Agora
que você já viu alguns tipos mais comuns de dissertação e estudou como fazer esta modalidade de composição nas postagens anteriores, é muito importante que atente para os principais procedimentos que
não deve utilizar ao elaborar sua dissertação. Existem certos erros que fazem
cair por terra seus esforços para construir uma redação adequada. Procuraremos
fazer um levantamento daqueles mais frequentes para alertá-lo.
Observe
atentamente os pontos que vamos enumerar:
1. JAMAIS USE GÍRIAS EM SUA DISSERTAÇÃO. As gírias são um meio de expressão perfeitamente aceitável em certos
momentos de textos narrativos, em especial nos diálogos travados por alguns
personagens. Tornam-se, entretanto, completamente inadequadas quando usadas em
uma dissertação. Esta modalidade de redação pressupõe uma linguagem formal, não
necessariamente erudita. mas pelo menos bem elaborada. Mais do que palavras, um
exemplo pode ilustrar com maior clareza os danos causados pela gíria em uma
dissertação. Leia este trecho dissertativo:
2. NÃO UTILIZE PROVÉRBIOS OU DITOS POPULARES. Uma dissertação costuma ser prejudicada pela má utilização de frases
feitas, provérbios e ditos populares. Eles empobrecem a redação; fazem parecer
que seu autor não tem criatividade, pois lança mão de formas de expressão já
batidas pelo uso frequente. Veja que efeito prejudicial causaria um provérbio
em um texto dissertativo:
3. NÃO SE INCLUA EM SUA DISSERTAÇÃO
(principalmente para contar fatos da sua vida particular). Dissertar é analisar
um assunto proposto. emitindo opiniões gerais. Deve ser feito de modo impessoal
e com total objetividade. Essa visão imparcial se perde quando o autor confunde
a problemática que está analisando com os problemas particulares que possa ter.
Note o que pode acontecer:
Observação: Você pode se posicionar sobre determinados
temas. conforme foi visto no capítulo sobre os temas polêmicos, mas deve evitar
a forma individualizada ao fazê-lo, como ocorre no exemplo acima.
4. NÃO UTILIZE SUA DISSERTAÇÃO
PARA PROPAGAR DOUTRINAS RELIGIOSAS. A religião,
qualquer que seja ela, é uma questão de fé: a dissertação, por sua vez, é uma
questão de argumentação, a qual se baseia na lógica. São, portanto duas áreas situadas em diferentes
planos. Não há como argumentar de modo convincente com base em dogmas
religiosos: os preceitos da fé independem de provas ou evidências constatáveis.
Torna-se, assim. completamente descabido
fundamentar qualquer tema dissertativo em ideias que se situem em um plano que
transcende a razão. Veja o inconveniente desse procedimento, através deste exemplo:
5.JAMAIS ANALISE OS TEMAS PROPOSTOS MOVIDO POR EMOÇÕES EXAGERADAS. Existem. sem dúvida, alguns temas dissertativos que envolvem a
análise de assuntos dramáticos, os quais comumente causam revolta e indignação
pela própria gravidade de sua natureza. Porém. por mais revoltante que se
mostre o assunto tratado, ele deve ser abordado, em uma dissertação, de modo,
se não imparcial, pelo menos comedido. Em outras palavras, não devemos deixar
nossas emoções interferirem demasiadamente na análise equilibrada e objetiva
que precisa transparecer em nossas dissertações, mesmo porque elas impedem que
ponderemos outros ângulos da questão. Só assim, com a predominância da
argumentação lógica, ela se mostrará convincente. Veja como a interferência do
aspecto emocional pode prejudicar a elaboração deste modo:
6. NÃO UTILIZE EXEMPLOS CONTANDO FATOS OCORRIDOS COM TERCEIROS, QUE
NÃO SEJAM DE DOMÍNIO PÚBLICO. É um
procedimento perfeitamente normal lançarmos mão de exemplos que reforcem os fatos
arrolados em uma dissertação. Entretanto, estes exemplos devem ser de
conhecimento público, ou seja, fatos que lodos conheçam por terem sido
divulgados pelos meios de comunicação (jornais, rádio, televisão, etc.)
Não
devemos, em hipótese alguma, introduzir na dissertação fatos ocorridos com
pessoas que conhecemos particularmente. Isso daria um cunho pessoal a um tipo
ele redação que se propõe a analisar assuntos gerais.
7. EVITE AS ABREVIAÇÕES. Procure
escrever as palavras por extenso. As abreviações são consideradas incorretas.
Você não deve escrever frases como estas:
O ministro c /seus assessores saíram da sala
de reunião.
Verificaremos outros pontos da questão p/compreendermos melhor esse assunto.
Os cidadãos daquele país tb se preocupam com a
redemocratização.
Observação: As abreviações que se usam no MSN nem de
brincadeira devem der usadas numa redação!
8. NUNCA REPITA VÁRIAS VEZES A MESMA PALAVRA. Um dos erros que mais prejudica a expressão adequada de suas ideias é
a insistente repetição de uma mesma palavra. Isso causa uma impressão
desagradável a quem lê sua redação, além de sugerir pobreza de vocabulário.
Quando você constatar que repetiu várias vezes o mesmo vocábulo, procure
imediatamente encontrar sinônimos que possam ser usados em substituição a ele.
Observe um exemplo:
9. PROCURE NÃO INOVAR, POR SUA
CONTA, O ALFABETO DA LÍNGUA PORTUGUESA.
Evidentemente, certas caligrafias apresentam algumas variações no modo de
escrever determinadas letras do nosso alfabeto. No entanto, essa possível
variação não deve ser exagerada a ponto de tornar a letra praticamente
irreconhecível.
10. TENTE NÃO ANALISAR OS ASSUNTOS PROPOSTOS SOB APENAS
UM DOS ÂNGULOS DA QUESTÃO. Uma boa análise
pressupõe um exame equilibrado da realidade na qual se situa o assunto tratado
em uma dissertação. O bom senso nas opiniões emitidas está diretamente relacionado à capacidade de
se enxergar o problema pelos diversos ângulos que apresenta. Uma análise
extremamente radical ignora outros aspectos que devem ser levados em conta em
uma reflexão equilibrada sobre qualquer tema, por isso é indesejável.
11. NAO FUJA AO TEMA PROPOSTO. Quando você receber um
tema para dissertar sobre ele, leia-o com atenção e escreva sobre o que se
pede. Jamais fuja do assunto solicitado, mesmo que seus conhecimentos sobre ele
sejam mínimos. Costuma se atribuir nota zero (ou um pouco mais) a uma redação
sobre outro assunto que não aquele pedido. Não é difícil entendermos o quanto
seria absurdo alguém dissertar sobre os acidentes ocorridos em usinas nucleares
em várias partes do mundo quando o tema pedido fosse o problema dos menores
abandonados no Brasil.
Para
evitar esse tipo de inconveniência, antes de começar a elaborar a redação,
convém ler várias vezes o tema para compreender exatamente o que está sendo
solicitado.
Às
vezes comete-se um outro engano semelhante ao que foi comentado acima: pode
acontecer de se desenvolver um tema similar àquele que foi proposto. Isso
também prejudica demais a redação, pois mostra que a pessoa não apresenta
capacidade de ler e interpretar corretamente a solicitação feita.
Não cometa, por exemplo, o caso do aluno que, numa redação em que
deveria falar sobre a importância do
lazer, dissertou sobre a importância do laser.
ATENÇÃO!
Até agora, neste capítulo, mostramos o que você não deve fazer em sua
dissertação. Terminaremos este assunto com uma recomendação importantíssima
sobre o que deve ser feito:
Utilize sempre a 1ª pessoa do plural em vez da 1ª pessoa do singular em
suas dissertações. Em outras palavras, você deve escrever
"acreditamos", "entendemos", "analisamos", e não
"acredito", "entendo", “analiso". Saiba que, embora
possa parecer um tanto estranho, este é o procedimento habitual quando se
redige uma dissertação. Todos os exemplos apresentados em capítulos anteriores
foram redigidos na 1ª pessoa do plural. Para que você entenda melhor, daremos
um exemplo transcrevendo a Conclusão
de uma das composições mostradas em capítulo anterior, inicialmente na 1ª pessoa
do singular e, depois, na 1ª pessoa do plural:
Em vista do que foi observado, verifico a
existência de um nítido contraste entre estas duas regiões brasileiras. Espero,
como cidadão sensível a essa problemática, que não sejam poupados esforços para
levar a todos os brasileiros condições dignas de subsistência.
Em vista do que foi observado, verificamos a existência de um nítido
contraste entre as duas regiões brasileiras. Esperamos, como cidadãos sensíveis
à problemática, que não sejam poupados esforços para levar a todos os brasileiros condições dignas de
subsistência.
Leia com atenção os dois parágrafos conclusivos e observe o diferente
efeito causado pelo uso de uma ou de outra pessoa do discurso. Parece-nos
indiscutível o fato de a 1ª pessoa do plural imprimir à redação um cunho
impessoal, além de elevar o nível da linguagem. Ademais, é a forma
convencionalmente usada nas dissertações em geral.
Para finalizar nossas considerações sobre a dissertação, convém dar uma
última sugestão: procure sempre se manter informado sobre os mais diversos
assuntos. Quanto melhor você conseguir compreender as questões econômicas, políticas
e sociais de seu país e do exterior, maiores condições terá de redigir sobre
qualquer tema.
Não perca oportunidades de conversar com pessoas que conheçam
determinado assunto, numa tentativa de aprender algo com elas. Ler jornais e
revistas, assistir a programa" de telejornalismo, ouvir entrevistas pelas
emissoras de rádio também parece-nos muito importante.
Somando o que você puder aprender através destes procedimentos às
informações que lhe são transmitidas durante as aulas, você certamente ampliará
cada vez mais sua cultura geral.
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