desta postagem e
elabore uma dissertação de natureza critica. Se desejar, consulte o esquema. Não
se esqueça de compor um título bastante sugestivo para seu texto.
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