segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

III - O PARÁGRAFO

O parágrafo é marcado por um ligeiro afastamento com relação à margem esquerda da folha e possui extensão variada: há parágrafos longos e parágrafos curtos. O que determi-na a extensão do parágrafo é a unidade temática, já que cada ideia exposta na redação deve corresponder a um parágrafo; por isso você poderá encontrar parágrafos longos e pará-grafos de uma linha apenas.
     As dissertações, normalmente, costumam ser estruturadas em quatro ou cinco parágrafos (um parágrafo para a introdução, dois ou três para o desenvolvimento e um para a conclusão).
     É claro que esta divisão não é absoluta.. Dependendo do tema proposto, da abordagem que se dê a ele , ela poderá sofrer variações. Mas é fundamental que você perceba o seguinte:  a divisão da dissertação em parágrafos (cada um correspondendo a a uma determinada ideia que nele se desenvolve) tem as funções de facilitar, a quem escreve, estruturar o texto coerentemente, e possibilitar, a quem lê, uma melhor compreensão do texto em sua totalidade.
     Mas o que é propriamente um parágrafo?
     Veja o que diz Othon M. Garcia:
  
    “O parágrafo é uma unidade de composição, constituída por um ou mais um período, em que se desenvolve determinada ide   ia central, ou nuclear, a que agregam outras, secundárias, intimamente relacionadas pelo sentido e logicamente decorrentes dela.”   (GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa mods”:
7. ed. Rio de Janeiro. FGV, 1978. p. 273

     Essa definição, evidentemente, não se aplica a todo tipo de parágrafo: tratase de um modelo de parágrafo, denominado parágrafo-padrão, que, por ser cultivado por bons escritores modernos, o aluno poderá (e até deverá) imitar. O parágrafo-padrão apresenta a seguinte estrutura:
tópico frasal: período que contém a ideia central do parágrafo;
desenvolvimento: explanação do tópico frasal,
e conclusão.

     Nem todos os parágrafos apresentam essa estrutura (tópico frasal, desenvolvimento, conclusão). Em parágrafos curtos e naqueles cuja ideia central não apresenta complexidade, a conclusão costuma não aparecer. O importante é que você treine bastante a construção de parágrafos, procurando redigir o tópico frasal de forma clara, pois, como vimos, é nele que está contida a ideia que será desenvolvida.

  Poduzindo Texto

   A proposta de redação que apresentamos a seguir foi solicitada em exame vestibular da FUVEST-SP:

                                                O menino é pai do homem

    Cresci: e nisso é que a família não interveio; cresci naturalmente, como crescem as magnólias e os gatos. Talvez os gatos são menos matreiros, e com certeza, as magnólias são menos inquietas do que eu era na minha infância.Um poeta dizia que o menino é pai do homem. Se isto é verdade, vejamos alguns lineamentos do menino.
    Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de “menino diabo”; e verdadeiramente não era outra cousa; fui dos mais malignos do meu tempo,"arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negara uma colher do doce de coco que estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um punhado de cinza go tacho, e, não satisfeito da travessura, fui dizer a minha mãe que a es-crava é que estragara o doce “por pirraça”; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio, um moleque de casa, era meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia, — algumas vezes gemendo, — mas obedecia, sem dizer palavra, ou, quando muito, um — “ai, nhonhô!” — ao que eu
retorquia: — “Cala a boca, besta!” — Esconder os chapéus das visitas, deitar rabos de papel a pessoas graves, puxar pelo rabicho das cabeleiras, dar beliscões nos braços das matronas, e outras muitas façanhas deste jaez, eram mostras de um gênio indócil, mas devo crer que eram também expressões de um espírito robusto, porque meu pai tinha-me em grande admiração; e se ás vezes me repreendia, à vista de gente, fazia-o por simples formalidade: em particular dava-me beijos.
       Não se conclua daqui que eu levasse todo o resto da minha vida  a quebrar a cabeça dos outros nem a esconder-lhes os chapéus; mas opiniático, egoísta e algo contemptor dos homens, isso fui; se não passei O tempo a esconder-lhes os chapéus, alguma vez lhes puxei pelo rabicho das cabeleiras.
                                                      (Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas)

Faça uma dissertação em que você analise o significado da frase: “O menino
é pai do homem”.
É claro que essa divisão não é absoluta. Dependendo do tema proposto, da

Texto para as questões de 1 a 4.

“No meio da década de 20, quando o automóvel tinha feito sua aparição com
força total, caminhar pelas grandes avenidas europeias era sair para ser expulso
da rua pelo tráfego. 'Foi como se o mundo tivesse subitamente enlouquecido,
dizem as pessoas quando fazem referência a essa época. O homem sentia-se
diretamente ameaçado e vulnerável. 'Deixar nossa casa significava que, uma vez
cruzada a soleira da porta, nós estávamos em perigo e podíamos ser mortos
pelos carros que passavam." Chocadas e desorientadas, as pessoas comparavam
a rua de então com a de sua juventude: 'A rua nos pertencia: cantávamos nela,
discutíamos nela, enquanto os cavalos e veículos passavam suavemente: A rua
era, portanto, pouco tempo antes, o espaço que acolhia os homens, que lhes
permitia se moverem à vontade, em um ritmo que podia acolher tanto as discus-
sões quanto a música; homens, animais e veículos coexistiam pacificamente em
uma espécie de paraíso urbano. Acontece que esse idílio terminou, as ruas pas-
saram a pertencer ao tráfego, e o homem sobreviveu a esse tipo de mudança.
Depois de esquivar-se e lutar contra o tráfego, acabou identificando-se por intei-
ro com as forças que o estavam pressionando. O homem da rua incorporou-se ao
novo poder, tornando-se o homem no carro.
A perspectiva desse novo homem no carro gerou uma nova concepção de rua,
que passou a orientar os planejamentos urbanos daí por diante. 'Numa rua ver-
dadeiramente moderna" — diziam, então, os especialistas — 'nada de pessoas,
exceto as que operam as máquinas; nada de pedestres desprotegidos e
desmotorizados para retardar o refluxo'.”

1. (PUCC-SP) Assinale a alternativa correspondente ao tema em torno do qual se organiza
o discurso acima:
a) o paraíso urbano e a máquina d) o homem antigo e o moderno
b) o homem e o espaço urbano e) a modernidade e o poder da máquina
c) o tráfego no mundo moderno

2. (PUCC-SP) O texto defende a tese de que:
a) o homem, quando pressionado, alia-se às forças adversas e incorpora-se a seu poder
b) o homem, no passado, conheceu uma espécie de paraíso urbano, mas corrompeu-o
e dele foi expulso
c) o mundo moderno só admite pessoas que sabem operar as máquinas com perícia
d) a utilização do espaço pelo homem depende de sua relação com o mundo
e) o homem, no mundo moderno, cedeu seu espaço à máquina; por esse motivo, dá
mais importância a ela do que a si próprio

3. (PUCC-SP) “O homem da rua incorporou-se ao novo poder. tornando-se o homem no carro.”
Essa afirmação foi utilizada, no texto, para demonstrar que:
a) o homem tornou-se moderno quando trocou o andar a pé, na rua, pelo andar de
automóvel nas grandes avenidas
b) o homem, aliando-se à máquina, descobriu um novo poder e deu novo ritmo a todos
os seus atos
c) a integração perfeita do homem à rua antiga foi abandonada quando ele se identifi-
cou por inteiro com a máquina
d) o carro deu ao homem novas perspectivas de vida, gerando, inclusive, um tipo de
urbanização que proteje o pedestre
e) o homem mudou e, em decorrência disso, surgiu uma nova concepção de rua

4. (PUCC-SP) Observando-se o tipo de composição do texto, conclui-se que ele é:
a) dissertativo, com elementos narrativos e descritivos
b) narrativo, com elementos descritivos e dissertativos
c) descritivo, com exclusão de argumentos
d) narrativo, com exclusão de descrições
e) dissertativo, com exclusão de argumentos

5. (FAZLES-SP) “A vizinhança limpou com benzina suas roupas domingueiras”
(Alcântara Machado) Indique o termo que denota ambiguidade:
a) suas c) benzina e) limpou
b) vizinhança d) com
6. (UNICAMP-SP) Qual a frase com erro de concordância?
a) Para o grego antigo a origem de tudo se deu com o Caos.
b) Do Caos, massa informe, nasceu a Terra, ordenadora e mãe de todos os seres.
c) Com a Terra tem-se assim o chão, a firmeza de que o homem precisava para seu
equilíbrio.
d) Ela mesma cria um ser semelhante que a protege: o Céu.
e) Do Céu Estrelado, em amplexo com a Terra, é que nascerá todos os seres viventes.

7. 4ITA-SP) Assinale a alternativa em que a pontuação esteja correta.
a) Ele não virá hoje; não contem, portanto, com ele.
b) O reitor daquela famosa universidade italiana, chegará aqui amanhã.
c) São José dos Campos 15 de março, de 1985.
d) Quero que, assine o contrato.
e) Qualquer bebida que, contenha álcool, não deve ser tomada por você.

“Nas questões seguintes, escolha a que mais diretamente se relacione, pelo sentido, com o vocábulo proposto.
8. (F.C. Chagas-SP) ataraxia
a) atrocidade, frieza c) indolência, preguiça e) tranquilidade, apatia
b) imobilização d) perda de peso

9. (F.C. Chagas-SP) epitalâmio
a) canto nupcial c) hino religioso e) sátira
b) enigma d) inscrição tumular

10. (F.C. Chagas-SP) erradio
a) cheio de erros c) errante e) pecaminoso
b) dogmático d) falível

“1, (UNICAMP-SP) Substitua a palavra destacada no trecho transcrito abaixo por outra que garanta o mesmo sentido ao texto (você poderá ainda fazer outras modificações, se as julgar indispensáveis).

“Se não chegam a configurar um processo de radicalização verbal e de
alarmismo deliberado, ainda assim são preocupantes e lamentáveis as declara-
ções do ministro da Indústria e Comércio, Roberto Cardoso Alves, de que parti-
dos como o PT eos PCs não deveriam ter existência legal, por não possuírem, na
A estruturação de um período já foi, com muita propriedade, comparada à
articulação de um esqueleto com seus vários ossos. Da mesma forma que de uma
articulação de ossoopinião do ministro, compromisso com a democracia.”

A estruturação de um período já foi, com muita propriedade, comparada à
articulação de um esqueleto com seus vários ossos. Da mesma forma que de uma
articulação de osso
resulta uma articulação de pensamentos, lembra-nos o prof. Mattoso Câmara.

Como vimos no capítulo 10, a redação de um período envolve o conhecimen-
to das relações existentes entre as orações que o formam: a coordenação e a su-
bordinação. A seguir, aprofundaremos nosso conhecimento desses dois proces-
sos básicos.


                                      A COORDENAÇÃO DE IDEIAS

    Observe esse período tirado do texto de Dante Moreira Leite:

  “Ele não se veste como nós, a sua fisionomia pode ser diferente da nossa e não adora nossos deuses.”
   Nele, o autor, ao referir-se ao estrangeiro, expressa três pensamentos: ele (o estrangeiro) não se veste como nós; a fisionomia do estrangeiro pode ser diferente da nossa; (o estrangeiro) não adora os nosso deuses.

   Nesses três pensamentos expressos através de orações, não se percebe queo autor tenha dado maior importância a um que a outro. Eles aparecem encadeados sem que um deles predomine sobre o outro.
   Esse efeito é resultante do processo sintático que o autor utilizou para relacionar as orações: a coordenação.
   Na coordenação, não há dependência sintática: as orações se relacionam pelo sentido sem que haja entre elas uma hierarquia.
   Quando você faz uma descrição, a coordenação é muito útil para apresentar os detalhes daquilo que você descreve, permitindo ao leitor uma visão do todo sem que haja predominância de um detalhe sobre outro. Veja:

     Era alta, tinha cabelos loiros, os olhos eram azuis e costumava usar roupas brancas.

    Na narração, a coordenação nos permite apresentar a sequência de ações da personagem. É importante que você perceba que, na coordenação, embora não haja dependência sintática, as orações se dispõem em uma certa ordem, como no
exemplo abaixo:

      Acordou bem cedo, vestiu-se rapidamente e saiu para o trabalho.

   Veja que, embora independentes, a ordem em que essas orações coordenadas aparecem no período não pode ser alterada, pois prejudicaria o sentido da
frase.
   A coordenação é muito útil quando queremos enumerar fatos, ações ou ideias.
   Na coordenação, as orações podem vir relacionadas por conectivos (as conjunções coordenativas), que estabelecem entre elas dependência semântica.
    As orações coordenadas podem indicar as seguintes idéias:
adição ou concatenação: Jorge acordou cedo e saiu apressado.
oposição ou contraste: Saiu apressado, mas não estava preocupado.
alternância: ora estava preocupado, ora estava distraído.
conclusão: estava doente, portanto não pôde comparecer.
explicação: Vá correndo, que já é tarde.
  Na dissertação, a coordenação assume importante valor expressivo principalmente quando argumentamos, pois com frequência enumeramos, explicamos ou damos ênfase a um contraste. No texto de abertura encontramos um bom exemplo de concatenação de ideias:

    “...na reação ao grupo estranho: uma de admiração e aceitação, outra de desprezo e recusa.”

     Outro tipo de relação muito comum na argumentação é a de explicação, como nos exemplos abaixo:

    “A participação em nosso grupo provoca sentimentos de segurança e bem-estar, pois supomos entender...”

     “E nisso talvez a linguagem desempenhe um papel fundamental, pois os homens geralmente são incapazes...”

     Já na conclusão, como o próprio nome indica, estabelece-se uma relação conclusiva, via de regra introduzida pela conjunção portanto.

                                    A SUBORDINAÇÃO DE IDEIAS

    Na subordinação a relação entre as orações é mais íntima, já que há entre elas uma relação não só de dependência de sentido, mas também de dependência sintática: uma oração não sobreviveria sem a outra, o que torna o período composto por subordinação mais coeso.
    Veja o exemplo tirado do texto de abertura:

     “Sentimos que aqueles que mais nos conhecem são também capazes de ignorar o que de melhor trazemos conosco. ”

   A relação entre as orações é tão estreita que cada uma delas não tem sentido algum quando isolada: só fazem sentido quando tomadas em relação ao todo.
    As orações subordinadas são utilizadas para:
1) complementar a significação de outra oração (chamada principal):
    Era necessário que todos comparecessem à reunião.
2) ampliar o sentido de um nome:
Não encontramos as pessoas que deveriam nos indicar o caminho.
3) indicar alguma circunstância:
Não visitamos aquela praia quando lá estivemos.
    As orações subordinadas que indicam circunstâncias são muito úteis para
caracterizar um fato que está sendo narrado, já que podem indicar diversas circunstâncias de um mesmo fato. Veja:

                                           enquanto os outros saíam. (tempo)
                                           onde deveria ficar. (lugar)
Luciana ficou                      porque não quis sair. (causa)
                                           a fim de não prejudicar os demais. (finalidade)

     Em geral, a construção de períodos pressupõe a ocorrência simultânea dos processos sintáticos de coordenação e de subordinação; pode-se, por exemplo, utilizar a coordenação para ligar orações subordinadas, como no exemplo tirado do texto de Dante Moreira Leite:

      “Além disso, o local em que nascemos e crescemos, a paisagem que conhecemos, tudo isso parece constituir um universo próximo E = go, cujo reencontro é sempre uma alegria e uma consolação”.

     Observe que as orações subordinadas que ampliam a significação do nome estão coordenadas entre si: em que nascemos e crescemos.