sexta-feira, 11 de agosto de 2017

TOP 10 - AS DEZ PRINCIPAIS DICAS DE QUEM JÁ CHEGOU LÁ

Você vai conhecer agora três candidatos que alcançaram nota máxima na prova do Enem. Fizemos a eles as perguntas mais decisivas: como se prepararam? quais são as suas dicas? O que fazer para superar a ansiedade da página em branco, na hora e escrever?

Carlos Eduardo Lopes Marciano, autor da redação nota mil "O verdadeiro preço de um brinquedo", que você leu algumas páginas atrás. Ele passou para o curso de Engenharia.

Isabela Cruz. A redação que ela apresentou foi utilizada no Guia do Candidato do Enem, para indicar o que é um texto nota mil. Agora a estudante de Medicina desvenda como chegou a isso e como você pode fazer o mesmo.

João Pedro Maciel Schlaepfer, autor da redação nota mil "Quem Sabe o que É Melhor para Ela ?". Ele entrou no curso de Letras.
Eles abrem o jogo e, com muita generosidade, dão o caminho das pedras para quem está se preparando para enfrentar o mesmo desafio. Várias destas dicas podem ser aplicadas no seu dia a dia. Faça isso: a nota mil que eles alcançaram é a prova de que seus métodos funcionam.

1. A  melhor  estratégia  é  a  prática

ISABELA CRUZ: A melhor estratégia para superar o nervosismo na hora da prova é, defi-nitivamente, a prática. Quando você sabe que deu o seu melhor, se esforçou bastante e treinou vários temas diferentes, começar a escrever deixa de ser difícil.
Fiz o Enem exatamente na época em que a maioria das faculdades aderiu a ele e os vestibulares, como o da UFRJ, acabaram. Assim que fiquei sabendo da importância da prova para minha aprovação, passei a focar grande partir dos meus estudos em como elaborar uma boa redação.
Na minha própria escola, eu tinha aulas específicas de redação, mas, fora isso, eu con-versei bastante com a minha professora e ela me ajudou muito. Assim, fazia, pelo menos, uma redação por semana e ela a corrigia, fazendo com que eu conseguisse ir moldando o meu texto ao que seria exigido pelos corretores, o que me ajudou bastante.
Além disso, como eu escrevia muitas redações, consegui abordar uma grande diversidade de temas, incluindo várias propostas de provas antigas. Por sorte, o tema escolhido para a minha prova era bastante parecido com um que eu já tinha feito, o que me deixou muito mais tranquila no momento da prova.

CARLOS EDUARDO LOPES MARCIANO: Durante os anos de colégio, treinei diversos temas de redação em sala. É necessário estar preparado para qualquer tema possível, desde o mais elementar  até o mai desconhecido.
Mesmo que seja um assunto sobre o qual ninguém de sua sala ouviu falar, eu garanto ser completamente possível dissertar sobre ele de forma inteligente e esclarecedora. Isso só é possível através do treino: escolher um tema aleatório e tentar criar uma redação argumen-tativa é uma boa ideia para exercitar a técnica.
Lembro-me de ter pego o assunto "lixo urbano" ao acaso, um tema que não é muito difícil, e tentado escrever um texto. No início, achei que não ficaria tão bom, mas, quando termi-nei, fiquei bastante satisfeito. Depois, fui procurar na internet outros argumentos, pontos de vista e citações que eu poderia ter usado, a fim de aperfeiçoar esse mesmo tema caso, no futuro, eu tenha que dissertar sobre o assunto novamente.

JOÃO PEDRO MACIEL SCHLAEPFER: Minha preparação foi conturbada. Concluí o terceiro ano do ensino médio em 2012. Saí do colégio diretamente para uma universidade pública, em que cursava Geografia. Trabalhei no mesmo período naquele colégio como monitor. O exercício da escrita nunca esteve ausente, embora eu tenha ficado, depois desse vestibular, dois anos sem praticar a redação dissertativo-argumentativa.
Enquanto estive na escola, cumpri meus deveres, o professor não dá aquelas dicas à toa. A nota, porém, só veio dois anos mais tarde, quando eu já tinha desistido da primeira graduação e não estava mais em curso pré-vestibular. Pautei-me mais nos critérios de correção do que na escrita propriamente dita.

2. O  valor do conteúdo

CARLOSEDUARDOLOPES MARCIANO: Sempre procuro colocar pelo menos uma refe-rência histórica. Outra técnica útil é citar uma autoridade no assunto. Apesar de eu não ter feito isso nesse texto em específico, é algo que rende muitos pontos.
Apesar de sempre ter gostado de escrever e, principalmente, conseguir  ser compreendido quando escrevo, existem várias alternativas de preparo para a criação de um bom texto.
Por exemplo: no currículo do ensino médio, existem matérias de humanas como história, geografia, filosofia e sociologia. Apesar de a prova do Enem ter questões relativas a essas disciplinas, é necessário perceber que todas elas também são de grande serventia na hora da redação. Citar um evento histórico como argumento ou parafrasear um pensador relacionado à sua tese pode ser a chave para um bom desempenho.
Por isso, é preciso destacar a enorme importância dessas matérias na hora de elaborar um texto e, consequentemente, dedicar uma atenção especial a essas aulas.
Cheguei a criar um documento com várias citações que poderiam ser úteis na hora de criar um texto. À medida que lia algo que achava que podia ser útil, eu adicionava à lista. No dia anterior à prova de redação, reli essas anotações na tentativa de lembrar de usá-las.

 3. Bagagem de leitura e experiências aparece na prova

JOÃO PEDRO MACIEL SCHLAEPFER: "Dica" é um tanto complicado. Além do básico de praticar a escrita, acredito que o aluno a caminho da prova deve admirar a paisagem. É óbvio que a questão de estudar, para a redação, português e técnica de dissertação-argumentativa é fundamental, mas a parte que compete à redação não trata apenas de conteúdo gramatical.
Fiz a brincadeira ao mencionar a paisagem, pois o tema da prova pode coincidir de ser discutido previamente em aula, independentemente desse debate anterior. Para mim, é uma forma de exercício de lógica. Qual a dica então? Talvez, ser curioso. Cada um da sua forma e no seu campo de interesse.
Essa bagagem herdada de qualquer experiência vai servir para alguma função, apareça ou não diretamente no texto. Pode ser que saia numa forma de raciocínio, num caminho de argumentação menos comum, num sistema de analogias ...

ISABELA CRUZ: Ler bastante, seja jornais, revistas, sites ou livros, é uma ótima estratégia para uma boa redação. Com isso, seus textos ficarão mais bem escritos e você pode evitar erros de ortografia, que são bastante mal vistos pela banca.

CARLOS EDUARDO LOPES MARCIANO: É necessário lembrar que absolutamente nenhum tema é impossível. Mesmo que você se depare com um assunto jamais visto antes, acredite: será completamente possível dissertar sobre ele através da bagagem adquirida durante o ensino médio.
Um exemplo é o Enem 2012, cujo tema de redação foi "A imigração para o Brasil no sécu-lo XXI". Apesar de não ser um assunto muito comentado na maioria dos colégios, é perfei-tamente possível utilizar aquilo que foi aprendido em aulas de geografia ou história para a criação de um texto coerente e com bons argumentos.
Tente se lembrar de absolutamente tudo que você viu em aulas de história, geografia, fi-losofia e sociologia. Todo argumento pode ser válido, desde que seja escrito de forma co-erente.
Por exemplo, em minha redação, consegui relacionar o surgimento da imprensa à publici-dade infantil e, ao mesmo tempo, enriquecer o meu texto. À primeira vista, podem parecer assuntos muito distintos, mas, acompanhados de uma argumentação bem estruturada, clara e coerente, conseguem ser facilmente relacionados.

4. Treinar  o  tempo  de  escrita

ISABELA CRUZ: Um ponto importante é treinar o tempo de escrita. Na minha prova, reservei uma hora para o texto, nem um segundo a mais. Escrever o rascunho e a redação nesse tempo foi um trabalho árduo, nas minhas aulas eu cheguei a ter que fazer uma redação em vinte minutos só para poder praticar. E deu certo, usei o tempo todo reservado sem  precisar me estender muito e perder minutos preciosos durante a prova.

CARLOS EDUARDO LOPES MARCIANO: É crucial aproveitar praticamente todo o tempo do exame. Sair cedo geralmente indica que algo deu errado. Faça a prova com calma, se preocupando apenas se você não está excedendo o tempo de cada questão. Eu, por e-xemplo, fui dos últimos a sair no dia em que escrevi a redação nota mil e tive que assinar a pauta de sala.  correr Lembro que, por ter demorado 1h30 na redação, tive que correr um pouco durante a prova. É normal, imprevistos acontecem..

5. Como  organizar  o  texto

CARLOS EDUARDO LOPES MARCIANO: Sempre divido o texto em quatro partes: uma introdução que termine em pergunta retórica; um parágrafo com um argumento; outro pará-grafo com outro argumento; e uma conclusão, que, no caso do Enem, precisa de propostas de intervenção.
Para as propostas, sempre uso pelo menos duas, sendo que ambas devem ser bem explicadas e desenvolvidas.

ISABELA CRUZ: Saber a estrutura dos tipos de textos que podem cair em uma prova de vestibular é fundamental, ou seja, saber exatamente como estruturar o seu texto. É funda-mental pensar sempre na proposta de resolução, pois ela conta pontos muito importantes na hora da correção.

6. Usando a linguagem a seu favor

CARLOS EDUARDO LOPES MARCIANO: Usar muitos adjetivos é uma boa técnica para enriquecer uma proposta, como eu fiz no meu texto. Uma dupla de adjetivos (como "abu-sivas e inadequadas" ou "compreensível e responsável", vistas no meu último parágrafo) são artifícios que sempre uso nas minhas redações.
Uma dica é o uso inteligente da vírgula: marcar as pausas no texto é algo essencial para que o corretor compreenda o que você quer dizer. Ler o texto na sua mente para ver se suas pausas estão bem colocadas é algo necessário na hora de escrever uma redação.

ISABELA CRUZ: Para conseguir construir um texto bem elaborado há que praticar o má-ximo possível e prestar atenção ao que os avaliadores podem exigir d você na hora da cor- reção. Por exemplo, fazer um bom uso de conectivos para ligar os parágrafos da redação entre si é fundamental para a coesão do texto. Os avaliadores tendem a valorizar um texto fluido e bem estruturado.

7. Superação do nervosismo começa antes da prova

CARLOS EDUARDO LOPES MARCIANO: A superação do nervosismo começa antes da prova. É importante chegar uma hora antes do início para garantir um bom lugar, se acostumar com a sala, respirar e se acalmar um pouco.

ISABELA CRUZ: Deixar o nervosismo de lado na hora da prova é indispensável, não só na redação, mas também nas provas de múltipla escolha. Tirar o dia anterior ao exame para relaxar ou fazer algum programa leve funcionou muito bem para mim. Tudo o que você deveria estudar já foi estudado ao longo do ano inteiro, resolver revisar a matéria inteira nas horas antes da prova só causa mais estresse e ansiedade em relação à prova, então evite.

8. Métodos que funcionam na hora da prova

CARLOS EDUARDO LOPES MARCIANO: Vou detalhar como escrevo uma redação. Durante os primeiros 15-20 minutos, fico simplesmente olhando para a folha de papel em branco e tentando formular uma tese, que deve ser defendida até o final. Para isso, come-ço a escrever na parte de cima da folha os possíveis argumentos a serem utilizados, sem-pre procurando no mínimo uma referência histórica. O modelo de parágrafos que sigo é Introdução - > Argumento 1 - > Argumento 2 - > Conclusão. Após aproximadamente meia hora, já consigo ter o texto mais ou menos montado na minha cabeça, e, seguindo as ano-tações que fiz na folha de rascunho, começo a criar uma redação. Ao fim, releio, faço di-versas alterações e transcrevo o texto para a folha oficial.

9. Vencer a ansiedade diante da página em branco

JOÃO PEDRO MACIEL SCHLAEPFER: De todas, essa é a parte mais difícil. Cansei de ver, como monitor, excelentes alunos, com redações quase impecáveis, que voltavam das provas contando más experiências. Simulado ajuda muito na preparação, mas, não importa quantos sejam feitos, nada é igual à prova de verdade, sobretudo com a pressão e com uma barreira: redigir.
É difícil ver que a única pessoa que pode preencher aquela folha é você. Como foi para mim? Demorado. Aquele não foi meu primeiro vestibular, foi o quinto, além do Enem, tentava mais alternativas.

CARLOS EDUARDO LOPES MARCIANO: Bloqueios criativos são normais. É comum não conseguirmos achar um bom argumento para o tema em questão. Porém, a minha única dica nesses casos é não desistir.
Acredite: mais cedo ou mais tarde você pensará numa argumentação que irá garantir uma ótima nota. Esqueça o tempo por um momento e apenas pense.

ISABELA CRUZ: Se na hora der um branco, comece com qualquer coisa, nem que seja uma ideia ruim que pode nem entrar na sua redação final. Só o fato de colocar a cabeça para funcionar e começar a escrever algo já funciona para diminuir a ansiedade.
Para ajudar um pouco, fazer uma espécie de brainstorming e colocar todas as suas ideias ligadas àquele tema no papel facilita bastante. Eu, particularmente, comecei a prova olhando o tema, escrevendo as principais ideias sobre ele, e passei para a prova.
No final, com as questões já resolvidas, voltei para a redação, e, como minhas ideias já estavam no papel e tive um certo tempo para amadurecê-las no decorrer da prova, come-cei a escrever o texto com tranquilidade e ainda sobrou um certo tempinho no final.

10.  Cada pessoa tem seu ponto de equilíbrio

JOÃO PEDRO MACIEL SCHLAEPFER: Cada pessoa tem sua excentricidade, e, geral-mente a partir dela, descobre seu ponto de equilíbrio para poder acalmar-se e diminuir o peso que é colocado sobre cada um (e costumamos aceitar) ao longo do ano.
Descobri a respiração, o relaxamento. Parece contraproducente, mas repetidas vezes no decorrer da prova parava, olhava para os lados, bocejava, pensava em coisas comple-tamente aleatórias, dava um jeito de transporta minha cabeça para outro lugar e só re-tornava uns minutos depois.
Reparei que havia muito desespero, uma luta contra o relógio, que também pesa ao ver a folha em branco. É preciso pensar, problematizar um certo tema, tomar uma posição e organizar as ideias, contextualizá-las, desenvolvê-las, fazer uma proposta de solução e concluí-las em cinco horas. Não, uma só, tecnicamente as outras quatro são para o res-tante da prova. Paro, e respiro.
                                    
(Andrea Ramal – Redação Excelente para Enem e Vestibulares – ED. Método, 2016)