quarta-feira, 14 de outubro de 2015

A DISSERTAÇÃO COM PREDOMINÂNCIA CRÍTICA

                                    A  PREDOMINÂNCIA   CRÍTICA

         Pode acontecer de o candidato deparar-se, numa prova, com um tema que se adeque a uma crítica a determinada situação ou problema. Por isso, vamos abordar este aspecto agora.
       Esta técnica deve ser aplicada a temas que contêm uma crítica profunda. Pode referir-se a algum aspecto da natureza humana, qualquer circunstancia da nossa realidade nacional ou mundial. Evidentemente pode tratar-se de uma questão política, um grave problema social, uma inadequação econômica, um conflito entre nações, ou qualquer assunto que permita uma análise crítica ao longo de toda a dissertação.
       Observe alguns temas que, a nosso ver, seriam desenvolvidos de maneira bastante satisfatória, pela utilização desta técnica:

               Torna-se cada vez mais difícil compreender como nosso país, com tantas riquezas naturais e com essa imensidão de terras cultiváveis, consegue manter grande parte de sua população em estado de miséria absoluta.

              O ser humano, no decorrer de milênios de sua História, tem provado possuir uma natureza profundamente destrutiva, que persiste independentemente do desenvolvimento científico  e  cultural  da  humanidade.

           A defesa de seus interesses pessoais e político-partidários faz com que a maioria dos políticos coloque em segundo plano os interesses do país e, principalmente, do povo que vive em situação econômica grave.

        A  técnica  da  dissertação  com  predominância  crítica  apresenta  o esquema abaixo:

                                               Esquema  de  dissertação  nº  4
                                                                 Título
1º   parágrafo
Estabelecimento  do  tema (perplexidade  diante  da  situação).
Introdução
2º   parágrafo

parágrafo
Referência  a  fatos  do  conhecimento  público que confirmem a perplexidade.

Comentários críticos  (crítica  dos  fatos,  ideias  ou  circunstâncias).


Desenvolvimento
4º   parágrafo
Considerações  finais (observação  crítica,  seguida  de  uma  expectativa).
Conclusão

          Procuremos entender este esquema.
           De início, o assunto é estabelecido e  pode-se demonstrar perplexidade frente a uma situação que, por algum motivo, revolta-nos. Quando se critica algo, tanto as ideias quanto a reação emocional aparecem. Porém  a emoção deve ser dosada para não formularmos uma crítica grosseira. Sugerimos que,  para  se conseguir uma certa sutileza, o uso do eufemismo (recurso estilístico no qual dizemos algo trágico ou desagradável utilizando palavras amenas, delicadas). Este recurso garante um mínimo de qualidade à dissertação crítica.
            No desenvolvimento, o esquema sugere que se façam referências a fatos  de   conhecimento público (notícias dadas pelos meios de comunicação, fatos históricos testemunhos de fontes fidedignas, citações, etc.) que estejam associados ao assunto proposto pelo  tema. A mídia é abundante nesses fatos, mas não se deve exagerar na linguagem, o que poderá prejudicar a dissertação.
            No segundo  parágrafo  do  desenvolvimento  é  a  vez  dos  comentários  críticos apresentados em  sequência associativa, ou seja, um comentário leva a outro, na continuidade natural do raciocínio. Boa parte dos comentários refere-se diretamente às ideias  do parágrafo anterior. Os demais são decorrência da abordagem do assunto. Convém  que alguns recursos sejam usados para enriquecer os comentários críticos. A comparação é um excelente recurso. Comparar duas situações, regiões ou dois fatos similares, ou   mesmo  duas pessoas com características afins é bastante recomendável, inclusive para esclarecer certas afirmações ou tornar mais claro o que se quer retratar.
             A  conclusão é um comentário final, seguido de uma expectativa .Nela, tanto você pode reafirmar sua perplexidade diante de situação tão adversa, quanto lamentar este  estado de coisas. Da mesma forma poderá expressar o desejo de transformações, a resignação  diante dos fatos, ou mesmo sua total descrença, indignação  ou qualquer outra expectativa  que tiver,  depois de expostas todas as circunstâncias  que  envolvem  o  assunto.
           Vejamos  um  exemplo:

                                          A   IDADE   DA   HUMILHAÇÃO

                    É claro que a corda sempre se rompe do lado mais fraco, mas para tudo existe um limite que, quando ultrapassado, causa-nos espanto, revolta e vergonha Até quando, neste país, o aposentado será visto pelas autoridades como um cidadão de quinta categoria, sobre o qual podem recair todos os tipos de infâmia?
                     Não é segredo para ninguém que o salário do aposentado sempre esteve muito aquém de suas necessidades básicas. Ao longo dos anos temos visto os  indicadores financeiros apontando para uma vertiginosa queda do valor real recebido  por esta categoria.
                     Muito embora a Constituição de 1988 tenha garantido o recebimento do mesmo número de salários mínimos daquele da data de cada aposentadoria, é de causar vergonha o que fez o primeiro governo eleito pelo povo, após o período de exceção: a medida provisória que desvinculou o rendimento dos idosos do salário mínimo pago aos trabalhadores em atividade, isso sem falar do  confisco dos  ativos  financeiros daqueles que   economizaram  durante  toda  uma  vida   e  dificilmente esquecerão as enormes filas  de idosos, que se  comprimiam a duras penas   nas  agências  bancárias  quando o governo,  atendendo a inúmeros pedidos, resolveu liberar o dinheiro de seus  pais.  Avós  e  bisavós  até então esquecidos no emaranhado de cálculos e fórmulas  da  tecnocracia.
                    Exatamente como uma peteca, envolvido por uma sequência  interminável de informações  contraditórias, o aposentado brasileiro tem  vivido muito mais de promessas do que de pão. Levando em conta os valores  da  ética cristã e a civilidade própria das sociedades que alcançaram um  mínimo  de desenvolvimento, questionamos nossos valores, ao compararmos a situação  desses idosos com a dos velhos em algumas aldeias indígenas do passado  que não conseguiam  mais prover seu sustento e eram levados a um lugar distante da tribo, para encontrarem a morte.
                   Resta saber por quanto tempo mais o aposentado e o indigente  estarão no mesmo patamar, depois das árduas décadas de empenho e sacrifício dos que acreditaram no trabalho e na honestidade e, até o momento, receberam em retribuição somente humilhações.

             Como você deve ter percebido, desdobramos o primeiro parágrafo do desenvolvimento nas referências aos fatos históricos. No quarto parágrafo do texto (terceiro do desenvolvimento), concentramos os comentários críticos. Na conclusão, verifique que a expectativa é estabelecida pelo tom amargo e desesperançoso. Este recurso é perfeitamente aceitável na medida em que a expectativa desfavorável a qualquer mudança já está sugerida pelas afirmações feitas.

                                                      EXERCÍCIO
      Tente você agora. Escolha um dos temas do início desta postagem e elabore uma dissertação de natureza critica. Se desejar, consulte o esquema. Não se esqueça de compor um título bastante sugestivo para seu texto.



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