quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

O RESUMO DE IDEIAS

   Conforme vimos, a redação na qual expressamos nossas ideias sobre determinado assunto denomina-se dissertação. Nesse tipo de composição existe uma ideia central, que tentamos defender pela apresentação de argumentos. No decorrer da dissertação. esses argumentos são expostos de modo a explicar detalhadamente nossas ideias acerca do assunto tratado.
   Para resumir um texto dissertativo. basta que procuremos a ideia central. Ela está diretamente relacionada ao assunto básico; é o que chamamos tema. Normalmente, vem no primeiro parágrafo da dissertação: é uma afirmação que fazemos sobre o assunto tratado. Depois de encontrar essa afirmação (ideia central do texto), buscamos os ar- gumentos principais utilizados no texto para a comprovação dessa afirmativa.
   No resumo não devem constar ideias secundárias, detalhes de menor importância e exemplos referidos na argumentação. Ele deve ser somente constituído dos elementos indispensáveis para a compreensão das ideias básicas do texto.
  Observemos primeiramente como uma ideia central (tema) pode ser desenvolvida através da argumentação. Em seguida, utilizaremos o processo inverso, no qual você terá que resumir os textos que lhe serão apresentados.
    Vamos partir da seguinte ideia central.

No processo educacional deveria haver dois objetivos básicos: estimular um comportamento ético e despertar o estudante para as suas aptidões.

     Uma vez apresentada a ideia, buscaremos argumentos que justifiquem essa afirmação:

ARGUMENTO I

            Parece-nos que é função primordial da escola tentar  cons-                                 
            cientizar o indivíduo dos limites do seu espaço de atuação     
            no grupo social, de modo a torná-Io um ser dotado  de  so-
            ciabilidade e ética.
             

ARGUMENTO 2

             Pelo estudo das diversas disciplinas, o aluno entra em contato
             com diferentes áreas de atividades. Isso possibilita que ele per-
             ceba suas aptidões.

       A partir dessa idéia central e dos argumentos, seria possível elaborar o seguinte texlo dissertativo:

                     O PROCESSO EDUCACIONAL E SEUS OBJETIVOS

        Quando se analisa o processo educacional e se questionam seus principais objetivos, não podemos deixar de observar a existência de dois planos diferenciados: o aspecto individual, relacionado ao comportamento do aluno, e o profissional, voltado para o despertar de suas potencialidades.
        Na escola, a criança tem a oportunidade de participar de um pequeno grupo social mais complexo que o grupo familiar. Desde cedo, é função do educador tentar mostrar, por palavras e atitudes, a importância de certos fundamentes básicos da convivência social: o comportamento ético em relação aos colegas e professores, a preservação do ambiente, o respeito pelos regulamentos e também a conscientização de seus direitos como estudantes.
      Além disso, parece-nos essencial que, uma vez observada determinada aptidão para certas atividades, o aluno seja incentivado a desenvolvê-las progressivamente. Estimular a curiosidade científica, a expressão escrita e oral, levar o aluno a pesquisar assuntos de seu interesse, dentre outras coisas, darão a ele a oportunidade de escolher uma profissão através da qual se realize.
     Dessa forma, a escola estaria prestando uma colaboração indispensável para formar cidadãos preparados para conviver harmoniosamente com a comunidade e dela participar de modo efetivo, no desempenho de sua função profissional.

RESUMO DO TEXTO

     Entendemos que os objetivos básicos do processo educacional deveriam ser estimular um comportamento adequado no convívio social e possibilitar que o estudante descobrisse suas aptidões profissionais.
     É função da escola tentar conscientizar cada um da importância do respeito que se deve ter por todos os semelhantes. Da mesma forma, o estabelecimento de ensino tem como meta central colocar o aluno diante das mais diferentes áreas de atividades, para perceber suas inclinações e escolher uma profissão através da qual possa se realizar.


    Veja que, no resumo, você utiliza as suas próprias palvras. Não convém copiar trechos do texto de  modo a construir o resumo. Ele deve nascer da compreensão do texto e reunir somente as ideias principais nele contidas.

EXERCÍCIOS
Tente resumir algumas das dissertações apresentadas nas postagens anteriores. Sugerimos que você reúna o tema e os argumentos utilizados em cada texto, a fim de sintetizar as ideias centrais. Para facilitar  sua escolha, reproduzimos a seguir, algumas dessas dissertações.


                                  TERRA,  UMA  PREOCUPAÇÃO  CONSTANTE
                 
            Chegando ao terceiro milênio, o homem ainda não conseguiu resolver graves problemas que preocupam a todos,  pois existem populações imersas em completa miséria, a paz é interrompida frequentemente por conflitos internacionais  e, além do mais, o meio ambiente encontra-se ameaçado por sério desequilíbrio ecológico.
          Embora o planeta disponha de riquezas incalculáveis — estas, mal distribuídas, quer entre Estados, quer entre indivíduos —, encontramos legiões de famintos em pontos específicos da Terra. Nos países do Terceiro Mundo, sobretudo em certas regiões da África e Ásia, vemos, com tristeza, a falência da solidariedade humana e da colaboração entre as nações, com a a fome e as doenças matando milhares de pessoas
            Além disso, nestas últimas décadas, temos assistido, com certa preocupação, aos inúmeros conflitos internacionais que se sucedem. Muitos trazem na memória a triste lembrança das guerras que dizimaram populações . Em nossos dias, testemunhamos conflitos na antiga Iugoslávia, em alguns países membros da Comunidade dos Estados Independentes, sem falar da Guerra do Golfo, que tanta apreensão nos causou. Atualmente, temos os constantes ataques terroristas dos Estados Islâmicos, causando tantas mortes O caso dos sírios que estão fugindo de seu país devido à guerra, arriscando-se em barcos pelo mar, muitos morrendo afogados, é um trágico exemplo desse problema atualmente.
      Outra preocupação constante é o desequilíbrio ecológico, provocado pela ambição desmedida de alguns, que promovem desmatamentos desordenados, poluem as águas dos rios, jogam lixo em lugares inadequados, poluindo cada vez mais o meio ambiente. Também há os casos de desmatamento descontrolado, da realização de queimadas, que destroem o ecossistema. Tais atitudes contribuem para que o meio ambiente, em virtude de tantas agressões, acabe por se transformar em local inabitável.
         Em virtude dos fatos mencionados, somos levados a acreditar que o homem está muito longe de solucionar os graves problemas que afligem diretamente uma grande parcela da humanidade e indiretamente a qualquer pessoa consciente e solidária. É desejo de todos nós que algo seja feito no sentido de conter essas forças ameaçadoras, para podermos suportar as adversidades e construir um mundo que, por ser justo e pacífico, será mais facilmente habitado pelas gerações vindouras.


                                                A  PENA  DE  MORTE

      Cogita-se, com muita frequência, sobre a implantação da pena de morte no Brasil. Muitos aspectos devem ser analisados na abordagem dessa questão.
      Os defensores da pena de morte argumentam que ela intimidaria os assassinos perigosos, impedindo-os de cometer crimes monstruosos, dos quais costumeiramente temos noticia. Além do mais, aliviaria, em certa medida, a superlotação dos presídios. Isso sem contar que certos criminosos, considerados irrecuperáveis, deveriam pagar com a morte por seus crimes bárbaros.
        Outros, porém, não conseguem admitir a ideia de um ser humano tirar a vida de um semelhante, por mais terrível que tenha sido o delito cometido. Há registros históricos de pessoas executadas injustamente, pois as provas de sua inocência evidenciaram-se após o cumprimento da sentença. Por outro lado, a vigência da pena de morte não é capaz de, por si só, desencorajar a prática de crimes: estes não deixaram de ocorrer nos países em que ela é ou foi implantada.
     Por todos esses aspectos, percebemos o quanto é difícil nos posicionarmos categoricamente contra ou a favor da implantação da pena da morte no Brasil. Enquanto esse problema é motivo de debates, só nos resta esperar que a lei consiga atingir os infratores com justiça e eficiência, independentemente de sua situação socioeconômica. Isso se faz necessário para defender os direitos de cada cidadão brasileiro das mais diversas formas de agressão das quais é hoje vitima constante.

                                               ALÉM DA DOR   

    Difíceis, sacrificados, penosos. Isso é o mínimo que podemos dizer destes últimos anos em que o povo, saindo do regime de exceção, percorre a árdua trajetória na reconquista da liberdade e da consolidação das instituições democráticas.
  Ninguém pode negar que hoje vivemos em plena liberdade. Todo e qualquer cidadão tem a possibilidade de expressar-se sobre os assuntos de seu interesse e inexiste a censura nos espetáculos artísticos e meios de comunicação. Entretanto, para que chegássemos a viver respirando liberdade, foi necessário um reaprendizado, durante o período de transição democrática, no qual o cidadão confundia frequentemente a liberdade com a crítica irresponsável e desprovida de qualquer fundamentação. A liberdade associada à responsabilidade é uma conquista que ainda está por ser completamente alcançada.
   Vítima do despreparo de nossos governantes, no que se refere à planificação, à elaboração de diretrizes viáveis e duradouras, nossa nação tem sido progressivamente esmagada por planos econômicos mirabolantes e efêmeros, que instalam a desconfiança, a insegurança em todos os setores produtivos da economia. Apesar d equívocos ou descasos dos que detêm a responsabilidade de suprir as necessidades primordiais do povo, nossas instituições solidificam-se a cada dia. O Congresso Nacional faz-se presente nos momentos decisivos da nossa história, não obstante seus graves problemas estruturais. E, além disso, os poderes Executivo e Judiciário nunca antes trabalharam com tanta independência e relativa tranquilidade.
  Assim, embora famintos em sua maioria, apreensivos em sua quase totalidade, a nação aguarda, ora mais esperançosa, ora em desalento, que o seu sacrifício diuturno além de garantir a liberdade e manter as instituições, possa também ter valido a pena, no momento em que vir garantido o direito de prover seu sustento com dignidade.

                                       TRIBUTO SOBRE A FOME

    A maneira mais fácil de um governo resolver problemas com rapidez é aumentar a carga tributária. Quando já não é viável aumentar o que já foi diversas vezes aumentado, criam-se novos impostos. No Brasil, este procedimento é rotineiro e contribui  para acelerar o processo de   pauperização do nosso povo.
   Os especialistas em Direito Tributário estimam que o número de impostos pagos pelos brasileiros é de, no mínimo, sessenta. São inúmeros os tributos indiretos que, cobrados em cada produto que adquirimos, incidem igualmente sobre o cidadão, quer ele ganhe um salário mínimo, quer seja um poderoso industrial.
  O mais assustador não é o número de impostos, mas o fato de que tendem a aumentar com o passar do tempo. É admirável a criatividade de nossos governantes no que tange à implantação de impostos insólitos, como o selo-pedágio, o compulsório sobre os combustíveis e tantos outros.  Alguns deles, de tão bizarros, fazem lembrar do imposto sobre as janelas, instituído em há séculos na Inglaterra, e que determinou o tamanho diminuto das janelas construídas na época.
  O número exorbitante de tributos, principalmente os indiretos, colaboram de maneira substancial para o empobrecimento progressivo e acelerado da nossa população, agravando os problemas sociais, martirizando aqueles que, embora trabalhando de sol a sol, não conseguem prover seu sustento.
   É de se lamentar que a mesma criatividade demonstrada por muitos dos nossos governantes para a criação de novos tributos não seja novo tributos não seja plenamente utilizada para encontrar soluções para os problemas emergenciais que angustiam a população.


sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

A TÉCNICA DO RESUMO

O resumo de fatos

     Para você resumir qualquer texto, é fundamental que, antes de fazê-I, observe a diferença entre uma informação central e os detalhes referentes a ela. Para tanto, parti- remos de um fato central, ao qual acrescentaremos informações adicionais.

    Observe o seguinte fato:
     
                               Os amigos de Maria fizeram uma grande festa.

      Nela existe uma referência a um fato específico: uma festa realizada pelos amigos
de Maria.
     Veja agora como é possível aumentar essa frase com dados adicionais.
    
    Inicialmente fornecemos uma característica de Maria:
   
    Os amigos de Maria, funcionária de uma importante firma, fizeram uma grande festa.
   
     Agora podemos acrescentar uma referência de lugar a essa frase:

     Os amigos de Maria, funcionária de uma importante firma, fizeram, na sala do gerente de vendas, uma grande festa.
   
     Somamos  a todas essas .informações uma referência de tempo:

     Os amigos de Maria, funcionária de uma importante firma, fizeram, na sala do gerente de vendas, uma grande festa durante a tarde de ontem.
  
    A respeito do fato acontecido (a festa), vamos agora explicar a causa:

    Os amigos de Maria, funcionária de uma importante firma, fizeram, na sala do gerente de vendas, uma grande festa durante a tarde de ontem, em comemoração a seu aniversário.

   Informamos agora a frequência com que esse fato ocorre:

    Como acontece todos os anos, os amigos de Maria, funcioná- ria de uma importante firma, fizeram, na sala do gerente de vendas. uma grande festa durante a tarde de ontem, em comemoração a seu aniversário.

     Veja como você deve fazer para resumir esse parágrafo: basta que exclua as infor- mações adicionais que podem ser dadas acerca do fato e deixar apenas os elementos essenciais, para transmitir a informação central. Entendemos por informações adicionais referências ao tempo, ao lugar, à frequência com que o fato ocorre, às características das pessoas envolvidas, à causa do fato. a indicações de instrumentos utilizados para sua realização, etc.

     Observe também que o resumo pode ter o tamanho que você desejar. Por exemplo, no caso do parágrafo acima, você pode resumi-lo de modo a dar somente as informações estritamente essenciais:

     Os amigos de Maria fizeram uma grande festa.
   
    Você também pode fazer o resumo de modo a incluir somente as referências  de tem-
po e lugar:
   
   Os amigos de Maria fizeram uma grande festa, na sala do gerente de vendas, durante a tarde de ontem.
   
   É bom. porém, em seu resumo, eliminar detalhes de menor significação.

EXERCÍCIO

Transcreva, em seu caderno, a informação central dos fatos que se encontram em cada um dos parágrafos seguintes.

a)Em virtude de inúmeros atentados de grupos terroristas, o presidente de uma das potências mundiais ordenou, na semana passada. um ataque aéreo de grandes pro- porções, em vários pontos daquela cidade.

b)Acompanhado por seus assistentes, o famoso cirurgião, personalidade respeitada em todo ° mundo, desembarcou, nas primeiras horas da manhã, na cidade de Santos, convidado pelas mais altas autoridades do nosso país.

c)Os lenhadores, com seus machados em punho, derrubaram, de modo impiedoso , árvores seculares daquela mata, importante reserva florestal da região, em uma sombria
tarde de inverno.

d)Na presença de seus secretários, o prefeito da cidade, ilustre homem público, inau- gurou hoje um importante centro cultural em um dos bairros mais movimentados de São Paulo, metrópole das mais progressistas do país.

O resumo dos fatos principais de um texto narrativo

    Até agora você resumiu apenas parágrafos, buscando sua ideia central. Vamos tentar resumir textos narrativos que apresentem uma sequência de fatos. Neste caso, você deve, em seu resumo, mencionar o nome dos principais personagens, onde e quando os principais fatos ocorreram. Lembre-se de que convém selecionar apenas os fatos principais da narrativa, excluindo os de menor importância e outros detalhes de pouca significação.
    Vejamos um exemplo:

Personagens: Marcos, seu irmão e um amigo.
Local: a casa de Marcos.
Tempo: final do mês de abril.
Fatos principais:
1) Marcos ganha um jogo eletrônico em seu aniversário.
2) Ele e seu irmão brincam durante toda a tarde.
3) Lembram-se de que um amigo que mora no mesmo prédio gostaria de brincar com eles.
4) Marcos telefona para seu amigo.
5) Ele chega logo em seguida ao telefonema.              
6) Os três brincam até a hora do jantar.

    A partir dos dados do quadro acima poderíamos compor a seguinte narração:

                                      Um presente muito especial
      Marcos não via a hora que chegasse seu aniversário, no final do mês de abril. Contava os dias, as horas e os minutos, pois sabia que ganharia um jogo eletrônico, pelo qual esperava com tanta ansiedade.
     O tempo passou lentamente, mas finalmente chegou o dia tão esperado. Ao acordar, olhou para o lado e junto à sua cama estava o brinquedo de seus sonhos.          .'
     Súbito saltou da cama, deu pulos de alegria e correu para chamar o irmão e mostrar-lhe seu presente. Seus olhos brilhavam de satisfação quando, juntamente com o irmãozinho, começou a brincar.
     Durante toda a tarde não saíram de perto do novo brinquedo. Foi só quando já estava quase escurecendo que lembraram de convidar um amigo de Marcos, o qual morava no mesmo prédio, para brincar com eles.
     Assim que telefonou para o amigo, ele correu para o apartamento e os três brincaram até a hora do jantar.


      Para resumir um texto dessa natureza, você deve mencionar os elementos essenciais a partir dos quais a composição foi elaborada, ou seja, os personagens, o local, o tempo e os fatos principais. Naturalmente, mencionará os personagens da história no decorrer de seu resumo. Não convém citá-los isoladamente, antes de falar dos fatos principais.
     Observe como seria o resumo dessa narração:

Resumo do texto
     Marcos aguardava ansiosamente pelo dia do seu aniversário, no final do mês de abril, pois ganharia um jogo eletrônico. Ao acordar, nesse dia, encontrou o presente. Foi correndo mostrá-lo a seu irmão, com o qual brincou durante toda a tarde. Lembrou-se de telefonar para um amigo que morava no mesmo prédio, chamando-o para brincar também. Os três se divertiram muito com o jogo até a hora do jantar.

EXERCÍCIO
   Releia cada uma das quatro narrações apresentadas neste livro: O incêndio. Com a fúria de um vendaval. O primeiro dia no cursinho. Um ato involuntário (transcritas a seguir). Determine, em cada uma delas, os seguintes elementos: personagens, local, tempo e fatos principais, da maneira como fizemos neste capítulo para a narração Um presente muito especial. Logo após, resuma cada uma das quatro narrações, conforme foi feito no exemplo mostrado neste capítulo.
           
                                                    O INCÊNDIO       .
     
      Ocorreu um pequeno incêndio na noite de ontem, em um apartamento de propriedade do sr. Marcos da Fonseca.
      No local habitavam o proprietário, sua esposa e seus dois filhos. Todos eles, na hora em que o fogo começou, tinham saído de casa e estavam jantando em um restaurante situado em frente ao edifício. A causa do incêndio foi um curto-circuito ocorrido no precário sistema elétrico do velho apartamento.
     O fogo despontou em um dos quartos que, por sorte, ficava na frente do prédio. O porteiro do restaurante, conhecido da família, avistou-o e imediatamente foi chamar o sr. Marcos. Ele, mais que depressa, ligou para o Corpo de Bombeiros.
     Embora não tivessem demorado a chegar, os bombeiros não conseguiram impedir que o quarto e a sala ao lado fossem inteiramente destruídos pelas chamas. Não obstante o prejuízo, a família consolou-se com o fato de aquele incidente não ter tomado maiores proporções, atingindo os apartamentos vizinhos.
           
                                      COM A FÚRIA DE UM VENDAVAL    .
   
     Em uma certa manhã acordei entediada. Estava em minhas férias escolares do mês de julho. Não pudera viajar. Fui ao portão e avistei, três quarteirões ao longe, a movimentação de uma feira livre.
    Não tinha nada para fazer, e isso estava me matando de aborrecimento. Embora soubesse que uma feira livre não constitui exatamente o melhor  divertimento do qual um ser humano pode dispor, fui andando, a passos lentos em direção àquelas barracas. Não esperava ver nada de original, ou mesmo interessante. Como é triste o tédio! Logo que me aproximei, vi uma senhora alta, extremamente gorda, discutindo com um feirante.
     O homem, dono da barraca de tomates, tentava em vão acalmar a nervosa senhora. Não sei por que brigavam, mas sei o que vi: a mulher, imensamente gorda, mais do que gorda (monstruosa), erguia seus enormes braços e, com os punhos cerrados, gritava contra o feirante. Comecei a me assustar, com medo de que ela destruísse a barraca (e talvez o próprio homem) devido à sua fúria incontrolável. Ela ia gritando e se empolgando com sua raiva crescente e ficando cada vez mais vermelha, assim como os tomates, ou até mais.
     De repente, no auge de sua ira, avançou contra o homem já atemorizado  e, tropeçando em alguns tomates podres que estavam no chão, caiu, tombou, mergulhou, esborrachou-se no asfalto, para o divertimento do pequeno público que, assim como eu, assistiu àquela cena incomum.
                       
                                   O PRIMEIRO DIA NO CURSINHO          .
     
       Maria Helena acabava de matricular-se em um famoso cursinho, desses que preparam os alunos para os exames vestibulares.
      Logo no primeiro dia de aula, depois de subir os seis lances de escadas que a conduziam à sua classe de duzentos e quarenta alunos, entrou na sala espantada com a quantidade de colegas. Assistiu às três primeiras aulas (ou conferências) que os professores deram com o auxílio de microfones.
    Quando bateu o sinal do intervalo, tentou encontrar a lanchonete que ficava no térreo. Maria Helena então começou a descer os seis lances de escadas, acompanhada por uma quantidade incontável de pessoas, ou seja, os colegas das outras quinze salas de aula existentes em cada andar. Sentia-se como uma torcedora saindo do Morumbi depois de um clássico.
    Após algum tempo, chegou ao térreo e lá avistou uma aglomeração comparável ao público que comparecia aos comícios das "Diretas". Olhou para todos os lados e não viu lanchonete alguma.
    Pouco tempo depois, descobriu que a lanchonete era lá mesmo, mas não dava para ver a caixa registradora, situada a alguns metros dela, de tanta gente que havia. Ela já estava na fila da caixa e não sabia.
                        .
                                     UM ATO INVOLUNTÁRIO
            .           .  
    Após assistir às aulas do cursinho, em seu primeiro dia de aula, Maria Helena dirigiu-se ao ponto de ônibus.
    Em volta do ponto havia dezenas de pessoas, alunos com seu material escolar na mão, à espera dos transportes coletivos que passavam por aquela imensa avenida. Aproximava-se o seu ônibus. Ao avistá-lo, notou que vinha superlotado e decidiu esperar por um outro veículo da mesma linha. Ele certamente passaria cinco minutos depois.
    Ela estava no ponto, cercada por inúmeras pessoas, e não sabia que  a maioria  delas iria entrar nesse ônibus abarrotado. De repente, quando o veículo parou,  todos correram. em direção à porta, carregando junto Maria Helena. Ela, sem querer, impulsionada pelos outros que a circundavam, subiu a escada do ônibus, contra a sua vontade, tal o número de pessoas que a comprimiam.

    Já dentro do veículo, ouviu a inútil solicitação do cobrador para que as pessoas dessem um passo à frente. Não havia para onde ir, nem mesmo como se mexer, devido à superlotação.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

A DISSERTAÇÃO A PARTIR DE DOIS OU MAIS TEXTOS

    Estudemos primeiramente o procedimento que deve adotar aquele que,  em uma prova,
receber dois ou mais textos a partir dos quais tenha de fazer sua dissertação. Existem três
possibilidades: textos em prosa, textos em verso, ou um poema e um texto em prosa. Independentemente dessa variação, o procedimento, nos três casos, é o mesmo.
    De início você deve ler cada um dos textos atentamente. Em separado, procure deter- minar o conteúdo básico de cada texto. Em seguida, associe estes dois conteúdos de modo a encontrar um conteúdo básico comum aos dois textos. Como fazer isso'? Basta perceber algo que os textos tenham em comum, analisando suas ideias centrais. Este é o
passo inicial. Vejamos como isso pode ser feito em relação aos seguintes textos.

      Inicialmente você lerá um poema de Manuel Bandeira:



                  Versos de Natal

Espelho,amigo verdadeiro,
Tu refletes as minhas rugas,
Os meus cabelos brancos,
Os meus olhos míopes e cansados.
Espelho, amigo verdadeiro,
Mestre do realismo exato e minucioso,
Obrigado, obrigado!

Mas se fosses mágico,
Penetrarias até ao fundo desse homem triste,
Descobririas o menino que sustenta esse homem,
O menino que não quer morrer,
Que não morrerá senão comigo,
O menino que todos os anos na véspera do Natal
Pensa ainda em pôr os seus chinelinhos atrás da porta.





















 Como podemos observar, na primeira estrofe, o poema mostra uma pessoa idosa, em
frente ao espelho, percebendo sua idade já avançada. Entretanto, na segunda estrofe e-

xiste a ideia de que  o espelho só reflete a matéria daquele homem senil. Caso o espelho
pudesse refletir o que vai na alma deste homem, veria, na verdade, uma criança com to-das as suas caractesticas  e aspirações, ou seja, a criança que o sustenta, que é a sua base. Em resumo, o poema afirma que, por trás da aparência senil de um homem,  vive ainda o menino que ele foi.

     
      Agora leia este poema de Luís Vaz de Camões:


Soneto

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;

Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança
;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades ..


                     O tempo cobre o chão de verde manto,
                     Que já coberto foi de neve fria,
                     E em mim converte em choro o doce canto.

                     E, afora este mudar-se cada dia,
                     Outra mudança faz de mor espanto,
                     Que não se muda já como soía *.



      Todo o poema pode ser entendido da seguinte forma: com o passar do tempo, toda
as coisas o sofrendo transformações. Esta é a ideia geral do poema e a ntese das 
duas primeiras estrofes. Na terceira estrofe. o poema fala da transformação do "canto" 
alegre em choro, numa alusão à mudança de estado de espírito do "eu ptico" que,
com o passar do tempo perde seu "doce canto". Na última estrofe, existe a afirmã
de que as próprias mudanças não ocorrem da mesma forma, mesmo quando se repe
tem modificações em circunstâncias semelhantes. Assim, o poema pode ser interpreta
do como uma constatação das várias consequências da passagem do tempo, ou seja
das profundas modificações que o passar do tempo provoc


      Desta vez você lerá um trecho do livro de Eclesiastes (capítulo 3: versículos de 1
a 7) retirado da Bíblia:


                  "3 1Todas as coisas têm seu tempo, e todas elas passam debaixo do céu segundo o termo que a cada uma foi prescrito. 2Há tempo de nascer, e tempo de morrer. Há tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou. :3Há tempo de matar, e tempo de sarar. Há tempo de destruir. e tempo de edificar. 4Há tempo de chorar, e tempo de rir. Há tempo de se afligir, e tempo de saltar de gosto. 5Há tempo de espalhar abraços. e tempo de se pôr longe deles. 6Há tempo de adquirir, e tempo de perder. Há tempo de guardar, e tempo de lançar fora. 7Há tempo de rasgar, e tempo de coser. Há tempo de falar, e tempo de calar."

      O texto blico afirma. como facilmente se percebe, que para tudo há um tempo certo. Destes versículos podemos inferir que o homem deve possuir a sabedoria de fazer cada coisa em seu tempo apropriado. O texto, formado com base em antíteses , reafirma que, ao longo da existência, ele encontrará ocasiões oportunas para ter os comportamentos mais diferenciados. Em síntese: para cada coisa há um tempo adequado.
   
  Agora você já tem os três textos,  seguidos de uma análise sintética de seu conteúdo. O próximo passo para chegar até a dissertão é procurar um conteúdo básico comum aos três textos. Assim podeamos formulá-los:
 O tempo passa, provocando grandes modificações, transformando a realidade. No transcorrer da vida há ocasiões adequadas para determinados procedimentos, para certas ações.
 Todavia, apesar do tempo conduzirnos fatalmente 'para o envelhecimento, no fundo de cada ser humano existem características da infância que, de uma forma ou de outra, insistem em permanecer, em cada um de nós.

      A partir deste conteúdo básico, podemos perfeitamente elaborar um tema:

TEMA

O transcorrer do tempo provoca, em cada ser humano, grandes 
transformações, que estabelecem etapas bastantes diferenciadas; 
entretanto, certas características da infância persistem no âmag
de cada um de s.


   Para a abordagem deste tema optamos pela técnica básica de dissertação. Aplican- 
do esta técnica. podemos agora elaborar nossa composição:

        O TEMPO DE TODOS OS TEMPOS

    Ao longo de nossa vida, profundas são as transformações que sofremos pela passagem do tempo. Estas modificações dividem nossas vidas em épocas bem distintas, durante as quais devemos assumir comportamentos muito diferenciados. Entretanto, a inncia, de
algum modo, consegue acompanhar-nos por toda a nossa existência, seja pela importância que tem na formação da personalidade, seja pelas características desta fase tantas vezes evidenciada em nosso comportamento.
Algumas correntes psicanalíticas afirmam categoricamente que os primeiros anos de
nossas vidas, as experiências pelas quais passamos, são fatores determinantes de muitos dos nossos comportamentos na juventude e fase adulta. Acredita-se que o caráter e a personalidade formam-se nos primeiros anos que vivemos.
Cada etapa de nossa existência tem suas características e, em cada tempo, cabem os comportamentos compatíveis com a idade de cada um. Existe algo mais próximo do ridículo do que uma senhora de idade avançada usar vestimentas ou adornos típicos dos pré-adolescentes? Porém, por mais que tentemos adequar o que se usa ou o que se faz à faixa etária correspondente, cada um de nós, em maior ou menor grau, conserva características infantis, muitas vezes evidenciadas em certas situações: o adolescente que não quer assumir seu crescimento: os pais que se divertem com os brinquedos de seus fi-lhos, os adultos que diante de algum problema dizem "brincando": "Eu quero a minha mãe".

Assim, parece-nos correta a impressão de que, no fundo, sejamos, de fatocrianças. E é até bom que isso ocorra, pois, talvez, valorizando os principais atributos da criança: a bondade, a ausência absoluta de preconceito, a espontaneidade, a curiosidade e alegria em descobrir coisas novas, possamos reformular alguns de nossos conceitos e construir uma sociedade na qual, como afirmou o poeta, "o menino" seja o suporte do "homem".     I'


OBSERVAÇÃO:

     Note como foi feita a associação do conteúdo básico comum com um aspecto da nossa realidade.Ela se deu no exato momento em que partimos para uma generalizão do poema de Manuel Bandeira. A situação particularizada do "eu poético em afirmàr-se criança, embora idoso, permitiu a associação com esse aspecto dos seres humanos em geral.


 Por fim. vejamos as etapas por que passamos:


1.    Compreensão do conteúdo básico de cada um dos três textos separadamente.
2.    Determinação do conteúdo básico comum.
3.    Associação do conteúdo a algum aspecto da realidade.

4.Formulação de um tema dissertativo.
5. Aplicação de uma das técnicas.
6. Elaboração de uma dissertação.

Como você já deve ter notado. estas etapas podem ser utilizadas para qualquer situação
em que se necessite associar textos para,depois, elaborar uma dissertação.


EXERCÍCIOS

Elabore dissertações a partir da associação dos seguintes textos, depois de esco-lher um ou dois dentre os itens apresentados:

I. a) "A esperança é o único patrimônio dos deserdados e a ela recorrem as nações ao ressurgirem de seus desastres hisricos."

b)  Pedro pedreiro 
    (fragmento)

Pedro pedreiro está esperando a morte, 
ou esperando o dia de voltar pro Norte
Pedro não sabe, mas talvez no fundo

espere alguma coisa mais linda que o mundo
maior do que o mar.


Mas pra que sonhar se dá
o desespero de esperar demais,

Pedro pedreiro quer voltar atrás,

Quer ser pedreiro, pobre e nada mais, sem ficar 
Esperando, esperando, esperando,

esperando o sol,
esperando o trem,
esperando o aumento
para o mês que vem,
                   esperando um filho,
                 pra esperar também
                 Esperando a festa
                esperando a sorte
                esperando a morte
                esperando o norte
                Esperando o dia

                de esperar ninguém
                Esperando enfim 
                nada mais além


                que a esperança aflita, bendita, infinita 
                do apito de um trem.


                               (Chico  Buarque de Holanda)

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2.  a) HAI-KAI

     Frankestein não esquece 
     Foi operado

     No INPS.
                              (Millôr  Fernandes)




b)  "O estudo do buraco de uma proteína com forma de rosquinha deu uma importante contribuição para o desenvolvimento em um futuro próximo do sangue artificial, um objetivo que a medicina persegue há séculos, e com mais premência agora. O produto eliminaria a contaminação dos bancos de sangue com doenças ( ... )"





c)Psicologia de um vencido 
       (fragmento)


Eu, filho do carbono e do amoníaco
Monstro de escuridão e rutilância, 
Sofro, desde a epigênesis da infância
A influência má dos signos do zodíaco.


Profundissimamente hipocondríaco,

Este ambiente me causa repugnância ..
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia, 
Que escapa da boca de um cardíaco.




                                (Augusto  dos  Anjos)
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3.  a)”Em toda discussão há três pontos de vista: o meu, o seu e o correto.”
                                                                                        (Provérbio chinês)


b) "Não é preciso ser filósofo para ter ideias. A diferença é que o filósofo procura construir, através do estudo e da reflexão, um sistema mais ou menos coerente de ideias para, a partir dele, interpretar e criticar a realidade. A maioria das pessoas, no entanto, vai formando seu conjunto de ideias sem muita reflexão. Esse conjunto de ideias recebe o nome de ideologia. Todos nós temos a nossa ideologia, mas de maneira geral não temos consciência disso. Julgamos que nossas ideias refletem sempre a realidade. Não nos damos conta de que muitas dessas ideias foram colocadas em nossa cabeça pela educação familiar, pela escola, televisão, jornais, moda, cinema, etc."
(PILETTI. Claudino. Filosofia da educação. 2. ed. São Paulo. Ed. Ática, 1991)