sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

A DESCRIÇÃO DE PESSOAS OU A TÉCNICA DO RETRATO

     Descrever uma pessoa não p tão simples quanto parece. Vários fatores precisam ser levados em conta quando nos dispomos a fazê-lo. Entretanto, todo o conjunto de elementos que compõem o perfil de um ser humano pode ser dividido basicamente em dois grupos: o das características físicas e o das características psicológicas.
     Entendemos por características físicas a aparência  externa, isto é, tudo o  pode ser observado externamente quando analisamos alguém: a altura, o peso, a cor da pele, a idade. os cabelos, traços do rosto, a voz e o modo de se vestir(que, evidentemente, não é componente físico de alguém, mas é um aspecto exterior).
    Por outro lado, entendemos por características psicológicas tudo o que se associa ao comportamento da pessoa, ou seja, a personalidade, o temperamento, o caráter, as preferências (referentes a certas atividades esportivas ou artísticas), as inclinações (aptidões para determinadas tarefas), a postura em relação a si mesma e aos outros e os objetivos (metas profissionais ou pessoais a serem alcançadas no futuro). É, enfim, aquilo que caracteriza seu modo de agir ou ser.
    Uma boa descrição deve levar em conta se não todos, pelo menos a maioria dos as- pectos físicos e também dos psicológicos. Devemos optar por aqueles que mais nos im- pressionam e mais fielmente podem fornecer um retrato da pessoa, de modo que o leitor do nosso texto possa visualizá-la ou reconhecê-la.
    A esta altura, você pode estar pensando em como organizar uma composição dispon- do adequadamente esse número bastante grande de elementos. Vamos no deter agora no esquema a ser utilizado para a descrição de pessoas, que tem por objetivo auxiliá-lo a organizar suas ideias – assim, ele é um ponto de partida para a sua redação.
   Esse esquema comporta duas variações no que se refere à ordem de apresentação das características físicas e psicológicas do retratado. A seguir, passaremos a detalhar  essas  possibilidades.

                                Esquema de descrição de pessoas - variação 1
                                                               Título

1º parágrafo
Primeira impressão ou abordagem de qualquer aspecto de caráter geral.
Introdução

2º parágrafo
Características físicas: altura, peso,  cor da pele,  idade,  cabelos,  traços do rosto (olhos, nariz, boca), voz, vestimenta,

Desenvolvimento

3º parágrafo
Características psicológicas: personalidade, temperamento, caráter, preferências, inclinações, postura, objetivos.

Desenvolvimento
4º parágrafo
Retomada de outro aspecto de caráter geral.
Conclusão

   Vamos detalhar esse esquema. No primeiro parágrafo, ou seja, na Introdução, você deve fornecer uma ideia geral da pessoa a ser descrita. Assim, evite, nesse momento, a referência a pormenores pouco significativos. Não seria conveniente você começar sua descrição com uma frase do tipo: "Ele tem uma pinta na face esquerda". Isso tornaria sua redação bastante inadequada. Por isso, procure começar por um aspecto capaz de apresentar o ser descrito como um todo. Por exemplo: "Ele parece ser uma pessoa simpática, que sempre faz amigos com facilidade". Esta ou outra afirmação da mesma natureza é o que denominamos aspecto de caráter geral. Um outro exemplo, deste procedimento seria começar a redação dizendo qual foi a primeira impressão que lhe causou essa pessoa, quando você a conheceu ..
     No início do segundo parágrafo, começando, portanto, o Desenvolvimento, você apon-
tará detalhadamente as características físicas do indivíduo. Essas características devem ser mencionadas segundo uma determinada ordem. Parece-nos adequado que o sentido da descrição seja de cima para baixo, uma vez que, em geral, observamos inicialmente o que está à altura de nossos olhos, ou seja, o rosto de alguém. Não teria cabimento começar o segundo parágrafo com uma frase como esta:” Seu pé era um
tanto grande".
    Abordando as características físicas, falaríamos inicialmente da altura e do peso. Como não se trata de uma descrição técnica, não há necessidade de especificar dimen- sões em metros, centímetros ou gramas. Bastam referências vagas, como "grande esta- tura" ... nem gordo nem magro" e outras expressões semelhantes.
    É bom observarmos também que, em se tratando de certos elementos como cabelos e olhos, seria bom que houvesse uma certa riqueza de detalhes. Dizer que alguém tem cabelos castanhos é muito vago, pois grande parte da população se enquadra nesta afir- mativa. Convém relatar outros aspectos além da cor. Podemos falar de seu comprimento, se são ondulados, lisos ou crespos, de sua cor e brilho, da maneira como estão cortados e penteados, se há franja, se o corte é arredondado, se estão repartidos. Na descrição dos olhos, seria interessante mencionar, além da cor, seu formato (arredondados, oblíquos, amendoados, etc.) e, dependendo do caso, outros detalhes complementares, como os cílios e as sobrancelhas, os quais contribuem para a expressividade do rosto.
     Os outros elementos que compõem os traços do rosto não precisam ser descritos com tanto detalhes. São suficientes algumas poucas referências.
    Em seguida fala-se da voz. Em geral, o que se comenta neste item (profundamente relacionado com o aspecto psicológico, assim como alguns outros) diz respeito ao tom, entoação e volume. Explicando melhor, se a pessoa fala rapidamente ou de modo mais pausado, em um tom alto ou mais baixo e se demonstra um sotaque característico de qualquer região.
    Segue-se então a análise das roupas, ou seja, do modo como a pessoa se veste. Pode-
mos comentar se costuma usar roupas esportivas ou sociais, fazendo referências a deta- lhes mais significativos dos trajes. É bom lembrar que o modo como alguém se veste costuma estar intimamente ligado a certos elementos das características psicológicas. Às vezes, através das roupas, podemos fazer uma vaga ideia do que a pessoa pensa
ou de como se comporta.
     Abordemos agora as características psicológicas. Por vezes torna-se difícil distin- guir alguns itens mencionados no esquema; tentemos diferenciá-las.
    Analisando a personalidade de alguém, você fará comentários sobre a maneira como defende suas ideias: com firmeza ou deixando-se levar facilmente pelas opiniões dos outros. Dirá o quanto tem ideias formadas no que se refere a certos assuntos ou não. Convém mencionar também se demonstra vocação para exercer a liderança do grupo ou revela um tipo de comportamento mais passivo, que prefere acompanhar sugestões ou obedecer a ordens.
    Quanto ao temperamento, observamos se o indivíduo é extrovertido (expande suas emoções, demonstra seus sentimentos, expõe claramente suas ideias) ou introvertido (calado, dificilmente deixa transparecer suas reações ou sentimentos diante dos fatos e não tem por hábito emitir suas ideias, principalmente se não for solicitado). Ainda neste item analisamos se a pessoa parece ser alegre ou triste, entusiasmada ou derrotista, tranquila ou facilmente irritável, otimista ou pessimista, etc. Podemos tentar avaliar também o grau de sensibilidade que apresenta: se parece excessivamente sentimental ou se demonstra certa frieza.
     O caráter trata, por sua vez, das qualidades ou defeitos que uma pessoa possa apre- sentar. Aspectos como estes devem ser levados em conta: honestidade, sinceridade, leal-
dade e preocupação com seus semelhantes, por exemplo.
      É interessante também que se fale das preferências da pessoa descrita em vário campos: música ou artes em geral, esportes, formas de lazer, leituras. etc.         
     Sobre suas inclinações, falaríamos a respeito de algumas aptidões facilmente obser- váveis. Certas pessoas demonstram grande interesse e vocação para atividades artísticas; outras gostam de executar trabalhos manuais; há as que apresentam extrema facilidade de comunicação. e assim por diante. É. dessa forma. um pequeno relato sobre a vocação que cada um tem para exercer determinada atividade.
     Ao próximo item damos o nome de postura. Explicamos anteriormente que é o posi- cionamento do indivíduo em relação a si mesmo e aos outros. Isso tem direta relação com o que se poderia chamar de visão de mundo ou ideologia. Na abordagem deste item, podemos captar alguns aspectos básicos que compõem o conjunto de suas ideias sobre a vida. Então, tentaremos perceber como ele se vê. enquanto ser que faz parte de uma comunidade. e como entende que deva ser sua atuação junto à sociedade a que pertence. É importante notar como encara os problemas econômicos, sociais e políticos que o envolvem e o que pensa das questões mais importantes que preocupam o seu meio.
   O último item mencionado, dentre as características psicológicas, é objetivos. Aqui diremos o que a pessoa espera alcançar na vida: exercer algum cargo em especial, ter uma profissão específica, viajar para determinado lugar ou qualquer outro sonho que possa ter.
   Por fim. a Conclusão. Neste último parágrafo não convém terminar a descrição com um detalhe insignificante, mas com uma afirmação de caráter geral, como foi feito na Introdução. Podemos sugerir que termine a redação falando sobre a maneira como a pessoa descrita costuma relacionar-se com os outros; você pode também afirmar algo sobre sua simpatia e comunicabilidade. Enfim, faça qualquer observação final, pro- curando referir-se à pessoa como um todo.

OBSERVAÇÕES:
 1. Depois dessa longa explicação. você até poderá pensar que sua redação será imensa. Não é bem assim. Na explicação levantamos uma série de possibilidades, mas você irá selecionar apenas os aspectos mais significativos para a caracterização da pessoa que estiver sendo descrita. Isso quer dizer que você poderá deixar de analisar certos itens (em especial das características psicológicas) sobre os quais não houver dados ao seu alcance. Assim sendo, cabe a você determinar a extensão de sua descrição, com base nas possibilidades de análise que levantamos.

2.Na apreensão das características do ser descrito, você pode se utilizar. em certos momentos, de outros sentidos além da visão. como a audição, tato, paladar e olfato, Assim, teria uma análise mais completa do que a simples observação do que se pode ver, enriquecendo seu texto. Embora a visão seja o sentido através do qual captamos praticamente todas as características físicas. podemos também nos valer às vezes dos outros quatro sentidos. Veja alguns exemplos: audição: "voz melodiosa"; tato: "pele macia"; olfato: "perfume agradável de seus cabelos".

3.O número de parágrafos do Desenvolvimento pode sei aumentado de dois para três ou quatro, dependendo do quanto se tenha a dizer.

4.A ordem dos elementos pode sofrer alterações durante a elaboração do que você está redigindo. Não é necessário seguir à risca a sequência indicada no esquema.

    Veja agora como podemos, com o auxílio do esquema de descrição de pessoas -  variação 1,  elaborar uma composição.


                                     Tancredo: o político da esperança

           Qualquer pessoa que o visse, quer pessoalmente ou através dos meios de comunicação, era logo levada a sentir que dele emanava uma serenidade e autoconfiança próprias daqueles que vivem com sabedoria e dignidade.
          De baixa estatura, magro, calvo, tinha a idade de um pai que cada pessoa gostaria de ter e de quem a nação tanto precisava naquele momento de desamparo. Seus olhos oblíquos e castanhos transmitiam confiança. O nariz levemente arrebitado e os lábios finos, em meio ao rosto arredondado, traçavam o perfil  de alguém que sentíamos ter conhecido durante a vida inteira. Sua voz era doce e ao mesmo tempo dura. Falava e vestia-se como um estadista. Era um estadista.
         Sua característica mais marcante foi, sem dúvida, a ponderação na análise dos problemas políticos e socioeconômicos. Respeitado em todo o mundo pela condição de líder preocupado com o destino das futuras gerações, de conhecedor profundo das questões deste país, colocava sempre o espírito comunitário acima dos interesses individuais. Seu grande sonho foi provavelmente o de pôr toda a sua capacidade a serviço da nação brasileira, tão ameaçada pelas adversidades econômicas e tão abandonada, como sempre fora, por aqueles que se diziam seus representantes.
        Verdadeiro exemplo de homem público, ficará para sempre na memória dos seus contemporâneos e no registro histórico dos grandes vultos nacionais.

                  
OBSERVAÇÃO:

    Note que, embora o esquema utilizado nesta descrição separe os aspectos físicos e psicológicos em parágrafos diferentes, nada impede que você faça algumas poucas refe-rências psicológicas no segundo parágrafo. que trata das características físicas. No entanto, pela leitura dessa redação, verificamos que no segundo parágrafo predominam os elementos referentes às características físicas. enquanto o terceiro parágrafo trata das características psicológicas da pessoa descrita, conforme nos sugere o esquema de descrição.
    Existe, entretanto, uma outra forma de organizarmos' nossas ideias quando queremos descrever uma pessoa. Podemos apresentar as características físicas e as psicológicas ao mesmo tempo. Este procedimento parece-nos bastante adequado, uma vez que vários dos elementos pertencentes às características físicas podem ser facilmente relacionados a certas características psicológicas. Veja alguns exemplos de como podemos fazer esta associação: os olhos tendem a refletir emoções; a fisionomia. como um todo, é facilmente associada a um traço de personalidade; e as roupas em muito e relacionam com as condições socioeconômicas e até com a própria ideologia do ser descrito.         
    Esse procedimento cria, certamente, uma integração entre o que se percebe externa- mente e o que o interior da pessoa descrita reflete, produzindo um efeito harmonioso na descrição.
     Para compor uma redação desse tipo, precisaremos orientar-nos por um outro esquema:
                                 Esquema de descrição de pessoas - variação 2
                                                              Título

1º parágrafo
Primeira impressão ou abordagem  de .qualquer aspecto de caráter geral.
Introdução

2º parágrafo
Análise das características físicas, associadas às características psicológicas (1ª  parte).

Desenvolvimento

3º parágrafo
Análise das características físicas, associadas às parágrafo características psicológicas (2ª parte).

Desenvolvimento
4º parágrafo
Retomada de qualquer outro aspecto de caráter geral.
Conclusão

OBSERVAÇÃO:

    Lembramos novamente que o Desenvolvimento, apresentado no esquema em dois parágrafos, pode ser ampliado para três ou quatro, dependendo de sua conveniência.
   Leia agora um exemplo de redação elaborada com o auxílio do esquema de descrição de pessoas - variação 2.

                                                Maria, Maria
            .           .
     Quando a vi pela primeira vez praticamente nem a vi. As pessoas, em sua maioria, não costumam prestar muita atenção às varredoras de rua. Mas Maria parece não se importar com isso, porque também não presta muita atenção às pessoas que passam por ela, uma vez que está sempre olhando para baixo, à procura do que varrer.
     É baixa e magra, como convém a alguém que sempre comeu muito pouco, e sua pele tem a coloração típica dos que tomam sol, chuva, mormaço, ou qualquer coisa que não se possa escolher ou evitar. Seus cabelos crespos e negros parecem encolher-se ainda mais, para não sofrerem a ação do vento impregnado de poeira e poluição. Olhos amendoados, também negros, sem brilho: inexpressivos. Com certeza refletem a sensação de que é inútil expressar-se, seja para reclamar de qualquer coisa. Mas são olhos duros, de quem protesta, pelo silêncio, contra a dor ou simplesmente contra o peso da rotina fatigante, cumprida à risca, para ninguém achar defeito. O nariz levemente achatado e os lábios grossos são a confirmação dos traços da raça. Boca fechada apesar do muito que teria a dizer. Fechada, como se recomenda aos que desejam manter o emprego, ainda que tão árduo.
     Maria tem habilidades manuais. Quando criança, queria ser costureira de lindos vestidos. Agora quer sobreviver de maneira honrada. Seu uniforme de funcionária da limpeza pública em nada se parece com os vestidos do seu sonho de menina. Ela deixa agora os sonhos para seus dois filhos, porque é a única coisa que pode deixar como herança. Isso é o exemplo da sua luta, da  esperança que tira do nada.
      Exilada em sua própria cidade, pelo tempo que lhe toma o trabalho, quase não vê a família, mas persiste e acima de tudo acredita, pois "quem traz na pele essa marca possui a estranha mania de ter fé na vida".


      Encerrando as considerações sobre como se elabora uma descrição, temos dois co-
mentários a fazer.
     Perceba que a pessoa que faz uma descrição pode ou não incluir-se em alguns mo- . mentos. No primeiro modelo de descrição (sobre Tancredo Neves), em nenhum momento houve essa inclusão. Entretanto, na segunda descrição, vemos que a pessoa que redige aparece no texto, na seguinte frase: "Quando a vi pela primeira vez ... " Conclui-se, assim, que, ao fazer sua descrição, você pode ou não colocar-se em cena, em alguns momentos, dependendo de sua vontade ou da oportunidade de fazê-lo.
    Para finalizar. saiba que nada o impede de acrescentar outros elementos referentes a características físicas ou psicológicas, afora os citados no esquema , bem como fugir das orientações fornecidas. Elas apenas visam a ajudá-lo na ordenação de pensamento e. consequentemente. de seu trabalho. Você, por exemplo. pode iniciar sua descrição por um elemento que provoque impacto, mas deve ser criativo o suficiente para manter o interesse no decorrer da composição. Enfim, o que importa é o resultado final: uma redação coerente, criativa e interessante.

EXERCÍCIOS

1.Escolha um dos colegas de sua classe (de preferência que você conheça bem) e des- creva-o sem mencionar seu nome. Utilize, se desejar, um dos esquemas de descrição que lhe parecer mais adequado. Leia a composição para a classe e veja se os colegas conseguem descobrir quem foi descrito por você.

2.Descreva a si próprio. Sugerimos que utilize o esquema de descrição de pessoas – variação 1. Veja uma ideia interessante para o início: comece explicando qual a impressão que você pensa causar nas pessoas que não o conhecem quando elas o veem pela pri- meira vez.

3.Descreva uma personalidade do mundo artístico, esportivo,  político. Baseie-se, se desejar, no esquema de descrição de pessoas - variação 2. Crie um título interessante.

SUGESTÕES:

Escolha alguns dos itens abaixo e faça uma composição. Descreva:
            1) um amigo;                                                 6) o presidente da República;
            2) seu pai;                                                     7) um professor;
            3) o governador;                                           8) seu irmão;
            4) seu cantor predileto;                                9) uma pessoa que você admira muito;
            5) alguém criado por sua imaginação;       10) um grande cientista.




quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

TIPOS DE DISCURSO - NÍVEIS DE LINGUAGEM

TIPOS DE DISCURSO

Discurso direto e discurso indireto

  Agora -você aprenderá como introduzir o discurso direto (registro da fala dos personagens) em meio a uma narração, bem como transformá-lo em discurso indireto.
      O primeiro passo é conseguir diferenciar o discurso indireto do discurso direto.
      Veja estes exemplos:

Discurso indireto

    O rapaz,  depois de estacionar seu automóvel em um pequeno posto de gasolina daquela, perguntou a um funcionário onde ficava a cidade mais. Ele respondeu que havia um vilarejo a dez quilômetros dali.

Discurso direto

     O rapaz, depois de estacionar seu automóvel em um pequeno posto de gasolina daquela rodovia, perguntou:
      -  Onde fica a cidade mais próxima?
      -  Há vilarejo a dez quilómetros daqui - respondeu o funcionário.

     Observe o exemplo de discurso direto. Antes do registro da fala do personagem existe um travessão (-) que inicia um novo parágrafo. No último período desse texto você notou que há também um outro travessão, colocado antes da palavra respondeu; ele serve
para separar a fala do personagem da explicação do narrador ("respondeu o funcionário”).
    Quando  o narrador quer informar qual o personagem que fala, o texto pode ser organizado de duas maneiras:

1) Primeiro explica-se quem vai falar. A frase termina por dois-pontos (:). Abre-se então um novo parágrafo para nele colocar o travessão, seguido da fala do personagem.
Exemplo:
 O funcionário respondeu:
- Há um vilarejo a dez quilômetros daqui.

2) Em primeiro lugar, registra-se, depois de posto o travessão, a fala do personagem . Na mesma linha coloca-se um outro travessão e, em seguida, a frase pela qual o narrador explica quem está dizendo aquilo (iniciada por letra minúscula).
Exemplo:
- Há um vilarejo a dez quilômetros daqui – respondeu o funcionário

OBERVAÇÃO:

       Há verbos que se caracterizam por introduzir a fala do personagem, ou mesmo explicar quem eStá fazendo a afirmação registrada depois do travessão. Denominam-se verbos de elocução e alguns exemplos deles são: falar, perguntar, responder, indagar, replicar. argumentar, pedir, implorar, comentar, afirmar e muitos outros.

      Vejamos agora um exemplo de como podemos introduzir o discurso direto em uma nar- raçâo.
       Leia o texto abaixo, onde não aparece a fala dos personagens. É o narrador que con-
ta os  acontecimentos.

                                           O primeiro dia no cursinho

      Maria Helena acabava de matricular-se em um famoso cursinho, desses que preparam o alunos para os exames vestibulares.
        Logo no primeiro dia de aula, depois de subir os seis lances de escadas que a conduziam a sua classe de duzentos e quarenta alunos, entrou na sala espantada com a quantidade de colegas. Assistiu às três primeiras aulas (ou conferências) que os professores deram com o auxílio de microfones.
       Quando bateu o sinal do Intervalo, tentou encontrar a lanchonete que ficava no térreo, Maria Helena então começou a descer os seis lances de escadas, acompanhada por uma quantidade incontável de pessoas, ou seja, os colegas das outras quinze salas de aula existentes em cada andar. Sentia-se como uma torcedora saindo do Morumbi depois de um clássico.
        Após algum empo, chegou ao térreo e lá avistou uma aglomeração comparável ao público que comparecia aos comícios das “Diretas”. Olhou para todos os lados e não viu lanchonete alguma.
        Pouco tempo depois, descobriu que a lanchonete era lá mesmo, mas não dava para ver a caixa registradora, situada a alguns metros dela, de tanta gente que havia. Ela já estava na fila da caixa e não sabia.


     Leia agora a mesma redação, depois de introduzidos alguns trechos de discurso direto.

                                     O primeiro dia no cursinho

     Maria Helena acabava de matricular-se em um famoso cursinho, desses que preparam o alunos para os exames vestibulares.
      Logo no primeiro dia de aula, depois de subir os seis lances de escadas que a conduziam a sua classe de duzentos e quarenta alunos, entrou na sala espantada com a quantidade de colegas. Assistiu às três primeiras aulas (ou conferências) que os professores deram com o auxílio de microfones.
     Quando bateu o sinal do intervalo, Maria Helena perguntou a um colega de
classe:
      - Você, por acaso, sabe onde fica a lanchonete?
      - Fica no térreo - respondeu-lhe o colega gentilmente.
 Maria Helena então começou a descer os seis lances de escadas, acompanhada por uma quantidade incontável de pessoas, ou seja, os colegas das outras quinze salas de aula existentes em cada andar. Sentia-se como uma torcedora saindo do Morumbi depois de um clássico.
        Após algum empo, chegou ao térreo e lá avistou uma aglomeração comparável ao público que comparecia aos comícios das “Diretas”. Olhou para todos os lados e não viu lanchonete alguma.
       - Por favor, você sabe onde fica a lanchonete? Disseram que ficava no térreo - perguntou Maria Helena para uma moça que estava a seu lado.
       - Mas você já está na lanchonete!
       Descobriu então que estava no lugar procurado, mas não dava para ver a caixa registradora, situada a alguns metros dela, de tanta gente que havia. Ela já estava na fila da caixa e não sabia.

A transformação do discurso direto em indireto e vice-versa

      Você já aprendeu a identificar os dois tipos de discurso; notou que eles não são re- gistrados do mesmo modo. Vamos agora sistematizar as diferenças que pudemos perce- ber entre eles.

 Discurso direto                                                             
            Discurso indireto
. verbos no presente do indicativo (fica,há)
. pontuação característica (travessão, dois pontos)

.verbos no pretérito imperfeito do indicativo (ficava, havia)
.ausência de pontuação característica

     Portanto, o primeiro passo para se transformar um tipo de discurso em outro consiste em efetuar as modificações mencionadas, ou seja, alterar o tempo dos verbos e utilizar a pontuação adequada; Entretanto, restam ainda alguns detalhes. Vamos a eles.

Tempos verbais

    No exemplo apresentado de discurso direto, os personagens utilizavam o verbo no presente do indicativo. E se eles estivessem se expressando no pretérito ou em outro tempo verbal? Siga, na tabela da página seguinte, as correlações entre alguns tempos verbais e os tipos de discurso.        

                  Discurso  direto
              Discurso  indireto
. presente do indicativo:
- Tenho pressa - disse o rapaz.

. pretérito perfeito do indicativo:
- Presenciei toda a cena – declarou o jovem.


.  imperativo:
- Cala-te – ordenou o senhor a seu vassalo.


. futuro do presente do indicativo:
- Farei o possível - disse o moço.
. pretérito imperfeito do indicativo:
O rapaz disse que tinha pressa.

. pretérito mais-que-perfeito simples ou composto:
O jovem declarou que presenciara (tinha
presenciado) toda a cena.

. pretérito imperfeito do subjuntivo:
O senhor ordenou a seu vassal que ele se calasse.

. futuro do pretérito do indicativo:
O moço disse que faria o possível.


      Não vamos relacionar todos os tempos de verbos e suas modificações. Acreditamos que basta uma observação de caráter geral: ao transformar o discurso direto em indireto, você estará transcrevendo algo que alguém já disse; portanto, no discurso indireto, o tempo será sempre passado em relação ao discurso direto. O mecanismo é basicamente o mesmo para todos os casos. Preste atenção neste último exemplo:

Discurso direto

   - Quero que você me siga - disse Pedro. (presente do indicativo, presente do subjuntivo)
  -  Se eu estiver disposta, eu o farei - replicou Paula. (futuro do subjuntivo, futuro do presente do indicativo)

Discurso indireto

    Pedro disse a Paula que queria que ela o seguisse. (pretérito imperfeito do indicativo, pretérito imperfeito do subjuntivo) Paula replicou que, se estivesse disposta, ela o faria. (pretérito imperfeito do subjuntivo, futuro do pretérito do indicativo)

Pronomes e advérbios

   Outras classes de palavras, como os pronomes e alguns advérbios, podem igualmen-te requerer alterações. Observe o exemplo abaixo:

Discurso direto

   -  Venha , minha filha - disse a mãe, impaciente.
   -  Estarei daqui a cinco minutos.

Discurso  indireto

      A mãe, impaciente, pediu a sua filha que fosse até . Ela respondeu que estaria dali a cinco minutos.

Discurso direto
   -  Onde estão os meus ingressos para o espetáculo de patinação? – perguntou Pedro.
   -  Estavam aqui ainda neste instante! - replicou Maria.

Discurso indireto
  Pedro perguntou a Maria onde estavam os seus ingressos para o espetáculo de patinação. Ela replicou que eles estavam ali ainda naquele instante.         

EXERCÍCIOS

1. Agora é a sua vez. Com base nas informações fornecidas, transforme o discurso direto em indireto e vice-versa, conforme o caso apresentado:
a - Hoje pretendo viajar - afirmou a vendedora de cosméticos.
   - Nesta cidade - afirmou sua irmã - as vendas estão cada vez mais difíceis.

b - O médico explicou à senhora que ela precisaria ter paciência. Ela respondeu ao doutor que sabia que o caso era grave, pois haviam lhe contado tudo sobre o estado clínico de seu marido.

c - Neste momento estou me arrumando para ir até aí. Quero jogar basquete - disse o professor de Educação Física, pelo telefone.
   - Quando você chegar, procure-me - pediu seu amigo.

d - O poeta, visivelmente emocionado, falou que havia três anos ele estivera naquela mesma casa e tinha encontrado aquelas pessoas pela última vez.

2. Transcreva em seu caderno todas as frases do texto que registrarem a fala dos personagens:
     Depois de percorrerem mais de vinte e cinco lojas de sapatos, Sandra pergunta a uma de suas primas:
      - Heloísa, será que você não consegue mesmo encontrar um par de sapatos que lhe agrade?
      - Tenho a impressão de que vou achá-Ia naquela loja da esquina - respondeu a moça.
      - Os meus pés já estão em carne viva - reclamou Márcia. Sandra, bastante contrariada, ameaçou:
      - Ou você compra qualquer um mesmo na loja da esquina, ou eu vou para casa. Já descemos a rua inteira. Estamos exaustas!
      - Acho que as vinte lojas a que fomos não conseguem ter em seus estoques um sapato à altura do gosto requintado de nossa prima – ironizou Márcia.
      - É melhor mesmo desistir. Vocês não têm paciência. Para fazer compras é preciso ter disposição - comentou Heloísa.
      Márcia, incomodada por ter andado inutilmente por mais de três horas, falou:
      - Querida priminha, nas suas próximas compras, em vez de nos convidar, peça a companhia de uma equipe de atletismo.
      - Sim, praticantes de ginástica olímpica ou mesmo especialistas em salto triplo  - emendou Sandra.
      Neste exato momento, Heloísa arregalou seus olhos e soltou um grito de surpresa:
     - Achei! Era aquele mesmo que eu queria! Ele estava ali o tempo todo – gritava ela, dando pulinhos de alegria e correndo em direção a uma loja que ficava do outro lado da rua.

3.Copie todo o texto do exercício anterior de tal modo que não apareça, em nenhum momento, o discurso direto. Em outras palavras, copie essa redação transformando todos os trechos de discurso direto em discurso indireto.

4. Reescreva a narração abaixo, incluindo alguns trechos de discurso direto:

                                        Um ato involuntário     .

     Após  assistir às aulas do cursinho, em seu primeiro dia de aula, Maria Helena dirigiu-se ao ponto de ônibus.
     Em volta do ponto havia dezenas de pessoas, alunos com seu material escolar na mão, à espera dos transportes coletivos que passavam por aquela imensa avenida. Aproximava-se o seu ônibus. Ao avistá-lo, notou que vinha superlotado e decidiu esperar por um outro veículo da mesma linha. Ele certamente passaria cinco minutos depois.
     Ela estava no ponto, cercada por inúmeras pessoas, e não sabia que a maioria delas iria entrar nesse ônibus abarrotado. De repente, quando o veículo parou, todos correram em direção à porta, carregando junto Maria Helena. Ela, sem querer, impulsionada pelos outros que a circundavam, subiu a escadinha do ônibus, contra a sua vontade, tal o número de pessoas que a comprimiam.
   Já dentro do veículo, ouviu a inútil solicitação do cobrador para que as pessoas dessem um passo à frente. Não havia para onde ir, nem mesmo como se mexer, devido à superlotação.

OBSERVAÇÃO:

    Sugerimos a introdução, após o primeiro parágrafo, de uma conversa entre Maria Helena e uma outra pessoa que também estivesse no ponto de ônibus. Também é possí- vel criar um diálogo entre um dos passageiros e o cobrador. Além dessas sugestões, você pode imaginar qualquer outro diálogo relacionado com a história narrada. Empenhe-se para fazer o exercício solicitado da melhor forma possível.

NÍVEIS DE LINGUAGEM

   Vamos falar agora sobre os tipos de linguagem que você pode utilizar em suas narrações.
   Como você já deve ter ouvido falar, existem basicamente dois níveis de linguagem: linguagem formal e a linguagem coloquial.
    Entendemos por linguagem formal a língua culta, que se caracteriza pela correção gramatical, ausência de gírias ou termos regionais, riqueza de vocabulário e frases bem e- laboradas.
     A linguagem coloquial, por sua vez, é aquela que as pessoas utilizam no dia-a-dia, conversando informalmente com amigos, parentes e colegas. É a linguagem descontraí- da. que dispensa formalidades e aceita gírias, diminutivos afetivos e palavras de cunho regional.  
     A narração, a nosso ver, pode comportar os dois níveis de linguagem. Recomendamos-
lhe que utilize a linguagem formal nas frases do narrador e a linguagem coloquial no registro da fala de alguns personagens. Expliquemos melhor: se você for registrar, no dis- curso direto, a fala de um sertanejo, poderá utilizar palavras ou expressões típicas do linguajar de sua região, para dar um cunho de veracidade à composição; se a conversa estiver sendo travada entre dois adolescentes, cabe a introdução de algumas gírias. Dessa forma, a redação torna-se mais convincente, na medida em que cada personagem é apresentado com o registro de fala que normalmente o caracteriza. Pareceria um tanto estranho dois personagens semianalfabetos se expressando em uma linguagem semelhante à de Rui Barbosa.
     Isso não significa, porém, que o discurso direto deva sempre estar relacionado com a linguagem coloquial. Pelo contrário, em se tratando de personagens cultos (ou mesmo razoavelmente instruídos), você deve utilizar a linguagem formal no registro de suas falas.

OBSERVAÇÃO:

     Fique atento às solicitações que possam ser feitas nas provas de redação que vier a realizar. Caso se peça para elaborar uma narração utilizando a linguagem formal, este tipo de linguagem deverá aparecer em toda a composição, independentemente de quem sejam os personagens envolvidos nos trechos do discurso direto.

     Veja, nestes pequenos trechos a seguir, como os dois tipos de linguagem podem apa- recer no discurso direto. Lembre-se de que o narrador sempre se utiliza da linguagem formal.

Linguagem coloquial

   Os dois amigos se encontraram no pátio do colégio, na hora do intervalo, e Marcos perguntou:
     - Como é que é, Zé? Tá a fim de dar uns giros por aí depois da aUL a?
    - Normal! A gente pode chamar o Nandinho e ir pra uma lanchonete - respondeu José bastante animado.
    - É isso aí. Deixa eu ir me mandando, que o sinal já tocou – falou Marcos apertando o passo.

Linguagem formal

      No corredor de uma universidade, um eminente professor de Direito Penal encontratra um ex-aluno, agora seu colega. O professor diz-lhe:
      _  Que prazer encontrá-lo depois de tanto tempo!
      -   Como está, professor? É bom revê-lo - sorriu o ex-aluno emocionado. O senhor nem  nem pode imaginar o quanto me foram úteis os conhecimentos que adquiri em suas aulas.
      -  Você sempre foi um bom aluno. Tinha a certeza de que se tornaria um advogado notável.

EXERCÍCIOS

1.Elabore uma narração subjetiva, com narrador em 1ª pessoa, contando um fato ocorrido em São Paulo, em um dia de paralisação do transporte coletivo. Utilize discurso direto e crie um título interessante.

2.Faça uma narração objetiva, com narrador em 3ª pessoa, contando um incidente ocorrido no pronto-socorro de um imenso hospital. Utilize discurso direto. Crie um título adequado. Nesta redação, procure usar unicamente a linguagem formal.

OBSERVAÇÃO:
    Caso você queira treinar mais um pouco, consulte a lista de sugestões que consta da postagem anterior e escolha alguns assuntos. Baseando-se neles, redija narrações em que

apareçam os dois tipos de discurso mencionados.