sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O QUE VOCÊ NÃO DEVE FAZER EM UMA DISSERTAÇÃO

        Agora que você já viu alguns tipos mais comuns de dissertação e estudou como fazer esta modalidade de composição nas postagens anteriores, é muito importante que atente para os principais procedimentos que não deve utilizar ao elaborar sua dissertação. Existem certos erros que fazem cair por terra seus esforços para construir uma redação adequada. Procuraremos fazer um levantamento daqueles mais frequentes para alertá-lo.

      Observe atentamente os pontos que vamos enumerar:

1. JAMAIS USE GÍRIAS EM SUA DISSERTAÇÃO. As gírias são um meio de expressão perfeitamente aceitável em certos momentos de textos narrativos, em especial nos diálogos travados por alguns personagens. Tornam-se, entretanto, completamente inadequadas quando usadas em uma dissertação. Esta modalidade de redação pressupõe uma linguagem formal, não necessariamente erudita. mas pelo menos bem elaborada. Mais do que palavras, um exemplo pode ilustrar com maior clareza os danos causados pela gíria em uma dissertação. Leia este trecho dissertativo:

2. NÃO UTILIZE PROVÉRBIOS OU DITOS POPULARES. Uma dissertação costuma ser prejudicada pela má utilização de frases feitas, provérbios e ditos populares. Eles empobrecem a redação; fazem parecer que seu autor não tem criatividade, pois lança mão de formas de expressão já batidas pelo uso frequente. Veja que efeito prejudicial causaria um provérbio em um texto dissertativo:

3. NÃO SE INCLUA EM SUA DISSERTAÇÃO (principalmente para contar fatos da sua vida particular). Dissertar é analisar um assunto proposto. emitindo opiniões gerais. Deve ser feito de modo impessoal e com total objetividade. Essa visão imparcial se perde quando o autor confunde a problemática que está analisando com os problemas particulares que possa ter. Note o que pode acontecer:

Observação: Você pode se posicionar sobre determinados temas. conforme foi visto no capítulo sobre os temas polêmicos, mas deve evitar a forma individualizada ao fazê-lo, como ocorre no exemplo acima.

4. NÃO  UTILIZE SUA DISSERTAÇÃO PARA PROPAGAR DOUTRINAS RELIGIOSAS. A religião, qualquer que seja ela, é uma questão de fé: a dissertação, por sua vez, é uma questão de argumentação, a qual se baseia na lógica.  São, portanto duas áreas situadas em diferentes planos. Não há como argumentar de modo convincente com base em dogmas religiosos: os preceitos da fé independem de provas ou evidências constatáveis. Torna-se,  assim. completamente descabido fundamentar qualquer tema dissertativo em ideias que se situem em um plano que transcende a razão. Veja o inconveniente desse procedimento, através deste  exemplo:

5.JAMAIS ANALISE OS TEMAS PROPOSTOS MOVIDO POR EMOÇÕES EXAGERADAS. Existem. sem dúvida, alguns temas dissertativos que envolvem a análise de assuntos dramáticos, os quais comumente causam revolta e indignação pela própria gravidade de sua natureza. Porém. por mais revoltante que se mostre o assunto tratado, ele deve ser abordado, em uma dissertação, de modo, se não imparcial, pelo menos comedido. Em outras palavras, não devemos deixar nossas emoções interferirem demasiadamente na análise equilibrada e objetiva que precisa transparecer em nossas dissertações, mesmo porque elas impedem que ponderemos outros ângulos da questão. Só assim, com a predominância da argumentação lógica, ela se mostrará convincente. Veja como a interferência do aspecto emocional pode prejudicar a elaboração deste modo:

6. NÃO UTILIZE EXEMPLOS CONTANDO FATOS OCORRIDOS COM TERCEIROS, QUE NÃO SEJAM DE DOMÍNIO PÚBLICO. É um procedimento perfeitamente normal lançarmos mão de exemplos que reforcem os fatos arrolados em uma dissertação. Entretanto, estes exemplos devem ser de conhecimento público, ou seja, fatos que lodos conheçam por terem sido divulgados pelos meios de comunicação (jornais, rádio, televisão, etc.)
   Não devemos, em hipótese alguma, introduzir na dissertação fatos ocorridos com pessoas que conhecemos particularmente. Isso daria um cunho pessoal a um tipo ele redação que se propõe a analisar assuntos gerais.

7. EVITE AS ABREVIAÇÕES. Procure escrever as palavras por extenso. As abreviações são consideradas incorretas. Você não deve escrever frases como estas:
O ministro c /seus assessores saíram da sala de reunião.
Verificaremos outros pontos da questão  p/compreendermos melhor esse assunto.
Os cidadãos daquele país tb se preocupam com a redemocratização.
Observação: As abreviações que se usam no MSN nem de brincadeira devem der usadas numa redação!

8. NUNCA REPITA VÁRIAS VEZES A MESMA PALAVRA. Um dos erros que mais prejudica a expressão adequada de suas ideias é a insistente repetição de uma mesma palavra. Isso causa uma impressão desagradável a quem lê sua redação, além de sugerir pobreza de vocabulário. Quando você constatar que repetiu várias vezes o mesmo vocábulo, procure imediatamente encontrar sinônimos que possam ser usados em substituição a ele. Observe um exemplo:

9. PROCURE  NÃO INOVAR, POR SUA CONTA, O ALFABETO DA LÍNGUA PORTUGUESA. Evidentemente, certas caligrafias apresentam algumas variações no modo de escrever determinadas letras do nosso alfabeto. No entanto, essa possível variação não deve ser exagerada a ponto de tornar a letra praticamente irreconhecível.

 10. TENTE  NÃO ANALISAR OS ASSUNTOS PROPOSTOS SOB APENAS UM DOS ÂNGULOS DA QUESTÃO. Uma boa análise pressupõe um exame equilibrado da realidade na qual se situa o assunto tratado em uma dissertação. O bom senso nas opiniões emitidas  está diretamente relacionado à capacidade de se enxergar o problema pelos diversos ângulos que apresenta. Uma análise extremamente radical ignora outros aspectos que devem ser levados em conta em uma reflexão equilibrada sobre qualquer tema, por isso é indesejável.

11. NAO FUJA AO TEMA PROPOSTO. Quando você receber um tema para dissertar sobre ele, leia-o com atenção e escreva sobre o que se pede. Jamais fuja do assunto solicitado, mesmo que seus conhecimentos sobre ele sejam mínimos. Costuma se atribuir nota zero (ou um pouco mais) a uma redação sobre outro assunto que não aquele pedido. Não é difícil entendermos o quanto seria absurdo alguém dissertar sobre os acidentes ocorridos em usinas nucleares em várias partes do mundo quando o tema pedido fosse o problema dos menores abandonados no Brasil.
      Para evitar esse tipo de inconveniência, antes de começar a elaborar a redação, convém ler várias vezes o tema para compreender exatamente o que está sendo solicitado.
     Às vezes comete-se um outro engano semelhante ao que foi comentado acima: pode acontecer de se desenvolver um tema similar àquele que foi proposto. Isso também prejudica demais a redação, pois mostra que a pessoa não apresenta capacidade de ler e interpretar corretamente a solicitação feita.
       Não cometa, por exemplo, o caso do aluno que, numa redação em que deveria falar sobre a importância do lazer, dissertou sobre a importância do laser.

ATENÇÃO!

           Até agora, neste capítulo, mostramos o que você não deve fazer em sua dissertação. Terminaremos este assunto com uma recomendação importantíssima sobre o que deve ser feito:
           Utilize sempre a 1ª pessoa do plural em vez da 1ª pessoa do singular em suas dissertações. Em outras palavras, você deve escrever "acreditamos", "entendemos", "analisamos", e não "acredito", "entendo", “analiso". Saiba que, embora possa parecer um tanto estranho, este é o procedimento habitual quando se redige uma dissertação. Todos os exemplos apresentados em capítulos anteriores foram redigidos na 1ª pessoa do plural. Para que você entenda melhor, daremos um exemplo transcrevendo a Conclusão de uma das composições mostradas em capítulo anterior, inicialmente na 1ª pessoa do singular e, depois, na 1ª pessoa do plural:

               Em vista do que foi observado, verifico a existência de um nítido contraste entre estas duas regiões brasileiras. Espero, como cidadão sensível a essa problemática, que não sejam poupados esforços para levar a todos os brasileiros condições dignas de subsistência.

               Em vista do que foi observado, verificamos a existência de um nítido contraste entre as duas regiões brasileiras. Esperamos, como cidadãos sensíveis à problemática, que não sejam poupados esforços para levar a todos  os brasileiros condições dignas de subsistência.

            Leia com atenção os dois parágrafos conclusivos e observe o diferente efeito causado pelo uso de uma ou de outra pessoa do discurso. Parece-nos indiscutível o fato de a 1ª pessoa do plural imprimir à redação um cunho impessoal, além de elevar o nível da linguagem. Ademais, é a forma convencionalmente usada nas dissertações em geral.
           Para finalizar nossas considerações sobre a dissertação, convém dar uma última sugestão: procure sempre se manter informado sobre os mais diversos assuntos. Quanto melhor você conseguir compreender as questões econômicas, políticas e sociais de seu país e do exterior, maiores condições terá de redigir sobre qualquer tema.
          Não perca oportunidades de conversar com pessoas que conheçam determinado assunto, numa tentativa de aprender algo com elas. Ler jornais e revistas, assistir a programa" de telejornalismo, ouvir entrevistas pelas emissoras de rádio também parece-nos muito importante.
          Somando o que você puder aprender através destes procedimentos às informações que lhe são transmitidas durante as aulas, você certamente ampliará cada vez mais sua cultura geral.



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